O Brasil e o mundo assistiram estarrecidos, espantados e indignados às cenas de selvageria que tiveram como palco a Arena Joinvile, no jogo Atlético Paranaense x Vasco da Gama, realizado no domingo (8). Cenas de massacre humano ao vivo, torcedores hospitalizados em estado grave e jogo paralisado por quase uma hora.
Suspenso o jogo no gramado, começou o jogo de empurra-empurra de mais irresponsabilidade, com a busca de um “bode expiatório” para assumir toda a culpa. Isto, obviamente, é um prato cheio para pitaqueiros, “especialistas” e até saudosistas das imagens de polícia “baixando o pau” em torcedores dentro de estádios.
No falatório atirou-se para todos os lados, como PM, Ministério Público, entre outros, mas especialmente para a segurança privada. E nesta direção levantaram leve, sutil e desonestamente apenas uma franja do problema: o emprego de 90 profissionais de segurança privada para toda a Arena para um público de 8.978 pagantes. Os contratados estavam responsáveis pelo gramado, bilheteria, entradas, vestiários, tribuna de honra ou camarotes e, ocasionalmente, os espaços dos torcedores.
Por que não se viu cenas parecidas nos jogos da Copa das Confederações ou mesmo em clássicos como Fla-Flu, Gre-Nal, Vasco x Flamengo? Para ser mais fiéis nas referências, por que nada disso foi visto em todos os jogos do Atlético Mineiro na Arena Independência, há muito mais tempo sob os cuidados da segurança privada?
As respostas não são mistério para ninguém:
– Planejamento, responsabilidade dos organizadores e zelo com o público (torcedores, jogadores, imprensa, etc.);
– Emprego de profissionais em quantidade adequada e qualificados, conforme portaria da Polícia Federal;
– Contratação de empresas registradas na PF, sérias e comprometidas com o profissionalismo;
– Ausência de regras ou normas coletivas claras para atuação dos vigilantes (remuneração adequada, jornada de trabalho, alimentação, equipamentos, etc).
Alguém, por acaso, pode afirmar que alguns desses requisitos básicos foram observados em Joinvile? Com certeza a resposta é um NÃO bem sonoro.
Quanto ao papel da PM, que se encontrava no espaço externo pronta para intervir – e o fez a tempo de evitar uma tragédia maior – o Estatuto do Torcedor diz que há limitações legais e o bom senso para estes eventos.
O que precisa ser dito com todas as letras é a necessidade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), da justiça desportiva, do Ministério Público, Polícia Federal, Ministério da Justiça, dos governos estaduais ou municipais, assim como acordaram após para a tragédia da boate Kiss de Santa Maria, acordarem para pôr fim à irresponsabilidade e pouco caso com a vida das pessoas que frequentam os estádios.
Está na hora de esquecerem de vez o discurso cômodo e conveniente dos que pregam o uso da polícia pública nos eventos privados que dão lucros a poucos, empregando segurança privada de forma responsável, legal, observando e objetivando a segurança e a preservação de vidas das pessoas, bem como o respeito ao profissionalismo e dignidade dos profissionais da segurança privada. Com improviso e “meia boca” não se cuida de gente.