Quando fechar a negociação para assumir a maioria do capital total do Banco Votorantim, evento esperado para as próximas semanas, o Banco do Brasil (BB) terá investido na instituição financeira controlada pela família Ermirio de Moraes cerca de R$ 7,2 bilhões. Estará longe ainda, porém, de começar a ter algum retorno de um investimento que começou a ser feito em janeiro de 2009. Por enquanto, o Votorantim acumula um prejuízo de R$ 650 milhões desde a chegada do BB, cifra que ainda crescerá até o fim deste ano.
Mesmo diante desse quadro nada animador, o BB finaliza a negociação para desembolsar cerca de R$ 2 bilhões para ter 75% do capital total do banco, enquanto o controle continua a ser exercido pela família. Poderia se ater à fatia de 50% do capital que já possui e que consumiu investimento de R$ 5,2 bilhões, mas quer mais.
Se, quatro anos atrás, quando o BB entrou no capital do Votorantim, o principal interesse era estimular o consumo no país por meio um banco especializado no financiamento de veículos, agora o motivo de tanta atenção vai além. O BB quer que o Votorantim se transforme em sua plataforma para atividades nas quais não foi bem sucedido sozinho até hoje.
Uma delas é o crédito para não correntistas. É algo que Itaú Unibanco, Bradesco e Santander já fazem há cerca de uma década por meio de parcerias com varejistas, montadoras e correspondentes bancários. Enquanto isso, o BB se manteve concentrado na clientela que já estava dentro de casa.
Não se pode dizer que foi uma estratégia mal sucedida, afinal o BB é dono da maior carteira de crédito do país, com R$ 536,8 bilhões. Mas a avaliação é que isso faz com que o banco perca algumas oportunidades valiosas. É líder, por exemplo, em crédito consignado, mas só dá dinheiro para seus correntistas. Se tivesse utilizado a força de vendas dos chamados “pastinhas”, poderia ter ido mais longe.
Hoje, os sistemas de análise de risco de crédito do BB só conseguem avaliar a diferença entre um bom e um mau pagador se o cliente for correntista, ou seja, já estiver um histórico na base do banco. Com o Votorantim, o BB quer conceder empréstimo imobiliário e crédito consignado, além do próprio financiamento de veículos, para quem está fora dos domínios das agências bancárias.
Claro que tudo isso poderia ser feito dentro do próprio BB, sem o investimento no Votorantim. Mas a avaliação do comando do banco é que o fato de ser controlado pelo governo federal tira sua agilidade para competir em certos nichos. Traz, por exemplo, a necessidade de concurso público nas contratações.
É justamente essa, na avaliação da cúpula do BB, a principal fragilidade para criação de um banco de investimento que possa fazer frente a Itaú BBA, Bradesco BBI e BTG Pactual. Limitado pelos concursos, o BB não consegue atrair um executivo da concorrência. Entre os bancos de investimento privados, a maior parte do pagamento é variável, atrelada ao desempenho dos executivos.
Por isso o BB quer 75% do capital total, mas não o controle do Votorantim. O banco estatal avalia que será capaz de transformar o Votorantim numa espécie de “pilar de mercado” do BB. Mas, para executar esse novo plano de negócio, o BB quer ter direito a um quinhão maior da instituição financeira, o que lhe dará também uma participação maior nos lucros – quando eles aparecerem. Em fase de tratativas contratuais, a expectativa é que a transação seja anunciada ainda este mês.
Um dos benefícios mais imediatos para o Votorantim com a maior participação do BB deve vir do lado do custo de captação, que se tornará mais próximo ao do banco controlado pela União. A partir disso, calcula-se que o retorno sobre o patrimônio líquido do Votorantim se elevaria à média da indústria bancária, perto dos 18%.
Sem um funding mais barato, simulações mostraram que o retorno do Votorantim ficaria entre 12% e 16% tão logo a fase de saneamento da problemática carteira de financiamento de veículos – gerada até meados de 2011 – chegasse ao fim, algo que só deve estar resolvido em 2014 e que vem retardando o retorno do BB.
É justamente esse um dos argumentos usados para convencer a família Ermirio de Moraes a vender mais uma fatia do Votorantim. O clã passará a ter um quinhão menor de um negócio com retorno maior. Não está no radar da família hoje sair da atividade bancária, segundo pessoas próximas. Bastante focado em commodities, o grupo Votorantim tem no banco a sua diversificação no ramo de serviços.
O Banco do Brasil está ciente de que o retorno do grande investimento feito não virá em breve. Ao longo de 2013, apesar de este ainda ser um ano de prejuízo, o banco apresentará lucro em algum momento. Em 2014, a expectativa é que o Votorantim já fique no azul. Mas é só a partir de 2015, segundo o Valor apurou, que o banco poderá ser considerado 100% sanado, sem que erros do passado atrapalhem mais seu desempenho.
Em outras palavras, é a partir de 2015 que o investimento deve começar a se pagar. É também nesse horizonte de tempo que um novo plano para o Votorantim tende a ser colocado em prática. A ideia acalentada, hoje, é fazer uma oferta inicial de ações do banco, replicando o modelo já testado neste ano com a BB Seguridade, empresa de seguros, previdência e capitalização do BB.