“O fortalecimento da integração regional acelera os processos de transformação em curso na América Latina e põe os neoliberais na defensiva, pois fica claro o seu papel de apóstolos do retrocesso, de desagregadores das conquistas, ao tentarem fazer com que nossos países e povos desandem o caminho soberano que vem sendo percorrido”, afirmou o secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores, João Antonio Felício, ao destacar a importância da realização do Fórum Social das Américas, de 11 a 15 de agosto, em Assunção, capital do Paraguai.
Na avaliação de João Felício, o encontro “será uma excelente oportunidade da CUT reafirmar a nossa concepção de desenvolvimento, que está intimamente ligada à afirmação da soberania nacional, de investimento na esfera pública, na produção, na geração de empregos de qualidade, com distribuição de renda e ampliação de direitos”.
“Diferentemente do que pensam e praticam os neocolonizados – como são os demos e os tucanos – é bom para o Brasil que o Paraguai cresça, que a Argentina, a Bolívia e o Uruguai cresçam, assim como todos os demais países da região, porque a desigualdade, a injustiça e a situação de inferioridade não fazem bem para ninguém. Muito pelo contrário, enfraquecem, alimentam discórdias e nos deixam em piores condições para enfrentar os que historicamente tem enriquecido com a nossa miséria, como os Estados Unidos. Hoje, seja para enfrentar os EUA, a Europa ou os tigres asiáticos, precisamos mais do que nunca aprender com as lições do passado e projetar pontes, não muros como faz o governo norte-americano na fronteira com o México ou Israel contra os palestinos”, acrescentou.
ANTI-IMPERIALISTA
O secretário de Relações Internacionais da CUT lembrou que “o imperialismo aposta na divisão e na dispersão das forças, na incapacidade de nos vermos e atuarmos como iguais, de não nos enxergarmos como nações irmãs, que têm um destino comum”. “É com base na miopia política de algumas elites locais, que se comportam como marionetes do império e têm uma mídia que atua como seu ventríloquo, com uma intensa propaganda reacionária pró-privatização e desmonte do Estado, que os EUA conseguiram impor Tratados de Livre Comércio devastadores e, inclusive, bases militares, como fizeram recentemente na Colômbia, após serem desalojados da base de Manta, no Equador”.
Vale lembrar, alertou João Felício, que “a agenda neoliberal, como vai contra os interesses da grande maioria da população, mais cedo ou mais tarde acaba sempre se apoiando na truculência, como bem o demonstram as valas com mais de dois mil corpos de trabalhadores e ativistas dos movimentos sociais encontrada na Colômbia, ou os assassinatos de oposicionistas em Honduras”.
Também no nosso país, ressaltou, “à frente do governo estadual mais rico, como é o de São Paulo, essa mesma turma usa e abusa da pancadaria contra os movimentos sociais, como fez na greve dos professores, onde faltou salário, mas sobraram tiros e bombas”.
Já a nível federal, a experiência brasileira do último período, onde o movimento sindical brasileiro encontrou no governo Lula um parceiro para a construção do diálogo social, declarou Felício, precisa ser mais valorizada e melhor compartilhada com os sindicalistas da região, “pois esta sintonia é responsável por boa parte do processo de mudanças que está ocorrendo em nosso país”.
“Nós não apenas mantivemos uma lei protetora do mundo do trabalho, como é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que estava na mira dos neoliberais, como ampliamos as experiências de negociação coletiva, afirmamos uma política de valorização do salário mínimo que alcançou um ganho real superior a 54%, conquistamos o reconhecimento das centrais e passamos a integrar estruturas, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que debatem com o presidente e os ministros os grandes temas nacionais”, exemplificou. Embora existam limitações que saltam aos olhos, como na questão da democratização da comunicação, e a necessidade de melhorias na qualidade do ensino, no atendimento médico e na própria reforma agrária, lembrou Felício, “a conjuntura hoje é outra e nos estimula a ser cada vez mais agentes da mudança”.
MIGRANTES
O líder cutista acredita que o Fórum Social em Assunção deve também potencializar o protagonismo do movimento sindical em relação a temas como o dos migrantes, que já vem sendo priorizados nas ações da Confederação Sindical Internacional.
“Há uma quantidade enorme de paraguaios no Brasil e também de brasileiros no Paraguai, o que fez com que tenhamos um projeto da CSI, que envolve a CUT-Brasil, a CNT e a CUT Autêntica do Paraguai, para ampliar e reconhecer direitos lá e aqui. Da mesma forma estamos buscando fortalecer a organização sindical”, disse.
O fato do governo brasileiro estar reconhecendo o direito legal à formalização tem ajudado na integração entre as duas nações, avaliou Felício, para quem é necessário garantir do conjunto dos governos que encarem o direito dos imigrantes ao trabalho como um direito humano.
Na pauta do evento que inicia na próxima quarta-feira na capital paraguaia estão o desafio dos processos de transformação no hemisfério: pós-neoliberalismo, integração, socialismo, bem viver / Viver Bem e mudanças civilizatórias; estratégias de militarização e dominação imperial, e alternativas de resistência dos povos; defesa e transformação das condições e modos de vida frente ao capitalismo depredador; a soberania alimentar como núcleo de novos equilíbrios de vida; as disputas hegemônicas: comunicação, culturas, conhecimentos, educação; povos e nacionalidades indígenas originários e afrodescendentes: o desafio da plurinacionalidade; e Memória e justiça histórica.
COMUNICAÇÃO
Antecedendo o Fórum, a Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) e a Confederação Sindical das Américas (CSA) realizarão encontros com comunicadores sindicais, com ênfase na conformação de uma rede alternativa pela democratização da mídia. “São iniciativas que se multiplicam em busca de uma comunicação veraz, independente dos conglomerados que transformaram a informação em mercadoria”, concluiu.