Ministro da Fazenda volta a pedir mais crédito aos bancos privados

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a pedir aos bancos privados que aumentem os empréstimos para o consumo, enquanto o governo reduz as medidas de estímulo após o primeiro rebaixamento na sua nota de crédito soberano em uma década. “Faltam créditos para consumidores (…) Os bancos privados não estão liberando crédito. Eles têm que participar mais”, disse ontem o ministro Guido Mantega, em entrevista à TV Brasil.

Na semana passada Mantega já havia pedido mais créditos dos bancos para o financiamento de automóveis.

Na entrevista, que inaugurou o novo programa “Espaço Público” da TV Brasil, Mantega contou que a equipe econômica teve de “fazer ginástica” nas contas públicas para cumprir as metas fiscais em 2012. Mas negou que as operações feitas na época para alcançar a meta de superávit primário sejam exemplo de contabilidade criativa e ressaltou que governos anteriores também “forçaram a mão” nas contas públicas.

“O orçamento nunca foi tão transparente e fiscalizado. O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU), que são instituições rigorosíssimas, não apontaram irregularidades”, comentou. Mantega assegurou que, desde o ano passado, a equipe econômica mudou de postura e passou a ser mais transparente na administração das contas públicas.

Segundo Mantega, as operações foram necessárias porque a arrecadação desacelerou em 2012 por causa da crise econômica e das desonerações de tributos. “Em 2012, tivemos de fazer um grande esforço para cumprir a meta fiscal. A economia cresceu pouco, a arrecadação também. Para fazer o esforço fiscal, tivemos de cortar gastos e fazer ginástica. Tivemos de pegar o Fundo Soberano e forçamos a barra nesse sentido”, declarou.

De acordo com o ministro, a tática de “forçar a barra” nas contas públicas foi usada por outros ministros da Fazenda, como Delfim Netto, atualmente um dos maiores críticos às manobras fiscais da equipe econômica.

Mantega classificou como “despautério” reportagem da revista britânica “The Economist” que critica a estagnação da produtividade do trabalhador brasileiro nas últimas cinco décadas. Segundo ele, o texto ofendeu o país ao classificar o trabalhador brasileiro de preguiçoso.

“O artigo coloca o trabalhador brasileiro como preguiçoso. Acho que eles não conhecem nada do que está acontecendo. Nos últimos 50 anos, fizemos uma revolução no país”, declarou.

Segundo Mantega, a economia brasileira cresceu 17,7% de 2008, ano em que começou a crise econômica internacional, a 2013. O Reino Unido, país-sede da revista, registrou retração média do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 2% no mesmo período. “Com que autoridade, eles vêm falar disso no Brasil? Ou eles não conhecem [a realidade do país], ou estão de má vontade”, criticou.

Os choques de preços nas commodities – bens agrícolas e minerais com cotação internacional – e a desvalorização do real impediram a queda da inflação para o centro da meta, de 4,5%, nos últimos anos, afirmou Mantega. Ele admitiu contra tempo sem relação à trajetória dos índices de preços, mas reafirmou o compromisso com o controle da inflação e a autonomia do Banco Central (BC).

“Eu também gostaria de trabalhar com uma meta menor de inflação, mas vamos ser realistas. Nos últimos anos, temos tido pressões inflacionárias. Se, daqui para a frente, não houver mais desvalorização do real, teremos pressão inflacionária menor. Aí, poderemos tomar a tarefa de desindexação da economia”, declarou.

Segundo Mantega, nos últimos três anos, o planeta enfrentou choques nos preços das commodities provocados por secas nos Estados Unidos, na China e na Índia. Além disso, o real se desvalorizou 35% nos últimos dois anos.

Em resposta à pergunta da diarista Maria do Socorro Santos, que reclamou da alta nos preços dos alimentos, o ministro se disse otimista em relação à inflação desses produtos. Segundo Mantega, os preços dos alimentos cairão nos próximos meses até atingirem um “patamar mais tranquilo” em junho.

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