Minoritários votam contra R$ 283,5 milhões para 62 dirigentes do Santander

Um grupo de acionistas minoritários votou contra a remuneração global anual dos diretores e integrantes do Conselho de Administração do Santander, fixada em R$ 283,540 milhões para o exercício de 2011 durante as assembleias geral ordinária e extraordinária de acionistas realizadas nesta terça-feira, dia 26, em São Paulo. Esse montante será pago para até 87 dirigentes. Considerando que hoje o banco espanhol possui 62, cada administrador receberá, em média, R$ 4,573 milhões neste ano, o que significa um ganho mensal de R$ 381,1 mil.

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A maioria dos acionistas também aprovou a remuneração global anual de R$ 3,960 milhões aos três integrantes do Comitê de Auditoria em 2011, o que significa uma média de R$ 1,320 milhão por ano para cada auditor, um ganho mensal de R$ 110 mil. Participaram da assembleia representantes de acionistas com 80% do capital social do banco com direito a voto.

“Novamente o Santander, na condição de acionista majoritário, aprova por maioria uma política diferenciada de remuneração, onde o alto escalão é supervalorizado enquanto os trabalhadores recebem apenas o mínimo estabelecido pelo mercado, sem expectativas concretas de ascensão profissional para a maioria esmagadora dos empregados, uma vez que o banco se nega a implantar um Plano de Cargos e Salários (PCS) que deixe transparente o caminho para o crescimento dentro da empresa”, protesta Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT, que protocolou documento e leu os seus votos contrários na assembleia, presidida pelo atual presidente do Conselho de Administração, Fábio Barbosa.

Também estiveram presentes os minoritários Rita Berlofa, diretora e procuradora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Paulo Salvador, presidente e procurador da Afubesp, que igualmente protocolaram documentos e fizeram manifestações na assembleia. Compareceram ainda Maria Rosani, tesoureira da Afubesp, e outros minoritários.

Olhar o que está atrás dos números

O balanço de 2010 apurou lucro de R$ 7,382 bilhões, sendo que o Brasil superou pela primeira vez o resultado da Espanha. “Avalio que os números poderiam ter sido melhores, caso o banco tivesse adotado as melhores práticas sociais e a melhoria das condições de trabalho para os funcionários”, destaca o diretor da Contraf-CUT.

“Também é preciso olhar o que está atrás dos números. A realidade mostra que os clientes pagam no Brasil altas taxas de juros, muito superiores às praticadas na Espanha, além de elevadas tarifas de serviços. Apesar disso, o banco é um dos líderes do ranking de reclamações de clientes no Banco Central, ficando em segundo lugar no mês de março deste ano”, ressalta Ademir.

“Além da redução de juros e tarifas, o banco deveria contratar mais funcionários, combater o assédio moral e reverter terceirizações, visando qualificar o atendimento aos clientes, oferecer bons serviços para a sociedade e melhorar a imagem da instituição no Brasil”, propõe o dirigente sindical.

Fim das metas abusivas e venda responsável de produtos

“Os trabalhadores, além das distorções salariais, estão submetidos à cobrança permanente de metas abusivas para a venda de produtos. Essas metas são quase sempre inatingíveis e não levam em conta as especificidades de cada unidade ou da clientela, além de não atentar para a ética no momento da venda, forçando o cliente a adquirir produtos que às vezes, em nada atendem suas necessidades”, denuncia Ademir.

“O banco deveria estimular a venda responsável de produtos, conforme recomenda a campanha mundial da UNI Finanças. O banco também deveria prevenir o assédio moral dos gestores, além de atentar para as questões relacionadas à saúde laboral. O banco deveria ainda investir muito mais em profissionais e equipamentos de segurança, prevenindo assaltos e sequestros e protegendo a vida de trabalhadores e clientes”, acrescenta o diretor da Contraf-CUT.

Lucro permite atender reivindicações dos trabalhadores

O atendimento das várias pendências com os funcionários da ativa e aposentados também foi cobrado pelos minoritários, tais como:

– contratação de mais funcionários nas agências;.

– igualdade de oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão profissional;

– pagamento do serviço passado do Plano II do Banesprev, ao invés de tentar responsabilizar os participantes para arcar com o déficit;

– restabelecimento das regras antigas do ex-HolandaPrevi, hoje SantanderPrevi, pois houve redução no aporte de recursos aos participantes que vieram do Banco Real e que ingressaram na empresa até o dia 31 de maio de 2009;

– reversão das terceirizações, visando acabar com a precarização das condições de trabalho e melhorar a satisfação dos clientes.

– solução para o passivo trabalhista dos aposentados, pois o banco tem protelado o pagamento das gratificações semestrais estatutários para os aposentados do ex-Banespa e o cumprimento de decisões judiciais envolvendo ações individuais, sendo com que muitos falecem sem receber os seus direitos.

Os minoritários cobraram ainda o combate ao assédio moral e o fim das práticas antissindicais, como o uso indevido da repressão policial e do interdito proibitório para cercear o exercício do direito constitucional de greve dos trabalhadores. Também reivindicaram negociações com a UNI Finanças para firmar um acordo marco global que garanta direitos fundamentais aos trabalhadores em todos os países onde o Santander atua.

Aposentados merecem respeito do Santander

Os minoritários cobraram respeito e dignidade para os aposentados do banco. Segundo Paulo Salvador, o Santander precisa rever a política para o segmento, pois eles se sentem maltratados, o que afeta negativamente a imagem da instituição no mercado. “Os aposentados são formadores de opinião nas comunidades onde atuam”, reforça Ademir.

Rita Berlofa reitera a necessidade de aporte pelo banco do serviço passado do Plano II do Banesprev, a correção das aposentadorias para o pessoal pré-75 e a retomada do pagamento das gratificações semestrais estatutárias.

O presidente da Afubesp alerta também para a possibilidade de instalação de uma CPI na Câmara dos Deputados sobre os títulos federais que estavam blindados para pagar os aposentados pré-75 do ex-Banespa e foram desbloqueados pelo Santander. Ele defende a retomada das negociações e a busca de uma solução para as pendências dos aposentados.

Eleição de representante dos trabalhadores no Conselho de Administração

Os minoritários também se manifestaram contra a eleição dos atuais membros do Conselho de Administração. O diretor da Contraf-CUT defende a eleição de um representante dos trabalhadores, a exemplo da lei federal nº 12.353/2010, assinada pelo ex-presidente Lula, que determina a eleição de um representante dos funcionários nos conselhos das empresas estatais, públicas e de economia mista ligadas à União.

“Não basta incentivar os empregados a ser acionistas do banco, como ocorreu com a doação de 100 ações em 2007 e a preferência por ocasião da oferta pública de units em 2009. Os funcionários do Santander, que conhecem a instituição e são os principais responsáveis pelos seus resultados, precisam também participar das decisões”, salienta Ademir.

A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) também recomenda que as empresas possuam representação dos trabalhadores no conselho de administração, como uma questão importante para a boa governança corporativa e para melhorar o relacionamento com a sociedade. “O Santander poderia ser o pioneiro entre os bancos privados no Brasil e garantir a participação dos trabalhadores no Conselho de Administração”, propõe o dirigente da Contraf-CUT.

Os representantes do Santander ouviram as manifestações dos minoritários, mas nada responderam.

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