O presidente da CUT, Artur Henrique, criticou na tarde desta terça, durante sessão da comissão mista do salário mínimo realizada no plenário da Câmara dos Deputados, a brutal diferença entre os lucros dos bancos e das grandes empresas instaladas no país, que crescem velozmente, e o lento processo de recuperação da massa salarial no país.
O presidente cutista chamou dessa maneira a atenção do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a postura de grande inflexibilidade adotada pelo governo em relação ao salário mínimo, enquanto o mercado continua acumulando ganhos exponenciais sem sofrer enfrentamento.
Para demonstrar o “que está realmente por parte do debate do salário mínimo”, o presidente da CUT citou alguns dados durante sua intervenção de quatro minutos (um além do tempo estipulado pela mesa diretora da sessão):
“O Bradesco teve lucro de 10 bilhões de reais em 2010. O Santander, de 7 bilhões. A Caixa Econômica Federal, de 3,8 bilhões. As 327 empresas brasileiras com ações na bolsa de valores tiveram aumento de seus lucros na casa de 48, 5% em relação ao ano retrasado. Enquanto isso, a participação dos salários na renda nacional saiu de 40,5% no ano 2000 para 41,9%. Absolutamente um pequenino aumento. Só para comparar: em países como os Estados Unidos, a Suécia, a Itália e Portugal, a participação do trabalho varia de 67% a 72% da renda nacional”.
“O que está em jogo aqui é que nós estamos discutindo uma política de distribuição de renda, de combate à miséria, um projeto de desenvolvimento sustentável que muito depende de aumentos reais sucessivos para o conjunto dos salários”, continuou Artur, que insistiu, por duas vezes, no aumento para R$ 580.
Já o argumento, muito utilizado pelo governo Dilma nos últimos dias, de que o salário mínimo deve ser contido para não alimentar a inflação, também foi criticado pelo presidente da CUT. “Ora, não estamos vivendo uma inflação de demanda no Brasil. O que estamos vivendo neste começo de ano, como acontece em todos os anos, é o aumento do transporte público, das mensalidades escolares, e a especulação internacional sobre as mercadorias, em função do consumo puxado especialmente pela China” disse, para em seguida ironizar a inutilidade da alta taxa de juros básicos adotada pelo Banco Central para o controle de inflação: “Nossa Selic não vai combater o consumo de outros países”.
Artur encerrou a fala recorrendo ao novo slogan do governo federal, como forma de lembrar o descompasso entre as promessas e a postura adotada diante do salário mínimo pelo mesmo governo: “País rico é país sem pobreza. R$ 580 reais já. Correção da tabela do imposto de renda e política de valorização das aposentadorias”.
Visão fiscalista – Na abertura da sessão, o ministro da Fazenda admitiu abertamente que não pretende aumentar o salário mínimo para além dos R$ 545 para não suscitar “dúvidas” no mercado.
“Nós não temos condições do ponto de vista fiscal de aumentar mais o salário mínimo”, disse Mantega. Insistindo na tese de que o mercado “desconfia que o governo vá realmente fazer o corte de R$ 50 bilhões”, anunciado recentemente, ele argumentou que se o concordar com um aumento maior para o salário mínimo, o risco de aprofundar ainda mais a desconfiança do mercado acabará se confirmando.
As críticas ao governo federal se sucederam. O deputado federal e presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, que pulou dos R$ 580 inicialmente defendidos pelas centrais para o valor de R$ 560, dirigiu-se a Mantega para mostrar que a reivindicação não pode ser considerada exagerada : “Isso são R$ 15 reais a mais por mês, senhor ministro. Isso representa R$ 0,50 por dia no bolso do trabalhador”, disse, mostrando uma moeda.
Wagner Gomes, presidente da CTB, atacou: “O que estamos pedindo aqui é um pouco do tratamento que vem sendo dado aos banqueiros. O que queremos, desenvolvimento ou especulação? Salário mínimo é pra milhões. Não é pra meia dúzia”.
Antonio Neto, presidente da CGTB, lembrou que “cada um real investido no SM acarreta R$ 0,56 para os cofres públicos”. E negou que a reivindicação das centrais signifique quebra de acordo, como insinuado antes por Mantega.