O vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou, no início da noite desta terça-feira (5), em rede de rádio e televisão, a morte do presidente Hugo Chávez. À tarde, Maduro confirmou notícia dada na noite passada sobre o agravamento do estado de saúde de Chávez.
Ferrenho crítico do neoliberalismo e do governo dos Estados Unidos, Chávez morreu aos 58 anos, vítima de um câncer na região pélvica, com o qual convivia há um ano e meio. Desde que sua enfermidade foi diagnosticada, em junho de 2011, Chávez passava longos períodos em Cuba, onde tratava a doença.
No dia 18 de fevereiro, ele voltou à Venezuela de forma de surpreendente após dois meses em Cuba. “Chegamos de novo à Pátria venezuelana. Obrigado Deus meu! Obrigado povo amado! Aqui continuaremos o tratamento”, escreveu na ocasião em seu perfil no Twitter.
No pronunciamento, Maduro disse que, nas próximas horas, o governo vai informar onde será velado o corpo de Chávez e dará detalhes sobre o sepultamento. Maduro pediu que o povo venezuelano enfrente este momento “com o amor que Chávez ensinou”. O vice-presidente encerrou a fala com a frase: “Viva Hugo Chávez! Viva para Sempre”.
Medidas nacionalistas e estatizantes
Chávez assumiu o poder há pouco mais de uma década e sinalizou que pretendia se manter à frente do governo por tempo indeterminado. Em outubro de 2012, foi reeleito e, pela primeira vez, venceu com pequena diferença de votos: obteve 54%, enquanto o adversário Henrique Capriles, 44%.
Como paraquedista militar, Chávez sempre se orgulhou da disposição física. Era praticante de beisebol e fazia caminhadas diárias. Porém, no ano passado, admitiu estar com câncer.
Chávez foi internado em Havana, Cuba, para três cirurgias de urgência. Em uma delas, o presidente informou ter retirado um tumor da região pélvica. Dias depois confirmou que estava com câncer. Informações atribuídas a assessores indicaram duas suspeitas para o tumor de Chávez: no cólon ou na próstata. Porém, não houve detalhamento oficial.
Em dezembro de 2012, Chávez retornou a Cuba para mais uma cirurgia. Antes de deixar a Venezuela, pediu à população para que, na eventualidade da sua ausência, apoiasse o vice-presidente, Nicolás Maduro. A reação de Chávez surpreendeu e foi interpretada como a antecipação da transmissão do cargo de presidente. Imediatamente à partida de Chávez, foi aberta uma disputa política interna no país entre governistas e oposicionistas.
Chávez ficou mais de dois meses em Cuba. Depois, retornou à Venezuela. No comando do governo durante 12 anos, a palavra de ordem de Chávez foi a Revolução Bolivariana em defesa da unidade latino-americana e da melhoria da condição de vida dos mais pobres. Definindo-se como socialista, o presidente era um crítico do neoliberalismo, da globalização e da política norte-americana. Também se dizia defensor do nacionalismo adotando medidas estatizantes e causando temores em investidores externos, segundo especialistas.
Desde 2000, Chávez promoveu a nacionalização de vários setores da economia do país. Inicialmente, estatizou a siderúrgica Sidor – responsável por 85% da produção de aço no país – no mesmo período, ele começou o processo de nacionalização da empresa Petróleos de Venezuela (PDVSA), ação concluída em 2007.
No ano passado, o presidente da Venezuela anunciou a nacionalização de 11 plataformas de petróleo norte-americanas vinculadas à empresa Helmerich & Payne. Anteriormente, foi anunciada a estatização de fábricas do México, da França e da Suíça.
Na sua gestão, o venezuelano adotou como base as ações que se destinam à política assistencial envolvendo campanhas de alfabetização, de combate à desnutrição e à pobreza. Ao mesmo tempo, ele instaurou um regime militar rigoroso no país, modificou a Constituição – permitindo a reeleição sucessivas vezes – e alterou o sistema de funcionalismo público.
O estilo Chávez de conduzir a política interna e se manifestar sobre as questões externas dividia opiniões. Amigo de Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, Muammar Khadafi, então líder da Líbia, e Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, entre outras autoridades, o venezuelano não se esquivava de defender as pessoas próximas a ele. Em 2005 e 2006, ele foi incluído entre as 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista britânica The Time.
Em 2004, um grupo de manifestantes foi às ruas de Caracas pedir a saída de Chávez. Os protestos foram contidos pelas forças de segurança e, desde então, a relação do presidente venezuelano com a imprensa estrangeira passou a ser tensa. Segundo Chávez, a imprensa incitava o povo ao ódio, um dos alvos dele era a emissora de televisão Globovisión, que teve a concessão cancelada.
Bem-humorado, Chávez fez várias viagens ao Brasil. Em junho, quando fez a primeira visita oficial na gestão da presidenta Dilma Rousseff, ele usou muletas, pois alegou dores no joelho esquerdo. Anteriormente, havia desmarcado uma viagem também se queixando de dores no mesmo joelho. Porém, durante a vista a Brasília, brincou que seu mal era a idade. Em julho, ele compareceu à cerimônia de adesão da Venezuela ao Mercosul e indicou estar recuperado do câncer.
No entanto, em dezembro, quando houve a Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, na qual estava marcada uma cerimônia em homenagem à Venezuela, Chávez não participou. Em Cuba para tratamento de saúde, o presidente enviou uma delegação para as reuniões.