Perdas de instituições da Espanha podem chegar a 260 bilhões de euros

O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês) calcula que as perdas totais nos empréstimos da Espanha podem variar entre 218 bilhões e 260 bilhões de euros, mais do que o atualmente esperado pelo provisionamento das instituições.

A capacidade da Espanha para restabelecer a disposição dos investidores de comprar seus bônus vai depender da credibilidade com que o país vai auditar os empréstimos deteriorados de seus bancos. O Ministério da Economia selecionou duas auditorias internacionais – a Roland Berger (Alemanha) e a Oliver Wyman (EUA) – para avaliar os créditos dos bancos do país, que sofrem com as crescentes perdas no setor imobiliário.

O rendimento do bônus espanhol de dez anos aumentou 140 pontos-base desde 1º de março, alcançando 6,26%, porque os investidores temem que as potenciais perdas dos bancos poderão forçar o governo a desembolsar bilhões de euros para ampará-los. “Se as firmas independentes divulgarem algo parecido com o que os bancos estão dizendo sobre suas carteiras, o mercado simplesmente não vai acreditar nelas”, diz Georg Grodzki, da Legal & General Investment Management em Londres.

Se a auditoria mostrar grandes perdas, certamente surgirão dúvidas sobre “como o governo poderá tapar o rombo dos balanços no sistema bancário”, diz ele. A auditoria é parte da quarta tentativa da Espanha em três anos de limpar seus bancos, que preparam-se para provisionar cerca de 30 bilhões de euros contra empréstimos imobiliários, além das provisões de 53,8 bilhões de euros já lançadas contra os balanços em fevereiro.

A proposta, anunciada em 11 de maio, não dissuadiu a Moody”s Investors Service de rebaixar as classificações das dívidas de 16 bancos espanhóis na semana passada. O ministro da Economia, Luis de Guindos, disse que os auditores terão “liberdade total” para realizar as revisões e que as regras para provisionamento existentes são “suficientes”.

Os analistas da Exane BNP Paribas e Nomura Holdings elogiaram a limpeza dos balanços, mas afirmam que os bancos precisam reconhecer perdas maiores sobre os créditos fora do setor imobiliário, em um país onde a taxa de desemprego supera os 24%.

A possibilidade de a Espanha precisar socorrer seus bancos está levando os custos do crédito para o país a níveis que forçaram a Grécia, Irlanda e Portugal a buscar socorro financeiro. Os bônus espanhóis caíram 3,6% este ano, a única queda entre as 17 nações da zona do euro, além da Grécia.

“Ainda estamos a uma certa distância de os bancos espanhóis voltarem a ser interessantes para os investimentos”, disse Grodzki. “O problema é o abismo existente entre a suposição dos investidores em relação às baixas contábeis e as necessidades de capital.”

O Banco Santander, o maior do país, viu o preço de sua ação recuar cerca de 19% este ano, enquanto o Bankia perdeu 47%. A ação do BBVA caiu 25%.

Ontem o ministro Guindos informou que o Bankia vai necessitar de mais 7 bilhões a 7,5 bilhões de euros para cumprir as novas exigências de capital. Apesar disso, o ministro tentou passar uma mensagem de tranquilidade para o mercado. “O Bankia é mais seguro agora do que há um mês. É uma entidade com muita liquidez”, disse.

Uma queda dos preços no mercado imobiliário, que já dura quatro anos, vem elevando o número de calotes nos empréstimos e reforçando as suspeitas dos investidores de que os balanços das instituições financeiras não refletem totalmente a escala das perdas potenciais. Os bancos espanhóis carregam 184 bilhões de euros naquilo que o Banco da Espanha classifica de “ativos problemáticos ligados ao setor imobiliário”.

A relação de créditos ruins sobre o estoque total aumentou de menos de 1% em 2007 para 8,37% em março. Analistas do HSBC Holding estimaram em relatório recente que os bancos espanhóis poderão ter um déficit de capital de 97 bilhões de euros em 2013, assumindo uma piora no mercado imobiliário comercial e uma deterioração do crédito às famílias e empresas.

“Não está claro quem vai pagar e como a conta será paga e, dependendo do tamanho das perdas e como a limpeza será implementada, o risco soberano poderá continuar em níveis relativamente altos, criando um problema circular para o sistema”, disse Santiago Lopez, da Exane BNP Paribas.

Autoridades da União Europeia tentaram convencer Guindos a tomar uma linha de crédito do FMI para amparar os bancos do país. As auditorias sobre as carteiras dos bancos podem ajudar, embora vá ser difícil convencer os investidores de que elas são realmente independentes, diz Grodzki.

“O fato dos auditores serem contratados e pagos pelo governo poderá levantar suspeitas, mas eles tem o benefício da dúvida por enquanto. Espero que não tentem chegar ao número que o governo quer ouvir”, disse ele. “A Espanha está andando na corda bamba.”

A BlackRock foi contratada pelo banco central da Irlanda em janeiro de 2011 para auditar os balanços de seis bancos. Seu papel foi muito importante no estabelecimento de uma base de informações independentes que ajudaram a tranquilizar os investidores, diz Dermot O”Leary, da Goodbody Stockbrokers em Dublin.

A BlackRock vem sendo escolhida por governos na Grécia, Alemanha, Suíça e Suécia desde 2008 para avaliar carteiras de dívida difíceis de serem avaliadas.

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