Valor Econômico
Azelma Rodrigues e Eduardo Laguna
A expansão do crédito em outubro foi de 1,9%, atingindo R$ 1,645 trilhão, em relação a igual mês do ano anterior. Em doze meses, a oferta de crédito teve crescimento de 20,3%, movida por vigorosa demanda dos financiamento à habitação e do crédito direcionado e pela sazonalidade de final de ano.
O juro médio anulou quedas sucessivas dos últimos três meses e subiu 0,3 ponto percentual sobre setembro, para 35,4% anuais. Em novembro, segundo dados parciais, a política de expansão do crédito na economia brasileira continua forte, com acréscimo de 2% até o dia 17. Nesse ritmo, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o crédito, que hoje já soma 47,2% , facilmente atingirá a previsão do Banco Central, de 48% no fim deste ano.
Enquanto o juro médio subiu um ponto percentual, para 40,4% ao ano, para as pessoas físicas, o custo do crédito para empresas recuou 0,3 ponto percentual em outubro, para 28,7% ao ano. Foi o primeiro recuo nessa modalidade, após sete meses de alta.
No caso das operações para as pessoas físicas, pesou um efeito estatístico provocado pela greve dos bancários até meados de outubro. O volume de crédito consignado, que tem taxas menores (26% ao ano), recuou R$ 14,8 bilhões, de 60,6% para 60,4%, na proporção que representa no saldo do crédito pessoal global (juro de 56,8%).
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, destacou que esta foi a primeira redução da participação do consignado no crédito pessoal desde fevereiro de 2009. Ao contrário do crédito pessoal , que é liberado até pela internet, para obter um empréstimo com desconto em folha o aposentado precisa comparecer à agência bancária e obter a aprovação do gerente e do INSS.
A prévia de novembro mostra acomodação no juro médio para as famílias, e nova queda de 0,4 ponto no custo do crédito para as empresas. Tem grande peso nesse movimento o recuo na inadimplência das pessoas jurídicas, para 3,5%. Os atrasos em operações bancárias de pessoas físicas também ficaram estáveis em 6%, enquanto a média geral não se moveu dos 4,7% que registrou também em setembro.
Na evolução positiva do crédito bancário do país, destaca-se a alta mensal de 2,5% na modalidade direcionada (créditos do BNDES e do Banco do Brasil para setores predefinidos) e de 1,9% nos recursos livres, no mês passado. Também tiveram forte demanda por financiamento os setores de energia, agronegócio, aeronáutica, siderurgia, química e petroquímica.
Outro setor que teve crescimento exuberante foi o financiamento habitacional para pessoas físicas, cuja variação mensal foi de 3% e de 58% nos 12 meses até outubro, somando R$ 129,1 bilhões ou 3,7% do PIB.
Ontem o BC divulgou o Relatório de Economia Bancária e Crédito de 2009, com uma série de estudos sobre os bancos no pós-crise global. Uma das conclusões é de que os bancos brasileiros passaram a repassar para seus clientes pessoas jurídicas, de forma mais rápida, as variações da taxa básica de juros (Selic). No texto intitulado “Revendo os Determinantes das Taxas de Juros de Crédito no Brasil após a Crise de 2008”, o autor Leonardo Alencar constatou que o repasse “passou a ser completo” e que os custos das operações bancárias são diferentes quando o cliente é uma empresa ou pessoa física. “A volatilidade da taxa de política monetária aparenta influenciar apenas a determinação das taxas de juros para pessoas jurídicas, enquanto a taxa de crescimento da renda influenciaria somente as taxas de juros para pessoas físicas”, atestou Alencar.
Outro trabalho do relatório indica que os custos administrativos e a inadimplência corroeram no ano passado uma parcela maior do spread bancário (a diferença entre a taxa de captação e a taxa de juros cobrada pelos bancos ao tomador de empréstimo).
Proporcionalmente, a participação da inadimplência na composição do spread continuou com um peso significativo, passando de 31,23%, em 2008, para 32,16% no ano passado. Na mesma base de comparação, a parcela do custo administrativo avançou de 11,50% para 15,77%.
As duas variáveis ganharam maior peso por não terem acompanhado, em termos absolutos, a redução do spread, que cedeu 10,17 pontos percentuais ao longo de 2009, para 29,81 pontos percentuais. Desse total, a inadimplência respondeu por 9,59 pontos percentuais – queda de 2,89 pontos percentuais em um ano -, enquanto os custos administrativos ficaram praticamente estáveis: de 4,60 pontos para 4,70 pontos percentuais. Diante disso, houve baixa da parte que sobrou para as instituições financeiras como ganho. Conforme o levantamento, a margem líquida do spread – mais eventuais erros e omissões de cálculo – caiu de 31,19% para 27,97%.
No relatório, o BC conclui que, junto com a queda no inadimplemento, a queda dos spreads deve, “necessariamente, estar relacionada a ações de estímulo à concorrência bancária e ao aumento da eficiência do setor”. Nos bancos públicos, a parcela da inadimplência na formação do spread é mais significativa, respondendo por 40,26% – acima de 40% por quatro anos.
Apesar disso, o BC destacou que a redução de custos nesses bancos ajuda a explicar uma maior competitividade com o setor privado. Isso porque a parcela dos custos administrativos no spread dos bancos públicos ficou em 16,63% no ano passado, acima dos 15,23% de 2008, mas bem abaixo dos 30,99% de 2007. Em bancos privados, o percentual dos custos administrativos correspondeu a 15,33% do spread de 2009, acima dos 10,02% do ano anterior.