Para Dieese, alta da Selic vai na contramão da economia internacional

Protesto de bancários contra aumento da Selic, durante ato em frente ao BC

Criticada por representantes dos trabalhadores e dos setores produtivos, a sexta alta seguida da taxa básica de juros prejudica a economia voltou a colocar em evidência o contraste entre as necessidades da população e a avaliação do Banco Central. Para a economista Patrícia Pelatieri, diretora-executiva do Dieese, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) volta a colocar o país “está na contramão de toda política monetária internacional”.

“O Brasil vive uma contradição. Com a recuperação global ainda lenta e a incerteza em patamares muito relevantes, um dos únicos caminhos possíveis para o país manter o crescimento seria o aumento do investimento público, que puxaria também o investimento privado. Mas nós estamos trilhando o caminho contrário”, argumenta.

Em seu comentário na Rádio Brasil Atual, ela explica que a medida não é eficaz para combater a inflação e afirma que “trata-se de uma tentativa do governo em eliminar qualquer onda de pessimismo em relação à economia brasileira, atendendo aos interesses e à pressão do mercado”.

Na quarta-feira (27), o Copom elevou a Selic a 10%. A taxa básica de juros subiu meio ponto em comparação à reunião anterior e chegou aos dois dígitos pela primeira vez desde janeiro de 2012, quando alcançou 10,5%.

A alta já era esperada pelo mercado financeiro devido à linha de atuação que o Banco Central tem adotado desde abril. À ocasião a taxa estava em 7,5%, menor patamar da história, mas as sucessivas altas ampliaram os ganhos de quem aplica no mercado financeiro e dificultaram a vida dos trabalhadores, que sofrem com crédito mais alto.

Patrícia argumenta que o aumento uma postura de “utilizar novamente a compressão da atividade econômica para, supostamente, combater a inflação”. Ela reforça que a medida afetará gradualmente as contas públicas, a demanda e os investimentos na economia brasileira, já que estimula o deslocamento de inversões produtivas para especulativas.

“Cada ponto percentual a mais na taxa de juros significa uma elevação com gastos dos juros da dívida para o governo federal na ordem de R$ 26 bilhões. Essa é a sexta alta da Selic, em que ela chega a 10%. Se em abril, quando começou o processo de alta, ela estava em 7,25%, significa que a despesa com os juros da dívida em 2013 aumentou em R$ 72 bilhões”, observa, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

A soma do valor das medidas de desoneração para incentivar a produção e o crescimento econômico, previstas para este ano, alcança a casa dos R$ 70 bilhões. Apesar disso, a quantia investida não é suficiente para superar a perda provocada pelos juros da dívida pública.

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