Na avaliação da CUT, agência fechada é culpa dos donos dos bancos

Bancários querem negociar melhores salários e condições de trabalho

Ao boicotarem o diálogo e acreditarem que os trabalhadores bancários não seriam capazes de mobilizar as bases, os donos dos bancos conseguiram ampliar ainda mais a unidade. E, de quebra, ainda viram que a categoria está preparada para um diálogo nacional.

Essas foram as avaliações do presidente da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, e da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Leite, sobre a greve que completou 21 dias nesta quarta-feira (9).

“Achavam que não teríamos fôlego para aguentar uma paralisação tão longa, não só aguentamos como estamos fortalecendo a luta”, destaca Cordeiro.

A paralisação suspendeu nesta quarta as atividades em 12.136 agências, centros administrativos e call centers em todos os estados e no Distrito Federal. De acordo com a Contraf-CUT, o índice representa um crescimento de 97,5% em relação ao primeiro dia e é a maior greve dos últimos 20 anos.

“O resultado dessa greve é a retomada do diálogo, algo que é muito importante para os trabalhadores e para a sociedade. A nossa luta é por melhores salários, condições de trabalho e segurança para que possamos atender melhor a população. E, nesse processo de negociação, a solidariedade da CUT foi fundamental”, afirma Juvandia.

Como resposta à pressão dos bancários e a intervenção da CUT, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) finalmente resolveu agendar nova negociação para esta quinta-feira (10), às 10 horas. Em seguida, às 12 horas, haverá novas rodadas sobre as questões específicas com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal e, às 13 horas, com o Banco do Nordeste do Brasil.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, ressaltou a importância de frear a tentativa de os empresários emplacarem uma agenda de retirada de direitos e rebaixamento de salários.

“O Brasil só passou a distribuir renda porque elegemos um governo comprometido com os trabalhadores(as), o que também aumentou o poder de compra dos trabalhadores, resultado das lutas dos nossos sindicatos e confederações. A mobilização dos bancários estimula as demais categorias e, por isso, a necessidade de essa greve deixar bem claro que não vamos abrir mão de consolidar conquistas”, disse.

Trabalhadores não vão pagar a conta

De acordo com levantamento da empresa Economática, divulgado em maio deste ano, das cinco empresas que mais lucraram no país no primeiro trimestre, três são grandes bancos.

Juntos, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil ganharam R$ 8,948 bilhões nos primeiros três meses deste ano, valores acima do que obtiveram no ano passado. Ainda assim, a última proposta que a Fenaban apresentou foi de 7,1% de reajuste, no dia 4 de outubro, índice que equivale a 0,97% de aumento real (acima da inflação). Em 2012 e 2011, os aumentos foram de 1,5% e 2%, respectivamente.

Para Carlos Cordeiro, o retrocesso na tendência de aumentos reais apresentados pelos donos dos bancos é uma forma pressionar o governo, além de compensar as perdas com a política de redução de juros praticada pelo governo da presidenta Dilma Rousseff até o primeiro semestre deste ano.

Donos de bancos prejudicam o Brasil

Às vésperas do Dia das Crianças, a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) avalia que o comércio pode sofrer perdas de 30% por conta da postura intransigente dos banqueiros, que ignoraram a reivindicação dos trabalhadores bancários.

Ainda de acordo com o Serasa Experian, a procura por crédito pelo consumidor também caiu: 9,8% em comparação à setembro.

Mais investimento

Adotar uma postura inversa e praticar a responsabilidade social que os bancos tanto vendem nas campanhas publicitárias seria fundamental para o país.

Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a soma de reajustes, participação nos lucros e resultados (PLR) e vales alimentação e refeição conquistados pelos bancários em 2011 e 2012, injetou na economia R$ 7,197 bilhões e R$ 7,619 bilhões, respectivamente.

“Isso representa melhora no consumo e é fundamental para fazer a roda da economia girar”, explica Juvandia.

Ao contrário disso, a postura dos banqueiros foi de, novamente, utilizar o interdito proibitório – recurso jurídico para manter os trabalhadores em greve distantes do local de trabalho – e até mesmo disponibilizar helicópteros como forma de pressionar os bancários a furarem a greve e entrarem nas agências.

“Estamos denunciando essas práticas antissindicais à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e à OIT (Organização Internacional do Trabalho). Inclusive, o Santander estava demitindo trabalhadores durante a paralisação”, criticou Carlos Cordeiro.

Consciência nacional

O dirigente da Contraf-CUT ressalta que o caminho para enfrentar os ataques dos donos dos bancos é manter a unidade por meio da campanha nacional capaz de enfrentar um setor extremamente organizado e poderoso financeiramente.

“Ter uma mesma convenção para bancos públicos e privados, em todo território nacional, faz com que todos os trabalhadores da categoria tenham os mesmos direitos em todas as regiões do país”, salienta.

Para Carlos Cordeiro, a consciência da população sobre a necessidade de combater a ganância dos banqueiros por meio das paralisações cresceu após as manifestações de julho. E a expectativa é que a proposta da Fenaban, nesta quinta, represente maior respeito à sociedade.

“Esperamos que os bancos apresentem uma proposta para que possamos avançar. Caso contrário a greve continua”, conclui o presidente da Contraf-CUT.

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