Atividade paralela na Rio+20
O primeiro dia de Cúpula dos Povos marcou na sexta-feira (15) o início dos debates na Tenda Florestan Fernandes-CUT, no Riocentro, sede da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A CUT participou de sua primeira mesa na etapa oficial do encontro.
Mesmo ainda sem a presença dos chefes de Estado, a Rio+20 já atrai grandes personagens, como manifestantes do movimento vegan, que ignoraram o sol na capital carioca e se vestiram de bichos de pelúcia para chamar atenção sobre os maus tratos e abusos contra animais. Quem também se destacava era o carioca André Luiz. Vestido de camisa, calça sociais e gravata, e com as mãos amarradas à uma cruz, ele carregava cartazes com frases contra a discriminação racial. A quem passava por perto deixava o recado: “divulga lá, o mundo precisa de união.”
Dentro da cúpula, pela manhã, a secretaria de Juventude da CUT, Rosana Souza, participou de um debate que discutiu os empregos verdes e as oportunidades para os jovens trabalhadores.
Verde, mas decente
A dirigente da CUT reafirmou a bandeira que marca a atuação da Central nos encontros no Rio: a taxação sobre transações financeiras para financiar a transição para o modelo sustentável, a implementação da proteção social em todo o mundo para diminuir a vulnerabilidade das populações mais pobres, principalmente os trabalhadores, e a criação de empregos verdes, sempre dialogando com o trabalho decente.
Rosana voltou a citar uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata dos empregos verdes no Brasil e abordou a área de telecomunicação, com destaque para a atividade de operador de telemarketing, considerado pelo organismo como uma atividade sustentável.
“Esse setor é composto em sua maioria por jovens, mulheres, negros, homossexuais, que convivem com uma situação de salários muito baixos, alta rotatividade e apresentam uma grande quantidade de doenças ocupacionais. Isso não pode ser considerado emprego verde”, criticou.
Ela também lembrou a luta da CUT, ao lado de outros parceiros dos movimentos sociais, para a criação de um subcomitê da juventude para a construção de uma agenda específica do trabalho decente. O próximo objetivo, frisou, é colocar em prática as proposta definidas nesse espaço.
As intervenções de outros palestrantes indicaram o papel fundamental da juventude na liderança da economia verde que, por sua vez, pode gerar mais e melhores empregos, colaborar com a diminuição da pobreza e a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável.
Ministro do Meio Ambiente da Georgia, Jorge Zeoginidze, apontou, contudo a necessidade de investir em educação e formação para que isso aconteça.
Já o representante da organização Júnior Watchs, do Quênia, John Wall, faltou sobre o projeto do grupo que incentiva e prepara os jovens para o empreendedorismo e tem como parceiras empresas como a Nokia e a Coca-Cola.
Rosana, porém, encara com ressalvas essa possibilidade. “Não podemos investir dinheiro público em uma ação como essa acreditando que é solução para ampliar o ingresso de jovens no mercado de trabalho. Primeiro, porque é uma iniciativa para poucos e devemos investir em políticas públicas abrangentes, É uma forma de transferir a responsabilidade, que é do Estado, para o cidadão. Segundo, outros jovens serão incentivados a entrar como trabalhadores em projetos onde terão uma situação precária de trabalho, sem relação formal.”
Por fim, ao ser questionado pela plateia sobre o motivo de o G-77 – grupo de países em desenvolvimento – querer retirar o termo “emprego verde” do documento final da Rio+20, o ministro da Missão Permanente da Organização das Nações Unidas na Tanzânia, Modest Mero, citou a questão do financiamento.
“Não está devidamente definido o apoio à capacitação para países em desenvolvimento. Por isso estamos exitosos em assinar um cheque em branco, já que não há apoio da comunidade internacional.”
Estado indutor
Na tenda da CUT, a presidente da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi),Fernanda Magano, foi uma das participantes do debate que discutiu as políticas públicas de Estado se seus reflexos na seguridade social no Brasil.
Os debates enfatizaram a necessidade de manter as políticas públicas e universais e não perder o financiamento delas por parte do Estado.
Fernanda lembrou a convenção da OIT que terminou recentemente e definiu uma resolução sobre a implementação em todo o mundo do Piso de Proteção Social. “É uma iniciativa de superação da pobreza e da miséria muito importante e que não pode perder o caráter público, gratuito e de qualidade.
A preocupação, destaca a dirigente, está no fato de ações recentes prejudicarem esse caráter público em outras políticas, como o Sistema Único de Saúde (SUS), que perdeu a desvinculação das receitas da União, responsável por obrigar o investimento mínimo de 10% dos recursos federais no setor. Um abaixo assinado nacional em defesa da saúde pública brasileira já está na internet e você pode assinar clicando aqui.
Próximos passos
A participação da CUT na Cúpula dos Povos e na Rio+20 continua neste sábado (16), com destaque para o primeiro dos diálogos do desenvolvimento sustentável, na conferência oficial, às 11h, e uma atividade da Confederação Sindical das Américas, na Tenda da CUT. Ambas tratarão dos direitos dos migrantes.