Bancários de todo o Paraná estiveram reunidos na Associação Banestado, no litoral do estado, para apontar problemas, debater reivindicações e definir estratégias para a Campanha Salarial Nacional da categoria. Os resultados do evento (ler reportagem “Bancários do Paraná querem 5% de aumento real”) serão levados pelos delegados eleitos para a Conferência Nacional, que ocorre entre os dias 25 e 29 de junho, em São Paulo.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, Otávio Dias, ressaltou a importância do debate sobre contratação de remuneração total, que implica não apenas no reajuste salarial com ganho real (parte fixa), mas em programas de remuneração variável, aumento nos valores de benefícios como vales alimentação e refeição e PLR. A idéia é de que as verbas da remuneração variável hoje sejam incorporadas ao salário e que este passe a incidir sobre os benefícios do trabalhador (férias, 13º salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, entre outros) bem como em caso de demissão estes valores façam parte do cálculo de rescisão.
Otávio Dias lembrou ainda que este um ano eleitoral e que isto interfere diretamente no andamento das negociações, já que os banqueiros se aproveitam do cenário político para retardar ou acelerar o ritmo das discussões.
Para Geraldo dos Santos (Ceará), do Sindicato dos Bancários de Londrina, esta campanha deve dar especial atenção à manutenção da jornada de seis horas e a criação de dois turnos de trabalho. O bancário destacou ainda que a luta pela valorização do piso da categoria se torna cada vez mais urgente e essencial.
Já o bancário Neil Emídio Júnior, do Sindicato de Paranavaí, lembrou que a grande imprensa tem veiculado reportagens apontando que os reajustes salariais são um dos fatores que pressionam a inflação. “Afirmam que a culpa da inflação é do trabalhador que conseguiu aumento real, o que é uma mentira. Ao contrário, não somos culpados e sim vítimas”, diz. O ICV/Dieese projetado para a data-base dos bancários de 7,84% torna a negociação salarial mais complicada e requer maior organização e mobilização da categoria.
“A comparação entre a produtividade nacional e o rendimento médio dos assalariados comprova uma situação injusta. Os ganhos não são divididos com seus principais autores, os trabalhadores”.
O representante da Contraf/CUT , Wanderley Crivellari, reafirmou a mesa única de negociação e a unidade do Comando Nacional como estratégia e princípio. “A Contraf chama à unidade insistentemente, independente das centrais sindicais, visando o fortalecimento dos trabalhadores bancários”. E completou: “O Paraná sempre levou sugestões e colocações essenciais para o debate nacional, desta vez não será diferente”. Crivellari mencionou ainda a preocupação da categoria e da Contraf em regulamentar o artigo 192 da Constituição que trata do papel dos bancos e do controle social do sistema financeiro e a luta pela convenção 158 (que proíbe as dispensas ou demissões imotivadas).
Ao presidente da FETEC-CUT-PR, Beto Von der Osten coube a saudação inicial e final onde lembrou os companheiros Dodô, Leitão e Paulinho Pochnek, influentes dirigentes sindicais, já falecidos, que muito contribuíram para a construção da luta dos trabalhadores bancários.
Mapa da Diversidade também foi destacado na Conferência
Na manhã de sábado (12), as bancárias Eliana Maria dos Santos e Maria de Fátima Costamilan, secretária da mulher junto à CUT e de políticas sociais na FETEC-CUT-PR, respectivamente, destacaram a importância do Mapa da Diversidade. Maria de Fátima exaltou a iniciativa, afirmando que a medida oficializou uma luta antiga do movimento dos trabalhadores bancários. A trabalhadora bancária declarou que 16 bancos participaram do levantamento. O questionário ficou disponível por 45 dias nos sites das empresas e na Febraban. “Mais de 50% dos bancários responderam as questões, mas ainda não temos a sistematização dos resultados. Entretanto, estas estatísticas não podem ficar no papel. Precisam gerar estratégias, ações e projetos para a desconstrução da desigualdade nos bancos. É a nossa vez de impor metas aos nossos empregadores”. Maria de Fátima citou que 25% da população economicamente ativa no Paraná é composta por negros, porém o índice de contratação de negros é de apenas 1,5%. Afirmou ainda que, embora metade da categoria bancária seja composta por mulheres, apenas 11% dos cargos estratégicos dos bancos são ocupados por elas.
Bancários do Paraná querem 5% de aumento real
Bancários de todo o Paraná debateram no dia 13 de julho, durante a 10ª Conferência Estadual dos Bancários, as reivindicações coletadas junto aos trabalhadores de suas bases. Após ampla discussão, a plenária aprovou um índice composto pela inflação do período mais 5% de ganho real. Todas as propostas serão apresentadas e discutidas na Conferência Nacional, evento que determina a minuta da categoria. A previsão é de que minuta seja entregue à Fenaban na primeira quinzena de agosto.
