“Paraguai, escuta: tua luta é nossa luta”, entoaram os movimentos sociais que se uniram nas esquinas das avenidas Paulista e Augusta, em frente ao prédio onde fica o gabinete regional da Presidência da República, em São Paulo, para denunciar o golpe realizado contra o presidente constitucional do país vizinho, Fernando Lugo.
Realizado no final da tarde de quinta-feira (28), o ato contou com a participação de lideranças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), da Marcha Mundial das Mulheres e de representantes de juventudes e organizações camponesas de 14 países da América Latina.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, professor João Antonio Felício, reiterou a importância da solidariedade internacional para isolar os golpistas e pressionar para a consolidação e avanço das conquistas obtidas no último período.
“É preciso deixar claro e dizer com todas as letras: o que houve no Paraguai é um golpe, pois se quebrou a ordem democrática. Houve um flagrante desrespeito à vontade legítima de milhões de paraguaios com o único objetivo de estabelecer o retrocesso. Tudo isso para que a elite volte a atentar contra a democracia e a integração latino-americana”, acrescentou.
João Felício lembrou que visitou recentemente o país irmão, onde o governo Lugo tentava a partir dos parcos recursos vindos dos impostos investir no desenvolvimento e na melhoria das condições de vida da população. “O problema é que no Paraguai os grandes latifundiários pagam 1% de imposto, enquanto o Estado fica sem recursos. É esta a elite que promoveu o golpe para defender os seus interesses”, ressaltou.
FORTALECER A RESISTÊNCIA
Na avaliação do líder cutista, “o momento é de fortalecer a resistência e exigir o restabelecimento da ordem democrática”. “Ao lado da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA) e dos movimentos sociais de todo o nosso Continente, a CUT está mobilizada para defender a democracia e impedir a volta ao passado”, enfatizou João Felício.
Para Alessandra Caregatti, da Marcha Mundial das Mulheres, o golpe no Paraguai “foi um tapa na cara de todos e todas que lutam por uma sociedade mais justa”. “Não podemos calar, é hora de levantar a nossa voz”, frisou.
De acordo com Socorro Gomes, dirigente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz), “estamos diante de um golpe travestido de legalidade, preparado pelas oligarquias que buscam sua hegemonia contra os interesses dos nossos países e povos”. “Todos os que lutam pela paz, soberania, democracia e integração devem estar unidos conosco contra o retrocesso”, disse.
Membro da coordenação nacional do MST, João Paulo lembrou que há muitas denúncias sobre a repressão que se seguiu à tomada de poder pelos golpistas, que foram patrocinados pelos Estados Unidos. “Eles pensam que nossos países são o seu quintal”. A unidade e a mobilização contra o imperialismo, refletiu, devem ser ampliadas, bem como a pressão para que os governos da região reforcem o isolamento da ditadura de Franco.
IMPERIALISMO PATROCINA GOLPISTAS
Conforme Ismael Cardoso, da UJS (União da Juventude Socialista), o golpe contra Lugo faz parte de uma reação contra forças políticas democráticas e progressistas em ascensão na América Latina. “A direita busca se reerguer com o apoio do imperialismo”, denunciou.
Em nome da Associação dos Imigrantes Paraguaios de São Paulo, Roberto González agradeceu a participação de todos “no ato de repúdio e indignação ao atentado contra a democracia” e destacou “que o atropelo à vontade popular representa um flagelo autoritário”. González pediu apoio para que os crimes cometidos contra os camponeses em Curuguaty sejam esclarecidos e que os culpados sejam exemplarmente punidos pelo massacre que serviu de pretexto para o impeachment do presidente Lugo.
“Como brasileiros, que nos solidarizamos com o povo paraguaio, rejeitamos o golpe e defendemos a democracia, realizamos este ato político para apoiar a postura firme da presidenta Dilma Rousseff e cobrar medidas ainda mais incisivas contra os golpistas”, sublinha o manifesto dos movimentos sociais divulgado ao final do evento.