Postura de Moro já incomodava procuradores do Ministério Público Federal

: Novas conversas reveladas trazem criticas de quem trabalhava diretamente com o ex-juiz

As novas conversas divulgadas pelo The intercept, na noite de sexta-feira (28), mostram que a imagem do ex-juiz Sérgio Moro já não era das melhores entre os procuradores do Ministério Público Federal com quem trabalhou. O que o Brasil começou a descobrir, desde o início da série de reportagens, os colegas do atual ministro da Justiça já sabiam há muito tempo: Moro violava constantemente a lei, por ter uma agenda pessoal e política. Para eles, Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria.

“Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, disse a procuradora Monique Cheker em 1º de novembro, uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro para se tornar ministro da Justiça. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato lamentavam que, ao aceitar o cargo (algo que ele havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a legitimidade e o legado da operação. Os óbvios questionamentos éticos envolvidos na ida do juiz ao ministério poderiam, afinal, dar maior credibilidade às alegações de que a Lava Jato teria motivações políticas.

Um dia antes do anúncio de Moro, em 31 de outubro, quando circulavam fortes boatos de que Moro participaria do governo Bolsonaro, a procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, escreveu no grupo Filhos do Januario 3: “Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo.”

A procuradora Laura Tessler, também da força-tarefa, concordou com a avaliação: “Tb acho péssimo. MJ nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a LJ. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o Moro queima a LJ”. Outro procurador da operação, Antônio Carlos Welter, enfatizou que a postura de Moro era “incompatível com a de Juiz”.

A reportagem mostra ainda que, na noite da votação pelo segundo turno das eleições, antes de ser anunciado o resultado, procuradores da Lava Jato e outros membros do MPF se mostraram irritados no grupo “BD” com a esposa de Moro. Mesmo depois de o ex-juiz já ter “cumprimentado o eleito”, Rosângela Wolff Moro comemorou explicitamente a vitória de Bolsonaro em suas redes sociais e causou indignação. “Erro crasso”, “perde a chance de ficar de boa” e “esse povo do interior é muito simplório”, foram expressões usadas para mostrar a sensação entre os integrantes do Ministério Público, Moro teria ido longe demais.

Deltan também passava dos limites

O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol atuou em outubro de 2018 para tentar prejudicar o petista Jaques Wagner, quando ele se elege senador pela Bahia. Segundo informou a coluna da Jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, na madrugada deste sábado (29), Dallagnol queria, a quatro dias do segundo turno, “acelerar ações” contra o petista, como uma medida de busca e apreensão, “por questão simbólica”.

Mais do manipular o processo criminal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os diálogos divulgados pelo The Intercept mostram que a intenção do procurador era interferir no sistema eleitoral e, com isso, na democracia do país.

“Caros, Jaques Wagner evoluiu? É agora ou nunca… Temos alguma chance?”, pergunta o procurador em um dos diálogos. Alertado de que não haveria deferimento para pedido de busca e apreensão, Dallagnol afirma: “Acho que se tivermos coisa pra denúncia, vale outra BA (busca e apreensão) até, por questão simbólica”. E completa: “Mas temos que ter um caso forte”.

Advogados entrarão com uma representação contra Moro

A Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia vai entrar com uma representação no Congresso dos Estados Unidos contra o ministro da Justiça, Sergio Moro, pela sua atuação como juiz na Lava Jato. Segundo o membro da associação Adriano Argolo, em entrevista ao jornalista Glauco Faria para o Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (1º), Moro não violou apenas o sistema acusatório brasileiro – como reconhecem os próprios procuradores nas conversas reveladas pelo The Intercept Brasil – mas também envolveu instituições americanas, como universidades e o Federal Bureau of Investigation (FBI), induzindo-as ao erro.

Ele diz que as novas revelações sobre a atuação de Moro e os procuradores que explicitam a atuação político-partidária da Operação Lava Jato, com interferência inclusive nas eleições de 2018, caíram “como uma bomba” entre os parlamentares norte-americanos.

Entre os membros do Ministério Público Federal (MPF), existe grande insatisfação com a atuação da Lava Jato, a ponto um dos procuradores que participaram das conversas reveladas na última sexta-feira (28) ter confirmado ao jornal Correio Braziliense a autenticidade das mensagens, contrariando o posicionamento de Moro e de Deltan Dallagnol, que continuam questionando a veracidade do conteúdo revelado pelo The Intercept Brasil.

Ilegalidade da condenação de Lula

O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser anulado, defenderam neste domingo (30) os advogados de defesa do ex-presidente Cristiano Zanin e Valeska Martins. Os advogados divulgaram nota sobre a reportagem do jornal Folha de S.Paulo e do site The Intercept, que mostra diálogos entre procuradores para pressionar pela mudança do depoimento do empreiteiro da OAS Léo Pinheiro, no sentido de incriminar o ex-presidente.

Já os governadores do Nordeste divulgaram, na manhã deste domingo (30), uma carta sobre os diálogos entre membros do Judiciário e do Ministério Público, publicados pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de comunicação. No documento, eles cobram “a pronta e ágil apuração de tudo, com independência e transparência”.

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