(São Paulo) A migração das contas dos servidores públicos estaduais e a definição do novo presidente da Nossa Caixa conturbam o início ano dos funcionários do banco. O excesso de trabalho, a pressão e jornadas de mais de dez horas estão se tornando uma triste realidade em agências de todo o estado de São Paulo.
Para Elias Malouf, da Federação dos Bancários da CUT (Fetec-CUT), a situação era previsível. “O governo estadual e a direção do banco tiveram uma atitude irresponsável com os funcionários e com os servidores públicos estaduais de promoveram a migração das contas dessa forma desorganizada”, lamenta. Para o dirigente, a necessidade de abertura de novas agências, com a contratação de mais funcionários, era urgente e foi ignorada.
Perfil do novo presidente
Para piorar a situação, o presidente indicado paraa instituição, Milton Luiz de Melo Santos, tem um currículo nada bom para dirigir o banco. Durante passagem pela Caixa Econômica Federal, de 1990 a 1992, ele respondeu a três processos no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, conhecido como "Conselhinho", e recebeu punição de multa em dois deles.
Milton Luiz foi acusado, solidariamente, por decisões tomadas pela diretoria colegiada da CEF. Os processos foram arquivados, e diziam respeito a liberação indevida de cruzados novos bloqueados pelo Plano Collor. A responsabilidade pela irregularidade foi atribuída pela Justiça aos gerentes, e não aos diretores.
O indicado para a presidência da Nossa Caixa foi condenado à inabilitação para exercer cargos no sistema financeiro por três anos pela concessão de empréstimo da CEF à Globopar. O Conselhinho considerou a operação irregular por terem sido cobrados encargos inferiores aos custos de captação, além de os princípios de seletividade, garantia e diversificação não terem sido cumpridos. A pena foi convertida em multa de R$ 4 mil.
O histórico de processos decorrentes da passagem pela direção do banco público inclui ainda uma multa de cerca de R$ 1.000 aplicada pela concessão de empréstimos a clientes com restrições cadastrais sem baixar operações inadimplentes a crédito em liquidação.
Além das pendências no Conselhinho, politicamente, o perfil não é nada animador. Depois de oito anos de tentativas de privatização da Nossa Caixa, o governador José Serra escolheu um administrador com perfil privatista. Em 1988, Milton Luiz comandou o processo de privatização do Agrimisa, em 1988, nomeado pelo então governador de Minas Gerais Newton Cardoso (PMDB). Ele trabalhou ainda com Serra em 1995 e 1996 no Ministério do Planejamento, como coordenador na Secretaria de Controle das Empresas Estatais, quando o processo de privatizações foi exacerbado na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
“O banco público e os funcionários estão correndo sérios riscos ao ter um gestor com histórico de irregularidades praticadas e perfil de privatizações”, alerta Malouf. “Os bancários precisam estar muito atentos e mobilizados para fazer o enfrentamento nos próximos anos, em defesa da Nossa Caixa.”
Fonte: Contraf-CUT