(São Paulo) Começou nesta manhã a Plenária Nacional da Contraf-CUT, que reúne sindicalistas bancários de todo o país, com apresentação sobre a conjuntura nacional feita pelo economista do Dieese Sérgio Mendonça. Na parte da tarde, as discussões abordarão o planejamento da Campanha Nacional do Ramo Financeiro de 2008.
Mendonça fez uma análise ampla da situação da economia brasileira, considerando o cenário externo da crise americana. Para ele, a visão de “descolamento” do Brasil da crise é equivocada e em algum momento o país sentirá os efeitos da recessão americana. “Podemos ter um contágio pequeno, mas se a recessão americana se prolongar por muito tempo o impacto será maior. Ninguém sabe o tamanho ou, principalmente, qual será sua duração”, analisa. Ele lembrou que as duas últimas recessões americanas, uma no começo dos anos 1990 e outra no início dos anos 2000, duraram pouco mais de um ano. “Essa, no entanto, parece ser mais profunda e mais duradoura”, avalia.
Quanto ao impacto no Brasil, ele vê bons dados na economia do país, mas que podem ser ilusórios. Ele destaca que a crise pega o Brasil num momento de crescimento. “É generalizado o crescimento, com alguns setores estão crescendo muito, principalmente a indústria, que por ter cadeia mais longa gera mais empregos”, destaca. “É o tipo de crescimento que pode levar a um período longo de crescimento por conta do investimento. A taxa de crescimento do produto foi maior que a inflação, o que é raro, e isso pode se repetir esse ano”, sustenta.
O PIB brasileiro alcançou no ano passado cerca de US$ 1,4 trilhão, patamar próximo ao da Itália ou Inglaterra. “Estamos falando da quinta, sexta maior economia do mundo. Uma economia grande é o principal aval para enfrentar crises. No entanto, somos grandes, mas estamos no mundo periférico e uma fuga de capitais é sempre um risco” analisa. Além disso, temos reservas cambiais de US$ 200 bilhões e uma situação tranqüila em relação à dívida pública.
No entanto, esse cenário positivo não é tão seguro assim. Mendonça vê um problema sério na taxa de câmbio, que já começa a afetar a balança comercial. “Tivemos um crescimento de 50% das importações no ano passado. O saldo da balança comercial caiu 70% em janeiro e fevereiro”, afirma. Além disso, o câmbio facilita as viagens para o exterior, aumentando os gastos com a conta turismo, e as remessas de lucros das empresas ao exterior “explodiram”, causando um buraco no balanço de pagamentos nas transações correntes próximo de 1% do PIB. “Essa taxa de câmbio não é sustentável. Já temos um déficit previsto para este ano. Se for um ano só não é um problema tão grande, mas se continuar sabemos onde isso termina: em crise”, avalia.
Para ele, essa situação não afetará o crescimento econômico em 2008, mas podemos enfrentar uma crise a médio ou longo prazo. “Esse ano ainda será favorável, no primeiro trimestre devemos crescer mais de 6%. Mesmo que diminua o ritmo no segundo semestre, devemos crescer 4% no ano, o que é bom. Mas isso não garante nada em 2009”, alerta.
Mendonça explica que questão está em reverter o déficit de transações correntes. Um caminho para isso seria alterar o câmbio, desvalorizando o real frente ao dólar, mas isso não é fácil. “O BC nos últimos anos comprou US$ 100 bilhões e isso não mexeu na taxa”, lembra. Ele defende que uma solução seria adotar formas de controle de capitais, mas é uma medida que enfrenta muitas resistências inclusive dentro do governo federal.
Outro risco para o crescimento vem de um provável aumento da taxa Selic pelo Banco Central. Mendonça destacou a intensa campanha que vem surgindo na imprensa, conduzida por economistas liberais, pela interrupção do crescimento econômico. “Para os nossos liberais de plantão, o Brasil não pode crescer demais, é preciso abortar o crescimento. Políticas heterodoxas, como controle cambial, não podem, mas diminuir o crescimento da economia pode”, lamenta. “O ano de 2008 está salvo, mas 2009 ainda depende do que vai acontecer”, conclui.
Fonte: Contraf-CUT