Preconceito no trabalho sempre faz parte da vida da travestis e transexuais
Neste domingo (7), em que se celebra a diversidade e a maior Parada LGBT do mundo, que acontece na cidade de São Paulo, travestis e transexuais seguem na luta pela inserção no mercado de trabalho. Em razão da identidade de gênero, a maioria das empresas seguem distantes do processo de inclusão e respeito à cidadania.
Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostram que a situação é preocupante: 90% estão se prostituindo no Brasil. Os números são parecidos com a pesquisa da Associação das Travestis e Transexuais do Triângulo Mineiro (Triângulo Trans), que revela que apenas 5% das travestis de Uberlândia estão no mercado formal de trabalho; 95% estão na prostituição.
Para o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno, o preconceito no mundo do trabalho sempre fez parte da vida da população de travestis e transexuais, já que, na maioria das empresas ocupar um cargo de alto-escalão é uma realidade distante.
“As travestis e transexuais sequer chegam ao mercado formal de trabalho. O que a gente tem visto é que essa discriminação às vezes é velada, o tratamento é diferenciado. A pessoa não tem carreira e o assédio moral é comum”, diz Magno.
Ledah Martins, mulher transexual, 25.Devido à falta de apoio familiar, as travestis e transexuais são expulsas/os cedo de casa e consequentemente sofrem com a evasão escolar por conta da transfobia. A transexual Ledah Martins, 25, DJ e produtora de evento, em entrevista ao Portal CUT, conta que fez mais de 15 entrevistas e não passou em nenhuma. “Eles diziam sempre que eu não me encaixava na vaga ou a equipe já estava completa. A maioria nem permitiu sequer um teste das minhas habilidades profissionais”, diz Leda.
Durante muito tempo, travestis e transexuais foram (são) tratadas como escória da sociedade. Mas, com o trabalho do movimento LGBT, principalmente aqueles com foco na questão trans, algumas políticas públicas começam a ter impacto positivo na vida das TTs. Mas, surgem outras dificuldades como, por exemplo, o uso do nome social, uma das principais demandas do movimento de travestis e transexuais.
Luis Fernando, que é um homem trans, relata que está com um processo aberto pela retificação da sua identidade de gênero nos documentos. “Isso provoca grandes constrangimentos, o que faz que muitos trabalhem em ‘subempregos’ ou telemarketing”, completa ele, dizendo ainda que as empresas de callcenter, que geralmente são terceirizadas, são as que mais empregam essa população. Ledah conta também que teve o mesmo problema numa entrevista. “Quando viram meus documentos ainda não alterados, perguntaram se eu era mesmo mulher. Respondi: sim, sou mulher”.
Para o secretario nacional de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Expedito Solaney, o mundo do trabalho é um espaço de repressão e opressão a essas minorias. “Nós defendemos e entendemos que é um direito humano a forma que você quer se apresentar para a sociedade”, afirma o dirigente.
A travesti Gabriela Garcia conta que já sofreu discriminação no mercado de trabalho e até dentro da universidade. “Quando entrei na faculdade falei para todos que o meu nome era Gabriela, e queria ser respeitada como tal”, salienta Garcia, primeira travesti professora e vereadora da cidade Cajamar-SP.