Para Guido Mantega, taxas altas de juros dos bancos pode ser “tiro no pé”

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em entrevista exclusiva ao “Jornal da Globo” nesta sexta-feira que não se conforma com os altos juros cobrados pelos bancos.

“Eu acho muito negativo porque o Brasil continua praticando as maiores taxas de juros do mundo e uma das responsáveis por isso é o spread elevado”, diz o ministro.

Spread é a diferença entre o que o banco paga ao captar dinheiro e o quanto ele cobra dos clientes na hora de emprestar.

Em um ano, o spread dos bancos nas operações de crédito para pessoas físicas passou de 31,9% para 45,1% ao ano, a maior taxa desde setembro de 2004.

“Isso é um absurdo. Não tem nenhum fundamento”, diz o ministro.

Além disso, Mantega também critica a decisão dos bancos de aumentar os juros dos empréstimos para empresas.

“Você não pode aumentar o custo de financiamento pelas empresas, num momento em que a demanda cai. Então, deveríamos diminuir um pouco as ambições de lucro e fazer com que o industrial, o produtor, o consumidor possa ter acesso a taxas mais baixas”, afirma.

Os bancos alegam que as taxas têm que ser altas para compensar o perigo de calote, principalmente nessa época de crise. Mas para o ministro da Fazenda, é o contrário. Os juros altos cobrados pelos bancos é que podem aumentar a inadimplência.

“Ao cobrar uma taxa de juros mais elevada, você cria a inadimplência; você dificulta ao cidadão de pagar a conta. Eu acho que essa política dos bancos é totalmente equivocada, é claro que leva a lucros elevados dos bancos, mas depois é um tiro no pé, porque se o cidadão depois ficar inadimplente, ele não vai pagar”, fala.

Para enfrentar esse problema, o governo vem pressionando os bancos públicos a baixarem suas taxas de juros. As taxas máximas da Caixa Econômica e Banco do Brasil no crédito pessoal caíram para 4,39% e 4,99%, respectivamente.

Entre os três maiores bancos privados, Bradesco, Itaú e Santander, elas estão mais altas, apesar de as três instituições também terem reduzido as suas taxas.

“Eu incito o consumidor brasileiro que olhe com atenção as taxas e escolha as taxas mais baixas. Faça concorrência funcionar, examina qual é o banco que está te dando financiamento mais baixo, porque as diferenças vão aumentar, e vá para o banco que está oferecendo taxas mais baixas”, orienta.

A Febraban não quis comentar o assunto.

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