Centenas de organizações dos movimentos negros realizaram a Jornada dos Movimentos Negros Contra a Violência Policial, nesta quinta-feira (24), com atos em dezenas de cidades. A mobilização ocorreu em protesto às chacinas policiais que, no fim de julho e início de agosto, mataram pelo menos 32 pessoas na Bahia, 20 em São Paulo e 10 no Rio de Janeiro. A data também coincide com os 141 anos da morte do abolicionista Luiz Gama, cuja atuação é referência na luta por igualdade racial no país.
Os atos – que tiveram como mote a frase “Pelo fim da violência policial e de estado, nossas crianças e o povo negro querem viver! Chega de Chacinas!” – também exigiram justiça por Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), brutalmente assassinada no último dia 17 de agosto em sua casa, na frente dos netos. Ela era integrante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).
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Em Brasília, o ato foi marcado por uma caminhada na Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes, que interditou duas faixas da avenida. No Distrito Federal também houve homenagens ao adolescente Gustavo Henrique Soares Gomes, morto a tiros aos 17 anos em janeiro de 2022.
No Rio de Janeiro, foi ressaltado que o estado é local onde ocorre o maior número de mortes violentas de negros, pobres e favelados. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública sobre mortes violentas intencionais mostram que as pessoas negras são o alvo principal. Em 2022, houve 47.508 vítimas, 76,5% das quais eram negras.
A manifestação em São Paulo, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na movimentada avenida Paulista, cobrou o fim das chacinas policiais. Em Salvador, as manifestações foram em frente à Basílica do Senhor do Bonfim, na Cidade Baixa, onde foi realizada uma missa de sétimo dia da morte de Mãe Bernadete.
Ocorreram protestos em pelo menos outras 30 cidades de 25 estados do país.
Para o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, que participou da jornada no Rio, “esta é uma mobilização nacional, com protestos praticamente em todas as cidades do país. As entidades do movimento negro estão realizando atos como este da Candelária, contra a violência policial e contra a letalidade nas operações policiais. Esta é uma pressão para que parem de matar o povo negro”.
Almir ressaltou que “nossa luta contra esta realidade vai continuar e se intensificar. É necessário fazer com que o Estado mude a sua política de formação da polícia”. O dirigente pontuou que “o racismo presente na instituição, o racismo estrutural, tem feito com que a população perca milhares de vidas. Não podemos permitir que isto continue acontecendo e temos que repetir que vidas negras importam”.
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