Para ONU, bancos centrais não podem se limitar ao controle da inflação

Agência Brasil
Vinícius Lisboa

Rio de Janeiro – Os bancos centrais e de desenvolvimento devem buscar formas de canalizar o crédito para o investimento produtivo, recomendou a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento no Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2013, divulgado hoje (12). Com o novo direcionamento, os recursos poderão ser usados para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar desafios do mundo pós-crise, em que as demandas interna e regional ganharão maior importância.

“Não é razoável que o Banco Central se preocupe apenas com a inflação e a estabilidade dos preços usando somente um único instrumento, que é a taxa de juros de política econômica. A ideia é a de que o Banco Central tem outras responsabilidades a cumprir. Ele é o responsável pela estabilidade financeira e isso passa por um crescimento equilibrado. Ele deve atuar em coordenação com outras instâncias governamentais”, disse o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Antonio Carlos Macedo e Silva, que apresentou a publicação no Brasil.

O relatório chama atenção para a oferta de crédito antes e durante a crise financeira iniciada em 2008, que muitas vezes foi direcionada ao consumo e a bolhas de ativos como a do setor imobiliário, em vez de privilegiar em longo prazo a indústria, a agricultura, os serviços e a infraestrutura.

De acordo com o estudo, os países em desenvolvimento deverão acelerar o ritmo de acumulação de capitais, o que requer maior organização e gestão dos sistemas financeiros, para garantir financiamento estável e de longo prazo para a expansão da capacidade produtiva. Para a ONU, as mudanças propostas devem ser implementadas considerando o papel maior dos mercados domésticos e regionais com os novos padrões de demanda internacional.

As políticas dos países em desenvolvimento devem incentivar o investimento doméstico dos lucros e a alocação de crédito para atividades que levem à criação de emprego e ao crescimento sustentável e possibilitem menos vulnerabilidade ao cenário externo. Segundo o relatório, será preciso contar cada vez mais com as fontes de financiamento internas, pois, nas últimas três décadas, a dependência excessiva de fluxo de capital privado aumentou a instabilidade em vez de apoiar o crescimento de longo prazo.

O documento também pede maior regulação do sistema financeiro para garantir estabilidade financeira e monetária, com papel mais ativo para os bancos centrais, para os bancos de desenvolvimento e para instituições de crédito especializadas. Essas medidas governamentais devem ser usadas também em situações normais e não apenas em casos excepcionais, como crises.

Segundo o relatório, papel principal nessa mudança cabe aos bancos centrais, que devem incentivar ou obrigar os bancos privados a garantir mais empréstimos para o setor produtivo. Já os bancos de desenvolvimento devem oferecer empréstimos e serviços financeiros que as instituições privadas não podem ou não querem fornecer, como a novas empresas, empresas de pequeno porte e empresas inovadoras, ou projetos de desenvolvimento de longa maturação em pesquisa e infraestrutura.

A publicação defende que essa maior variedade de fontes de crédito tem maior probabilidade de direcionar os empréstimos a usos produtivos do que um sistema dominado por grandes bancos globais que não são apenas “muito grandes para falhar”, mas também “grandes demais para gerir” e “grandes demais para regular”.

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