Com o objetivo de resgatar a memória dos bancários e dirigentes presos, torturados e mortos durante a ditadura militar, o Sindicato dos Bancários de São Paulo estabeleceu uma Comissão da Verdade que buscará esclarecer fatos obscuros que envolvem a perseguição estatal ao movimento bancário e seus trabalhadores no período.
Os trabalhos serão baseados nos depoimentos de trabalhadores e dirigentes que viveram o regime militar. A partir deles, a comissão vai traçar uma linha do tempo que jogará luz sobre os acontecimentos entre 1964 e 1985.
“A intenção é conhecer as diferentes versões, recriar os fatos e propor uma reflexão a respeito daqueles anos”, diz o historiador Tiago Hilarino Christophi da Silva, que integra a comissão.
Um desses fatos ainda repletos de mistério é o assassinato do então presidente do Sindicato, Salvador Tolezano (foto), em 1970. Desaparecido em janeiro daquele ano, seu corpo foi achado alguns dias depois, em uma represa, na região de Sorocaba.
A versão oficial consta que ele foi vítima de um assalto comum, mas nem seu relógio de ouro e nem sua carteira foram levados, o que levanta suspeitas sobre a conclusão da polícia.
De acordo com Tiago, a comissão terá um caráter mais de memória social e menos de comprovação legal para retratar os fatos. “Se, por causa da legislação vigente, não é possível prender e julgar os torturadores e assassinos do Estado, a sociedade deve ter pelo menos o direito de saber que houve tortura e assassinatos em nome do Estado”, pondera o historiador.
Comissão Nacional da Verdade
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. A CNV tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.
A CUT criou uma comissão própria que ficou responsável por acompanhar as investigações e encaminhar à Comissão as denúncias de violações aos direitos humanos contra os trabalhadores.
“A CUT nasceu combatendo a ditadura militar, lutou para a reconstituição da memória e direito daqueles que juntos resistiram em defesa dos trabalhadores e das trabalhadoras. Tivemos sindicalistas assassinados, sindicatos invadidos e destituição de diretorias eleitas legitimamente”, explica Expedito Solaney, secretário de Políticas Sociais da CUT.
“Portanto, é nosso papel estar à frente das ações para que a Comissão Nacional da Verdade seja efetiva, soberana, que esclareça, averigue e aponte os responsáveis por tantos danos à classe trabalhadora e à sociedade”, conclui o dirigente da CUT.