O Banco do Brasil e a Votorantim Finanças (VF) decidiram nesta segunda-feira 25 aportar 1 bilhão de reais cada um no Banco Votorantim, no qual ambos são sócios. A medida acontece após o Banco Votorantim ter registrado três trimestres consecutivos de prejuízos, em meio a perdas com calotes por empréstimos de má qualidade no financiamento de automóveis.
“É um absurdo sem tamanho nesse momento, em que a crise europeia bate à porta, o BB alocar mais um bilhão de reais no banco em que é sócio da família Ermírio de Moraes”, critica William Mendes, secretário de Formação da Contraf-CUT e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB.
O BB comprou 49,99 por cento do capital do Votorantim por 4,2 bilhões de reais, em janeiro de 2009, quando os efeitos da crise global de 2008 deixaram vários bancos brasileiros de médio porte em condições de liquidez mais adversas. No primeiro trimestre de 2012, o Votorantim teve prejuízo de 597 milhões de reais.
“Esse aporte vai causar impacto negativo no resultado do Banco do Brasil e comprova mais uma vez que a aquisição de parte do Votorantim foi um péssimo negócio e um grande equívoco da diretoria e do Governo Federal, como a Contraf-CUT inúmeras vezes apontou na época. Será que não houve auditoria para tomar conhecimento da carteira de crédito do banco quando o BB fez o negócio?”, questiona William.
Bônus milionários para executivos
A imprensa tem denunciado que os salários dos executivos do alto escalão do Votorantim giravam entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, mas os bônus superavam os milhões. Kuzuhara (ex-presidente) ganhou R$ 13 milhões num só ano. Os vice-presidentes ganharam um pouco menos, R$ 11 milhões. Mesmo em 2011, quando o BV teve prejuízo, os bônus individuais iriam alcançar R$ 4 milhões. O BB proibiu a distribuição, dado o péssimo resultado do banco.
Em 2010, como comparação, a média paga pelo Bradesco aos diretores foi de R$ 3,7 milhões por executivo; no Itaú, R$ 8,1 milhões (R$ 5,2 milhões em bônus); e no Santander, R$ 4,7 milhões (R$ 2,8 milhões em bônus). Seguindo o que acontece nas empresas estatais, o Banco do Brasil tem uma remuneração mais baixa, de R$ 717 mil (R$ 246 mil em bônus).
Essa política de remuneração estimulava o Votorantim a gerar gigantescas carteiras de crédito, que em seguida eram revendidas com lucro. Até o ano passado, as regras contábeis permitiam que o resultado com a venda de uma carteira fosse registrado no ato da transação. O problema é que, de acordo com os contratos, o prejuízo gerado por essas carteiras em caso de inadimplência precisa ser coberto pelo próprio Votorantim.
“Acabamos de sair de um congresso dos funcionários do Banco do Brasil com um rico debate acerca do papel de banco público e, sem dúvida, as conclusões dos trabalhadores passam longe de estratégias do governo equivocadas como essa de enfiar bilhões de reais em um banco que sequer é gerido pelo governo. Até agora o que vimos é o BB entrar com o dinheiro para cobrir prejuízo de más gestões e algumas pessoas levando milhões pela incompetência e operações estranhas às boas práticas de mercado bancário”, finaliza William.