Na análise que fez sobre a crise política, o ex-deputado afirmou que PSDB, PFL e grande parte da mídia construiu o impeachment do presidente Lula ou, no mínimo, adotou uma estratégia para que chegasse à eleição sem condições de conseguir novo mandato. “A mídia tomou partido, era para derrubar Lula. Subestimamos isso, fomos ingênuos”, afirmou. Ele lembrou também que na crise o partido e a esquerda brasileira demoraram a reagir e que por muito tempo fez-se a mesma leitura que a direita, sem levar em conta que eles estavam querendo derrubar o governo. A reação demorou.
Outro ponto levantado foi a necessidade de fazer a reforma política. “Ou fazemos a reforma do sistema político ou ele vai cair de podre”, disse. Um dos motivos que apontou para a crise foi o fato de o presidente Lula ser o único na América Latina sem maioria no Congresso, já que a esquerda não tem maioria no país e é obrigada a fazer acordos para governar.
Entre os principais erros cometidos ele destaca não ter sido feita a reforma política e administrativa necessárias, o governo ter deixado a estabilidade predominar sobre o desenvolvimento, a falta de mobilização e os principais quadros do partido que foram para o governo terem se afastado do PT. “Não é por sermos mais competentes, é que no mínimo éramos mais experientes e poderíamos ter ajudado a evitar alguns erros”, analisou.
Veja mais trechos do que disse Zé Dirceu
Começamos o governo com a herança maldita da dívida produzida pelo governo FHC, que não existia em 1994. Sem isso poderíamos ter superávit primário menor e investir mais. Mesmo assim conseguimos acabar com o constrangimento externo. No governo FHC, foram gerados US$ 188 bilhões de déficit em conta corrente. Só neste ano, conseguiremos superávit comercial de US$ 40 bilhões e US$ 15 bilhões de superávit na balança de pagamentos. As empresas pagaram 1/3 de suas dívidas externas. Com isso, o risco Brasil caiu, hoje está entre 250, 260, quando foi na média do período anterior de 750 pontos.
A vitória do PT substituiu a coalizão PSDB/PFL, de centro direita. O PT representa uma coalizão de esquerda.
O empresariado e a mídia têm mais poder que o governo, embora não se possa desprezar o poder do governo.
A esquerda não tem maioria no país.
O governo está o tempo todo
O Brasil tem condições de fazer seu desenvolvimento nacional e no governo Lula o estado tem papel importante nisso. Uma das mudanças foi que os bancos públicos, como BNDES, BB, passaram a fazer política de financiar o desenvolvimento.
Hoje, é necessário fazer a reforma tributária para distribuir renda. No governo Lula houve aumento de renda, mas foi com aumento dos salários e dos programas sociais.
O Brasil está criando 5 milhões de empregos em 4 anos e pode criar 8 milhões nos próximos 4 anos, contra a média de 100 mil empregos por ano no governo anterior.
É necessário aumentar a poupança pública para fazer investimentos, o Brasil não pode esperar mais. O investimento no transporte ferroviário e portuário está sendo feito pela iniciativa privada porque dá lucro, mas faltam recursos orçamentários para investir
O primeiro governo Lula criou as bases para um segundo mandato. Deve-se ao Palocci a administração da dívida pública, a inflação baixa, de cerca de 4%, que manteve o valor real do salário. Hoje, um salário mínimo compra duas cestas básicas.
A natureza do governo Lula é diferente do PSDB/PFL, quem não entendeu isso não entendeu nada.
Não há nada mais importante que a integração da América Latina, é necessário fazer essa integração. Temos de ter a dimensão do que é o Brasil.
No governo, Lula se revelou um grande estadista. Tem liderança, é conhecido em todo o mundo.
Sou contrário à autonomia do Banco Central, o BC já é autônomo, só falta ter mandato.
Lula fez um governo de centro-esquerda e a direita fez tudo isso para destruir Lula e o PT. Nós vamos enfrentar a direita ou não?
Tentaram me vender como primeiro-ministro, dizer que eu mandava, mas de dez discussões no governo eu perdia oito.
A área econômica nunca acertou a previsão de arrecadação do governo, sempre calculava para menos para a gente não gastar.
Fonte: Contraf-CUT