Sindicalistas assassinados à bala, vítimas de bombas na porta de suas casas ou das entidades em que atuavam, perseguidos e presos a caminho do trabalho ou participando de um simples piquete ao lado de seus companheiros. Infelizmente, este é o retrato do confronto entre capital e trabalho, agudizado nesta época de crise dos países desenvolvidos, que se desdobra sobre os ombros dos trabalhadores com invulgares requintes de crueldade.
Na África e na Ásia, os ataques do capital transnacional com a anuência ou participação ativa de vários governos submissos, têm potencializado a superexploração da classe trabalhadora, minguando salários e direitos enquanto intensifica o ritmo e expande jornadas.
Até mesmo no velho continente, a Europa, outrora palco de inegáveis avanços sociais e relações democráticas, a exclusão da classe trabalhadora e os atropelos ao tripartismo têm sido cada vez mais constantes. Na essência, buscam uma “democracia” sem o contraditório, alijada da livre participação das grandes maiorias, condenadas ao “sim, senhor”.
Para não abrir o leque, vou deter-me nas denúncias da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), concentrando a abordagem no continente aonde governos de países como Colômbia, Guatemala, Honduras e Paraguai teimam em dar as costas ao futuro. Mais que isso, insistem teimosamente numa volta ao passado, procurando cobrir com um manto de sangue e tragédia a busca do novo, o caminho do diálogo, ao criminalizarem um direito humano básico como a sindicalização.
Sem mortes, mas com invulgar repressão, os Estados Unidos chegaram a contabilizar 500 prisões em uma única onda de protesto dos trabalhadores de fast-food, impedidos pelas redes McDonald’s, Burger King e KFC até mesmo de se sindicalizar. No dia 2 de setembro, policiais militares reprimiram com invulgar dedicação e empenho protestos em defesa de um salário decente, pelo direito à sindicalização e por melhores condições de trabalho. A manifestação pacífica, que se espalhou por 150 cidades e contagiou outras categorias, foi tipificada pela “Justiça” como “desobediência civil”.
A lista de abusos e atropelos é bastante longa – e, graças à impunidade, não para de crescer – por isso nos limitamos a dar eco a denúncias de fatos ocorridos recentemente.
No Paraguai, durante uma manifestação por melhores salários e por 7% do PIB para a educação pública, foram baleados por policiais no dia 28 de agosto o presidente da Federação de Educadores, Silvio Piris, o secretário geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas, Santiago Ortiz, e o secretário geral da OTEP-Autêntica, Juan Gabriel Espínola. Hospitalizados, estão em plena recuperação e prontos para voltar à luta.
Outros sindicalistas de nossa América infelizmente não tiveram a mesma sorte. A secretária geral da Confederação de Trabalhadores de Honduras, Rosa Altagracia Fuentes foi assassinada com 16 tiros. Ela foi morta ao lado de Virginia García de Sánchez, dirigente da União de Mulheres Camponesas de Honduras (UMCAH) e do motorista que as conduzia à cidade de Progresso.
Na Colômbia, Diego Osório, de apenas 22 anos, membro da União de Trabalhadores Penitenciários, teve o carro interceptado nas primeiras horas da manhã, próximo a sua residência, sendo alvejado com quatro tiros na cidade de Cúcuta. José Onofre Esquivel Luna, dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria Alimentícia, e funcionário da Nestlé, foi vítima de um atentado em Medelín, e outros dois sindicalistas tombaram alvo de ataques nas cidades de Barrancabermeja e Cartagena
Na Guatemala, caíram brutalmente assassinados os dirigentes sindicais Gabriel Enrique Ciramagua Ruiz, secretário de Organização da Municipalidade de Zacapa e Joaquin Chiroy, fundador e secretário geral adjunto do Sindicato de Vendedores e Similares do Mercado Municipal de Sololá.
Ao entregarem generosamente suas vidas pela construção de uma nova sociedade, estes companheiros e companheiras se converteram em exemplo e fonte de inspiração para o bom combate. Vamos honrar seus passos com nossa unidade, organização e mobilização, fazendo da ação coletiva o motor das grandes transformações.
Que frente a esta violenta orquestração do capital em aliança com governos antidemocráticos, façamos com que as próximas reuniões do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho transformem nossas denúncias em ação, colocando fim à barbárie.
Todos juntos, à luta e à vitória.
João Felício
Presidente da CSI