Novas tecnologias beneficiam bancos e prejudicam bancários e clientes

Para Ana (esq.), novas tecnologias também impactam saúde dos bancários

Rede de Comunicação dos Bancários
Fábio Jammal Maklouf e Andrea Viegas

Com apenas um clique no computador, o cliente tem acesso a uma verdadeira agência bancária. Pelo celular também já é possível pagar contas, fazer transferência, agendar um pagamento. As novas tecnologias, que avançam a cada dia, facilitaram a vida de todo mundo, não? No caso do sistema financeiro nacional, todas essas novidades só beneficiaram os bancos.

A análise é da bancária Ana Tércia Sanches, especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp e doutoranda em Sociologia pela USP. Ela participou do painel de abertura da Conferência Nacional dos Bancários, nesta sexta (25), e apresentou um cenário sombrio para o emprego da categoria diante das novas tecnologias.

“Não somos contra o avanço tecnológico, todas essas novidades são muito boas. Só que os bancos se apropriam delas, cortam custos, aumentam seus lucros e não repassam nada para a sociedade”, diz Ana Tércia, que também é diretora do Sindicato de São Paulo e pesquisadora do Centro 28 de Agosto.

O futuro dos bancários

Segundo Ana Tércia, em cinco anos os canais tradicionais de atendimento – que precisam do trabalho humano – serão reduzidos a um quarto de todo o atendimento feito pelos bancos. Em pouco tempo, não haverá mais caixas. “Os próprios bancos admitem que vão exterminar boa parte do emprego dos bancários apenas eliminando os caixas”, conta Ana Tércia.

As áreas administrativas também têm espaço para serem reduzidas – em 80% conforme estimativas dos próprios bancos. “Já temos uma série de cargos extintos ou em vias de extinção, como os compensadores, digitadores, escriturários, analistas de processos…”, comenta Ana Tércia.

Além de exterminar o emprego dos bancários, as novas tecnologias utilizadas pelos bancos também estão acabando com a saúde dos seus empregados. “A tecnologia tem intensificado o ritmo de trabalho. Pelo celular, trabalhamos no trânsito, em casa, durante a apresentação de balé da filha e até no banheiro. Até a pressão por produtividade aumentou e tudo isso tem acabado com a saúde física e mental dos bancários. Essas questões precisam ser bem discutidas durante a Conferência Nacional”, estimulou Ana Tércia, destacando que até a greve dos bancários tem um peso diferente hoje em dia, com as novas tecnologias.

E os clientes?

Para os clientes, parece que as novas tecnologias facilitaram a vida de quem utiliza os serviços bancários. Mas Ana Tércia alerta: “Hoje, os clientes fazem boa parte dos serviços que antes eram destinados aos bancários, mas continuam pagando altas tarifas e taxas pelo trabalho que ele mesmo executa”.

Além disso, ainda há toda uma geração que tem dificuldades em acessar o atendimento eletrônico, além daqueles que preferem o atendimento pessoal. “Mas os clientes estão perdendo essa opção. Hoje, é estratégico para os executivos dos bancos eliminar os clientes de baixa renda, que são praticamente expulsos das agências, empurrados para os correspondentes bancários, que atuam sem qualquer segurança. Este é mais um ponto que precisamos pensar: os correspondentes bancários vão assistir a uma escalada de violência e assaltos nos próximos anos, por conta do aumento das transações e nas falhas de segurança”, conclui.

Menos empregos

O impacto da automação também foi abordado pelas técnicas do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)/Subseção Contraf-CUT Barbara Vasquez e Vivian Machado.

Veja aqui entrevista com Barbara Vasquez e Grijalbo Coutinho

Segundo Barbara, no final da década de 1990 se deu a conclusão do processo de automação bancária, que teve como principal impacto cortes de emprego e terceirizações, gerando intensificação profunda na rotina de trabalho.

A partir de 2011, os bancos passaram a investir ainda mais em tecnologia e na expansão dos correspondentes bancários para combater o crescimento da oferta de trabalho. Segundo o Dieese, 34.466 postos de trabalho já foram cortados por cinco grandes bancos do país, desde março de 2011.

Essa é uma tendência que tem se mantido em 2014. Barbara citou dados da última pesquisa sobre emprego bancário divulgada pela Contraf-CUT e Dieese, no dia 18 de julho, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, que aponta saldo negativo de 621%. O único banco a destoar nesse cenário é a Caixa Federal.

Quinta onda

O cenário atual do sistema financeiro é definido pelas técnicas do Dieese como a “quinta onda” de inovação bancária, marcada por meios eletrônicos de pagamentos.

Com 273 milhões de celulares habilitados no Brasil, os bancos estão apostando na plataforma mobyle pyament, que viabiliza os meios eletrônicos de pagamentos. “Inclusão financeira não é o mesmo que bancarização. O objetivo deste modelo é tirar o papel moeda de circulação”, alertou Vivian Machado.

Segundo ela, alguns bancos já lançaram, em parceira com operadoras de telefonia móvel, vários serviços de transações móveis. Através de aplicativos de smartphone já é possível fazer, por exemplo, compensação de cheque via celular.

Para ela, o grande desafio, hoje, dos trabalhadores do sistema financeiro é como lutar contra o avanço desse processo.

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