Os principais debates no evento foram em torno da contratação de remuneração total, regra da Participação nos Lucros e Resultados e índice.
Outras reivindicações aprovadas
Os bancários também aprovaram como reivindicação um Plano de Cargos e Salários para todos, aumento do piso salarial, reajuste do vale alimentação para fazer frente à alta dos preços dos gêneros alimentícios, ampliação da licença maternidade de 4 para 6 meses e paternidade de 5 para 15 dias, auxílio-creche de R$ 415, entre outras.
Definidos membros do Comando Nacional
Assim como no ano passado, os trabalhadores bancários Otávio Dias, do Bradesco, presidente do Sindicato de Curitiba e Região e Roberto Von Der Osten, do Itaú, presidente da FETEC-CUT-PR, representarão os bancários da capital e do interior do Paraná no Comando Nacional. É o comando que negocia as reivindicações da categoria junto aos representantes dos bancos (Fenaban).
Exposições
Roni Barbosa fez a análise política no evento
O presidente da CUT/PR, Roni Barbosa, prestigiou a 10ª Conferência Estadual dos Bancários na manhã do dia 12. Roni lembrou a importância das campanhas pela ratificação da Convenção 158 da OIT, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários, pela substituição do imposto sindical pela contribuição negocial e as lutas contra o fator previdenciário, a reforma da previdência e as tercerizações.
O petroleiro enfatizou o problema da alta rotatividade no mercado do trabalho no país. “O trabalhador brasileiro desempregado demora um ano para conseguir um novo emprego e neste recebe, em média, 10% a menos de salário”. Roni lembrou que a renda dos trabalhadores brasileiros já significou 50% do Produto Interno Bruto, hoje é 38%.
Sobre a Convenção 158, Roni destacou a dura derrota que os trabalhadores receberam no início de julho quando a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional votou e foi contra a ratificação da medida que proíbe as dispensadas imotivadas de trabalhadores.
O presidente da CUT/PR falou ainda sobre o cenário de disputa entre as centrais especialmente após seu reconhecimento, destacando que 42% dos trabalhadores do país estão em sindicatos filiados a CUT.
Para finalizar, Roni afirmou que é necessário reafirmar o compromisso de construção de uma sociedade justa, socialista e democrática e destacou a frase tema do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, “Nenhum de nós tão bom, quanto todos nós juntos”.
O fantasma da Emenda 3
Ao discursar na 10ª Conferência Estadual dos Bancários, Roni Barbosa lembrou a forte mobilização dos trabalhadores contra a Emenda 3. Atrelada ao projeto de lei que criou a Super Receita, a emenda determinava que se um fiscal do trabalho encontrar relação de trabalho irregular em uma empresa, não poderia autua-la imediatamente. Teria que esperar uma decisão da Justiça do Trabalho. Na prática, a medida flexibilizava as leis trabalhistas ao reduzir a fiscalização sob contratação de trabalhadores como pessoa jurídica e até mesmo trabalho escravo. “Vencemos, mas a Emenda 3 não morreu ainda e necessidade de nossa atenção. Há grande pressão para aprovação desta proposta”, afirma.
Dieese: em 13 anos, o lucro dos bancos cresce 2502,7%
No sábado, 12 de julho, o economista Fabiano Camargo da Silva, do Dieese/PR, fez uma análise da conjuntura econômica no Brasil e dos bancos no país. De acordo com Camargo, a variação do rendimento dos bancos de 1994 até 2007 foi de 2502,7%. Por outro lado, a variação nas despesas com pessoal no mesmo período foi de apenas 138,5%.
Sobre o emprego, Camargo afirma que o setor bancário acompanhou a tendência de crescimento dos empregos formais em todo o país. Nos 5 primeiros meses de 2007, foram criados 1.051.946 empregos no Brasil, 5.987 no setor bancário. Atualmente, existem 454.420 trabalhadores bancários no país.
Inflação
O aumento da inflação é motivo de preocupação para os trabalhadores, mas Camargo afirma que, apesar da alta impulsionada principalmente pelo aumento do preço dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está dentro do controle. A expectativa é que a inflação feche este ano em 6,4%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado para a data-base da categoria bancária, referente ao mês de setembro, está projetado em 7,29%.
De acordo com Camargo, quatro fatores influenciaram o aumento dos preços dos alimentos: o aumento da demanda internacional, a especulação no mercado de commodities agrícolas, questões climáticas e o aumento do valor do petróleo, que serve de base para insumos agrícolas.
Aumenta número de vagas na capital
Até 1999, a proporção de trabalhadores bancários contratados era de um para um entre a capital e o interior. Hoje, 60% das vagas abertas estão na capital. A regra apenas não se aplica na Caixa Econômica, devido aos programas sociais sob responsabilidade da instituição.