(São Paulo) Em entrevista ao Terra Magazine, o jornalista econômico Luiz Nassif afirma que a sobrevalorização da moeda ocorrida logo após a implantação do Plano Real não foi um mero erro de condução da economia, mas uma “operação de mercado”. A interpretação do jornalista sobre a formulação e a crise do Plano Real está no recém-lançado livro Os Cabeças-de-Planilha – Como o Pensamento Econômico da Era FHC Repetiu os Equívocos de Rui Barbosa.
Nassif vê uma ação deliberada dos formuladores e implementadores da política cambial do plano com o objetivo de beneficiar a si próprios e a grupos aliados. "Eles tomaram um conjunto de medidas técnicas cuja única lógica foi permitir enormes ganhos para quem sabia para onde o câmbio ia caminhar. E o grande vitorioso desse período é o André Lara Rezende, que é um dos formuladores dessa política cambial", disse Nassif na entrevista. O banco de investimentos Matrix, propriedade de Lara Rezende, ganhou “centenas de milhões de dólares naquele período”, de acordo com o economista.
O Plano Real foi lançado em 1994, sob promessas de paridade entre a nova moeda brasileira e o dólar. No entanto, o real desde o início valeu mais do que a moeda americana, diferença que aumentou com o tempo. Entre os resultados dessa sobrevalorização estão o alto déficit em conta corrente do período e a necessidade de manter juros altos, para atrair capitais especulativos, desacelerando a economia.
Segundo Nassif, em 1994 o país teve um momento que conseguiu “juntar um conjunto de idéias e políticas relevantes que permitem uma mudança de patamar”. No entanto, essa rara situação foi desperdiçada pela apreciação do câmbio. E, segundo Nassif, não foi um erro técnico. “Foi uma operação de mercado que resultou em um desastre mais adiante. E depois houve a perpetuação desse erro por conta de um presidente vacilante e com pouca visão de futuro”, sustenta.
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Fonte: Contraf, como informações do Terra Magazine
