“ONGs não podem ser o paradigma de outro mundo possível”, diz Emir Sader

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O outro mundo possível pode estar além do espaço de debates e discussões do Fórum Social Mundial (FSM). Ao fim da nona edição, que terminou ontem (1°) em Belém, as primeiras análises sobre a maior reunião de movimentos sociais do planeta começam a aparecer.

O sociólogo Emir Sader avalia com “frustração” o resultado de uma semana de debates sobre alternativas à situação mundial. “Há um certo sentimento de frustração em relação ao que o Fórum poderia dizer o mundo, mas parece que está girando em falso”, apontou. Sader reitera a opinião apresentada antes do início do evento: o Fórum precisa se renovar.

A mudança incluiria mais espaço para os governos no FSM. Sader fez duras críticas à presença maciça de organizações não governamentais (ONGs) no Fórum, em detrimento dos movimentos sociais. “Onde estão as massas nas ruas mobilizadas pelas ONGs? Quem faz o Fórum são os movimentos populares. Elas [ONGs] têm lugar, mas o protagonismo tem que ser dos movimentos sociais.”

Na avaliação de Sader, “as ONGs não podem ser o paradigma de outro mundo possível”. O cientista defende a integração de experiências altermundistas reais ao espaço de debates do Fórum, mesmo que venham de governos. “O Evo Morales não deveria ter vindo apenas para as reuniões com os presidentes, deveria ter vindo até aqui, mostrar as experiências que a Bolívia está vivendo como o regime democrático mais legitimado da América Latina”, avaliou.

Mais otimista, o jornalista Luis Hernández Navarro, editor do jornal mexicano La Jornada, acredita que a volta do FSM ao Brasil renovou as perspectivas do encontro, que nos últimos anos dava sinais de esgotamento. “Depois de Nairóbi [2007], em que até empresas privadas financiaram o Fórum, achei que o lema Outro Mundo é Possível poderia ser trocado para Outro Turismo é Possível. Dava a impressão que o modelo de Porto Alegre havia passado por provas difíceis de superar”, afirmou.

A avaliação de Navarro ao fim de uma semana do Fórum amazônico mudou. “O Fórum existe. Não é uma invenção, uma quimera, ou uma construção midiática. É um foco importante de irradiação de idéias”.

Navarro defende o FSM como única instância internacional de ativismo. “É a única organização multi-setorial com um projeto emergente.” Para o jornalista, a presença de cinco presidentes latino-americanos no Fórum em Belém mostra que a reunião ainda influencia a tomada de decisões políticas. “O Fórum faz sonhar e pode ter muito a dizer, pela capacidade de pensar alternativas para a crise.”

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