Os resultados dos últimos meses, de abril em particular, mostram um mercado de trabalho ainda com desempenho positivo, mas com menos força e muitas dúvidas para o restante do ano. Pela pesquisa Dieese/Seade, divulgada nesta quarta-feira (30), praticamente não houve alterações na PEA (população economicamente ativa) e no nível de ocupação – ou seja, ninguém entrou no mercado, que também não criou vagas.
Para o coordenador de análise da Fundação Seade, Alexandre Loloian, os dados não surpreendem e refletem um momento de incerteza na economia. Abril, por exemplo, já seria um mês de contratações, que ainda não ocorreram. Estável, a taxa de desemprego em São Paulo (11,2%, igual à de abril de 2011) foi a menor para o mês em 22 anos, como tem ocorrido recentemente, nas comparações anuais. A diferença é o menor dinamismo do mercado, da mesma forma que na economia.
De março para abril, as variações foram consideradas irrelevantes do ponto de vista estatístico: menos 5 mil pessoas na PEA, menos 9 mil ocupados, mais 5 mil desempregados. Em 12 meses, os números são mais expressivas: acréscimo de 505 mil na PEA (variação de 2,3%) e de 513 mil entre os ocupados (2,6%) e redução de 8 mil desempregados (-0,3%), para 2,428 milhões, no universo pesquisado (Distrito Federal e regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo).
Segundo Loloian, não é mais suficiente promover medidas de estímulo ao consumo em busca do crescimento da economia. Se é verdade que a atividade econômica vem sendo sustentada pela demanda interna e pelo consumo das famílias, o nível de renda da população ainda é baixo. “Portanto, a capacidade de endividamento também tem limites”, observa.
Assim, a massa salarial é “a galinha de ouro” da economia e “a garantia de que incentivos ao consumo podem ter alguma repercussão em termos de nível de atividade”, mas também é preciso aumentar o nível de investimento “se quisermos um crescimento sustentado”.
“Pelo contexto, o resultado de abril não é tão ruim. Poderia ter sido pior”, afirma a analista Ana Maria Belavenuto, do Dieese. “No curto prazo, há medidas sendo tomadas e, no longo prazo, problemas estruturais.” Apesar das incertezas, ela acredita que o desempenho do mercado de trabalho poderá ser um pouco melhor este ano do que em 2011, mas sem repetir os resultados recordes de 2010. “A expectativa é de que a economia cresça mais do que no ano passado.”
Em 12 meses, até abril, comércio e serviços foram os principais responsáveis pelo crescimento da ocupação. De 513 mil vagas abertas no período (expansão de 2,6%), o comércio abriu 198 mil (6,3%) e os serviços, 195 mil (1,8%). A construção civil mostra recuperação, com abertura de 86 mil postos de trabalho e a maior alta percentual (6,8%) – o setor só não cresceu em Porto Alegre (-5%), atingindo altas de 21,6% na região metropolitana de Salvador e de 19,6% em Recife. A indústria eliminou 37 mil vagas (queda de 1,2%, que chega a 6,7% em Fortaleza e a 13,4% em Salvador).
Um dado positivo é da continuação da tendência de formalização do mercado de trabalho. De maio do ano passado a abril deste ano, foram criadas 597 mil vagas com carteira assinada, expansão de 6,3%. O emprego sem carteira caiu 6% (114 mil a menos).
O rendimento médio dos ocupados (R$ 1.458) recuou 0,5% no mês, caindo em quatro regiões (Belo Horizonte, Recife, Salvador e São Paulo) e aumentando em três (Distrito Federal, Fortaleza e Porto Alegre). O menor valor foi apurado em Fortaleza (R$ 997) e o maior, no Distrito Federal (R$ 2.294). Em 12 meses, a renda sobe 0,8% e a massa de rendimentos, 3,9%. Em igual período do ano passado, a renda dos ocupados subia 4,7%, também em 12 meses.