Minoritários votam contra R$ 300 milhões para 64 executivos do Santander

Acionistas minoritários votaram contra a remuneração global anual de R$ 300 milhões aos administradores do Santander em 2012, aprovada por maioria na assembleia do banco nesta quarta-feira (25), em São Paulo. Esses recursos milionários serão pagos para apenas 8 integrantes do Conselho de Administração e 56 membros da Diretoria Executiva.

Os minoritários Sindicato dos Bancários de São Paulo, Afubesp e Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT, apresentaram votos contrários por escrito para registro em ata.

Clique aqui para ler a íntegra dos votos do diretor da Contraf-CUT.

“Essa proposta desconsidera a crise financeira na Espanha, distribui mais uma vez milhões de reais para alguns poucos executivos e mantém a política diferenciada em relação à remuneração do conjunto dos 54 mil trabalhadores do banco”, protestou Ademir, que também é diretor da Afubesp.

“Enquanto o alto escalão é supervalorizado, os demais funcionários recebem salários que estão entre os menores do sistema financeiro, sem expectativas concretas e objetivas de ascensão profissional, diante da falta de um Plano de Cargos e Salários (PCS) com regras claras e transparentes para a valorização e o crescimento dentro da empresa”, criticou o dirigente sindical.

A maioria dos acionistas aprovou também as demonstrações financeiras e a destinação do lucro líquido de R$ 7,755 bilhões no exercício de 2011. Os minoritários votaram contra, na medida em que o Santander possui uma série de pendências com os funcionários e aposentados do banco.

Lucro x pendências

“Os participantes ativos e aposentados do Plano II do Banesprev começaram a arcar neste mês de abril com o pesado rateio do déficit acumulado nos últimos anos. Para muitos, a contribuição extraordinária chegou a ser maior do que a normal, o que representa pagamento mensal em dobro, comprometendo o seu orçamento familiar”, denunciou Ademir.

“Esse déficit é, acima de tudo, de natureza estrutural, notadamente pelo não-aporte pela patrocinadora Santander do serviço passado gerado quando da criação do plano. Em vez de não reconhecer essa dívida e responsabilizar os participantes para o custeio do déficit, o banco deveria pagar o serviço passado, pois o lucro permite saldar esse passivo com os banespianos”, defendeu o diretor da Contraf-CUT.

Ademir cobrou também mais contratações. “Em 2011, o Santander gerou apenas 196 empregos, o foi totalmente insuficiente”, disse. “O banco deveria contratar mais funcionários, suspender a política de rotatividade e remanejar para a rede de agências os funcionários dos centros administrativos atingidos pelo processo de fusão”.

A solução dos problemas dos aposentados também foi apontada pelos minoritários, tendo sido destacado o congelamento por cinco anos das aposentadorias e pensões do pessoal pré-75 do Banespa e a protelação do cumprimento das ações individuais e coletivas. “Um exemplo é a protelação envolvendo o pagamento das gratificações semestrais estatutárias”, citou Ademir.

O dirigente da Contraf-CUT cobrou o restabelecimento das regras antigas do ex-HolandaPrevi, hoje SantanderPrevi, aos participantes até 31 de maio de 2009. O minoritário propôs ainda melhores condições de saúde, segurança e trabalho, reversão das terceirizações, igualdade de oportunidades, fim das práticas antissindicais e acordo marco global.

Redução dos juros

“Os clientes, funcionários e aposentados do banco pagam no Brasil altas taxas de juros, muito superiores às praticadas na Espanha. Aqui os clientes arcam com tarifas de serviços e um spread bancário muito acima dos padrões internacionais”, destacou Ademir.

Apesar da nova queda da taxa Selic e do anúncio do banco de redução nas taxas de juros, várias linhas de crédito permanecem com taxas de juros inalteradas. “É o caso, por exemplo, dos juros do cheque especial para funcionários e aposentados, que permanecem em 5,90% ao mês, e dos juros do cartão de crédito, que seguem em 8,45% ao mês, o que são verdadeiros abusos”, criticou o diretor da Contraf-CUT.

Ele propôs “a redução imediata de juros e a isenção de tarifas para funcionários e aposentados do banco”.

Comitê Executivo

Os minoritários ainda votaram contra a proposta de alteração do estatuto social do Santander, que estabelece o Comitê Executivo, um órgão de caráter decisório, composto pelo presidente, vice-presidentes executivos seniores e vice-presidentes executivos, que se reúne semanalmente.

As deliberações tomadas versam sobre assuntos relacionados à administração dos negócios, suporte operacional, recursos humanos, alocação de capital, além de projetos relevantes nas áreas tecnológica, infraestrutura e serviços do Santander Brasil e demais sociedades integrantes do conglomerado econômico-financeiro do Santander no Brasil.

“Ocorre que essa proposta não prevê a eleição direta de um funcionário para integrar o Comitê Executivo, o que possibilitaria representação e participação dos trabalhadores na gestão da companhia, garantindo transparência nas decisões”, defendeu Ademir.

No Banespa, adquirido pelo Santander no processo de privatizações em 2000, havia a Diretoria de Representação e Participação (Direp). O diretor-representante era eleito diretamente pelos funcionários e tinha voz e voto nas reuniões da Diretoria Plena. “Foi uma experiência positiva e até hoje a Direp, mesmo tendo sido extinta após a privatização, possui vaga no Conselho Deliberativo do Banesprev”, apontou o sindicalista.

Sem explicações

Diante das especulações da imprensa sobre uma possível negociação do Santander com concorrentes como o Bradesco e o Banco do Brasil, os minoritários cobraram esclarecimentos dos representantes do banco. Ademir leu a íntegra das duas notas publicadas nas últimas semanas na coluna da jornalista Sônia Racy, principal articulista do jornal O Estado de S.Paulo. Ambas trouxeram muitas dúvidas e alimentaram uma onda de boatos em todo país. Confira:

“Para acompanhar” (dia 12 de abril)

“Alguns integrantes do Banco do Brasil andam cochichando que o Santander estaria mantendo conversas com o Bradesco – rumo a uma união. Já pelo mercado, a versão é outra: quem quer mesmo se casar com o pessoal do Santander é o pessoal do BB.”

“Da vida” (dia 25 de abril)

“Aprofundam-se pelo mercado rumores de que o Santander Brasil estaria sendo vendido a um banco brasileiro. Ao se tentar descobrir para quem, fontes dos grandes bancos sussurram hoje que o interessado na compra é. “aquele meu concorrente”. Será suspeito o primeiro que for visto na cidade de Santander, na Espanha, à procura de Emilio Botín.”

Após a leitura, o diretor da Contraf-CUT cobrou uma resposta do banco. “A direção do Santander deve explicações para os acionistas, o Brasil e os brasileiros”, frisou Ademir. Os representantes do banco, no entanto, se calaram e encerraram a assembleia.

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