(Rio) A política de pessoal do BB não tem como premissa a valorização dos empregados. Com o passar dos anos, os benefícios que sempre fizeram do banco uma ótima empresa para se trabalhar foram sendo retirados. O banco completa 200 anos em outubro deste ano, mas os funcionários não têm o que comemorar. Quem faz esta avaliação é Marcel Barros, coordenador da Comissão de Empresa do BB. Ele conversou com o Unidade, jornal da Feeb RJ/ES, e falou sobre alguns dos problemas que o funcionalismo vem enfrentando.
Unidade Informativo- Qual é a mais nova dor de cabeça dos bancários do BB?
Marcel Barros – É mais uma novidade que veio com o “pacote de maldades”, o conjunto de medidas que o banco baixou em maio do ano passado. A substituição deixou de existir formalmente, ou seja, não existe mais salário de substituição. Agora, quando um funcionário substitui seu superior, não ganha a mais por exercer uma função que tem um salário maior que o seu. Se um gerente de agência, por exemplo, tira férias, fica doente ou mesmo se ausenta por um ou dois dias para fazer um curso, o funcionário que fica no seu lugar não ganha, pelos dias em que fez a substituição, o salário do superior. Isto é trabalhar de graça. E ainda constitui desvio de função, já que o substituto vai desempenhar tarefas que não são inerentes ao cargo que ele ocupa.
UI – O cotidiano do trabalho piorou?
MB – Piorou muito. O ritmo de trabalho aumentou muitíssimo e se tornou estafante. Nos estados de Minas Gerais, Bahia e Paraná, o banco conquistou a folha de pagamento dos servidores estaduais. Isto gerou um aumento do número de contas, mas a criação de novos postos de trabalho não acompanhou o crescimento na mesma proporção. A estrutura das agências também não foi alterada na medida necessária para atender a este aumento do número de contas. A sobrecarga de trabalho dos bancários tem sido enorme, eles são obrigados, muitas vezes, a trabalhar até mesmo em fins de semana e feriados. Tem havido, principalmente nestes estados, muitas irregularidades no que diz respeito a jornada de trabalho e também no pagamento das horas extras.
UI – Mas a Previ e a Cassi melhoraram nos últimos anos, não?
MB – A Cassi deve ter superávit pela primeira vez em muitos anos, graças à mudança no estatuto. Esta foi uma conquista importante, porque era reivindicada há muito tempo pelos trabalhadores. Ainda não há dados oficiais, mas os números preliminares demonstram que haverá um equilíbrio nas contas. Este excedente vai nos permitir negociar o aumento dos benefícios, como a inclusão do plano odontológico, por exemplo.
UI – E a Previ? Se houver superávit novamente, o movimento sindical vai reivindicar mais benefícios?
MB – Sim, e já pedimos ao banco para reabrir as negociações deste assunto. Já fizemos um pedido neste sentido em novembro do ano passado e, na primeira quinzena de janeiro, enviamos um ofício ao banco e à diretoria da Previ reiterando o pedido. Ainda não tivemos resposta do banco, mas a Previ já adiantou que manterá suspensas a contribuição dos participantes do Plano 1.
UI – O Plano 2 da Previ não teve suspensão das contribuições. Por quê?
MB – Este é o plano dos funcionários contratados de 1998 para cá, os chamados Pós-98. Eles não têm os mesmos benefícios que os mais antigos. A diferença entre os dois planos da Previ é só um dos exemplos. Esta diferenciação entre os empregados traz problemas para o banco. Já estamos percebendo uma mudança de perfil do funcionalismo que pode ser muito prejudicial ao BB. A saída de muitos funcionários antigos com o PAA do pacote de maldades agravou ainda mais esta situação. O banco tem realizado concursos para admissão de novos bancários e eles já são quase 60% do corpo funcional do banco.
UI – o que o banco perde com a saída dos funcionários antigos?
MB – Os antigos vestiam a camisa. Antigamente, ser funcionário do BB era emprego para a vida toda, o bancário se identificava com o banco. Hoje em dia, os novos empregados não pensam em fazer carreira na empresa, porque os benefícios são menores e até o salário já não é mais tão vantajoso como era antigamente. Grande parte deles encara este emprego como uma fase de transição em suas vidas. Muitos estão concluindo seu curso superior e precisam trabalhar, mas não pretendem continuar no banco. Outros estão somente à espera de serem aprovados em um concurso público para uma carreira melhor. Estes empregados não têm comprometimento com o BB nem com seu papel como banco público. Aliás, este papel está sendo deixado de lado; o banco existe para servir ao público, ao país, mas vem se comportando como uma instituição financeira qualquer, voltada para o mercado. Hoje em dia, por exemplo, é preciso batalhar para conseguir levar adiante o Pronaf (Programa de Agricultura Familiar do governo federal). Os funcionários novos muitas vezes não percebem a importância deste tipo de trabalho que o banco desenvolve. É por este e por outros motivos que nos empenhamos tanto na campanha pela isonomia nos bancos públicos, que vai extinguir as diferenças e permitir que os trabalhadores entendam a importância da instituição em que trabalham.
Fonte: Feeb RJ/ES