Pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido da Associação Paulista de Medicina (APM) e divulgada na quinta-feira (23) mostra que planos de saúde ameaçam o exercício da medicina. Ataques à autonomia dos médicos, interferência descabida na relação com os pacientes, pressões para redução de internações, de exames e outros procedimentos são problemas detectados em todo o Estado de São Paulo, segundo o levantamento.
Tipo de interferência dos planos e seguros, segundo os médicos:
– Contestar procedimentos ou medidas terapêuticas 79%
– Número de exames ou procedimentos 77%
– Atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores 71%
– Restrições a doenças pré-existentes 71%
– Tempo de internação a pacientes 56%
– Prescrição de medicamentos de alto custo 47%
– Período de internação pré-operatório 46%
Em uma escala de zero a dez, o médico paulista atribui nota 4,7 para os planos ou seguros saúde no Brasil. Considerando apenas as empresas com as quais tem ou tiveram algum relacionamento nos últimos cinco anos, a avaliação é similar: nota média de 5,1 em escala de zero a dez.
Mais de 90% dos médicos denunciam interferência dos planos de saúde em sua autonomia profissional. Em uma escala de zero a dez, é atribuída nota 6,0 para o grau de interferência dos planos de saúde. Nota maior é dada pelos médicos que atuam na capital.
Para cerca de três em cada dez médicos, recusar determinado procedimento ou medida terapêutica é o tipo de interferência que mais afeta a autonomia médica. Outros tipos de interferência apontados se referem a solicitação de exames e procedimentos, atos diagnósticos ou terapêuticos mediante a designação de auditores e restrições a doenças preexistentes.
Foram entrevistados médicos cadastrados no Conselho Federal de Medicina (CFM) que atendem planos ou seguros de saúde particulares e trabalharam com, no mínimo, três planos ou seguros saúde nos últimos cino anos.
A pesquisa ocorreu entre os dias 23 de junho e 18 de agosto. Houve 403 entrevistas, sendo 200 na capital e 203 no interior ou outras cidades da região metropolitana. A margem de erro máxima, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%, é de 5 pontos percentuais para o total da amostra e 7 pontos percentuais para capital e interior.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), entidade representante das operadoras, divulgou nota para esclarecer que “suas afiliadas não fazem qualquer restrição ao acesso a serviços – como internações e exames – desde que estejam previstos nas coberturas contratuais dos planos e nas diretrizes determinadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No ano passado, por exemplo, foram autorizadas 62 milhões de consultas, 146 milhões de exames em todo o país”.
O comunicado também diz que as operadoras consideram que o médico é soberano no diagnóstico e tratamento dos pacientes, e que a observância de critérios é fundamental para garantir o bom funcionamento do sistema e a assistência efetiva aos beneficiários.
Veja alguns resultados da pesquisa:
– Pior plano de saúde: há um empate entre os piores planos do Estado. Medial, Intermédica, Amil e Cassi são os mais citados
– Piores honorários: Medial e Intermédica dividem o primeiro lugar como os planos que pagam os piores honorários médicos
– Procedimentos burocráticos: quando o assunto é burocracia há pulverização dos resultados.
– Oito planos dividem a primeira colocação como o mais burocrático. Três em cada dez médicos paulistas percebem que todos os planos ou seguro saúde são burocráticos
– Interferência na autonomia: cerca de nove em cada dez médicos declaram que há interferência dos planos ou seguros saúde que trabalham ou trabalharam, na autonomia técnica do médico. 52% afirmam que esta prática é comum a todos/maioria dos planos
– Maior interferência em tempo de internação: na opinião dos médicos, Amil, Sul América, Cassi, Medial e Bradesco são os planos que mais interferem no tempo de internação
– Interferência no período de internação pré-operatório: a opinião dos médicos da capital e interior difere quanto ao plano que mais interfere no período de internação pré-operatório. E, 31% acham que todos os planos interferem na mesma intensidade
– Glosas (contestações) e medidas terapêuticas: Amil, Sul América e Medial são os planos que mais glosam (contestam) procedimento e medidas terapêuticas, segundo a pesquisa
– Interferência número de exames e procedimentos: Amil, Medial, Intermédica e Sul América destacam-se como os que mais interferem no número de exames e procedimentos
– Interferência em atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores: os mais citados são Amil, Medial e Sul América