Carolina Cortez
Valor Econômico
O desempenho mais fraco do setor financeiro este ano, sobretudo do segmento bancário, tende a afetar o bônus dos executivos que atuam nessa área. Segundo consultorias de recursos humanos ouvidas pelo Valor, é esperado uma queda na remuneração variável desses profissionais entre 10% e 30% em 2012.
“A pressão por spreads menores nos bancos, a dificuldade que as instituições estão enfrentando para gerar rentabilidade em um cenário de juros mais baixos e o impacto da crise financeira lá fora são fatores que devem segurar os bônus dos executivos de finanças este ano”, explica Bernardo Cavour, diretor da Flow para o segmento de bancos e private equity. Contudo, esse mercado ainda é bastante atraente para os profissionais, consolidando-se como um dos setores que pagam os bônus mais altos do país.
Segundo Eduardo Prado, diretor de recompensas, talento e comunicação da Towers Watson, o setor financeiro no Brasil tem apresentado um desempenho superior ao de seus pares internacionais, tendo em vista a dificuldade que muitas economias ainda estão enfrentando por conta da crise. Mesmo assim, o bônus dos executivos de finanças do país dependerá muito do ramo de atuação. Nos bancos de investimentos, por exemplo, o impacto da recessão foi mais forte que o previsto, influenciando negativamente a performance das carteiras e, consequentemente, as remunerações variáveis do segmento.
Já nos bancos de atacado e varejo, o crescimento da inadimplência e a queda forçada dos spreads afetaram diretamente os resultados das instituições, o que pode pressionar os bônus este ano. Nos primeiros nove meses do ano, os quatro maiores bancos de varejo do país apresentaram resultados muito aquém dos obtidos em 2011. No geral, houve queda no lucro líquido entre 7% e 20% – apenas um deles conseguiu ficar estável, gerando lucro de 2%.
“O setor financeiro ainda é o que melhor remunera seus executivos no que compete à meritocracia. Entretanto, a tendência é que, em volume, os bônus sejam cada vez menos robustos, equiparando-se a outras indústrias do país”, diz Prado.
Enquanto os bancos registraram lucros menores este ano, o desempenho da indústria de fundos de investimento variou muito conforme o tipo de carteira. Alguns fundos conseguiram diversificar e se destacar conquistando rentabilidade de até 20% no acumulado entre janeiro e outubro, frente ao mesmo período do ano passado. Quanto ao patrimônio líquido, a média geral foi de queda, que chegou a 25% em alguns casos. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Nesse segmento, a estratégia de investimentos foi o grande diferencial para balizar o bônus dos executivos. As gestoras de recursos, por exemplo, estão projetando bônus um pouco maiores este ano, segundo destaca Fábio Nunes, diretor executivo da Michael Page. No Rio de Janeiro, onde o mercado é mais focado nas assets, a expectativa é alta de 15% na remuneração variável.
“Algumas gestoras conseguiram diversificar as carteiras e apresentar uma boa performance mesmo em meio às dificuldades”. Já o segmento de private equity teve um desempenho mais fraco este ano, o que tende a afetar negativamente os bônus. “O setor ainda está de olho em novas aquisições. Como a fase de vendas ainda não chegou, os resultados podem crescer pouco”, diz.
Para Marcelo de Lucca, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), a “era dos bônus gordos minguou” de forma irreversível. “O mercado doméstico não está mais tão forte e a crise lá fora tende a se manter pelos próximos dois ou três anos”, diz. Nesse sentido, as instituições precisarão ser mais criativas para impulsionar resultados e pagar bônus maiores aos seus executivos.
O bônus de um executivo de banco de investimento chega a atingir 50 salários em instituições “mais agressivas”, segundo dados da Havik. Mas remunerações variáveis dessa categoria são minoria no mercado. Já em fundos de private equity, os bônus variam entre 10 e 20 salários para posições executivas em áreas de negócios. Nos bancos múltiplos, ele pode chegar a até 20 salários nas posições mais seniores, de nível executivo.
De acordo com Gabriela Coló, sócia da Havik, cada vez mais os bancos estão buscando eficiência, e a margem está caindo por conta da queda nos juros. “Desta forma, é mais difícil alcançar metas agressivas, e consequentemente, chegar ao topo dessas faixas de bônus”, diz. Além disso, a pressão por redução de custos também afetará a remuneração variável do setor.
“Os executivos devem esperar um bônus mais comedido este ano e em 2013, quando o mercado tende a se estabilizar”, afirma. Na percepção da consultoria, o cenário de bônus menos robustos está mudando a visão dos executivos sobre o setor financeiro. “Essa indústria, tradicionalmente, sempre foi mais atraente. Entretanto, se esses valores continuarem em queda, os executivos podem passar a olhar para outras áreas com mais interesse.”
O cenário de desaceleração também tende a afetar as perspectivas de contratação do setor no ano que vem. Alguns bancos, inclusive, anunciaram demissões em massa recentemente – principalmente aqueles com operações globais.
O Citigroup, por exemplo, informou ao mercado o desligamento de 11 mil funcionários no mundo todo, cerca de 4% da sua força de trabalho. No Brasil, serão fechadas 14 agências, de acordo com comunicado emitido em Nova York. Já o Santander pode demitir, no Brasil, mais de 5 mil colaboradores, segundo informações de sindicatos da categoria no Rio de Janeiro e em São Paulo. O banco, contudo, só confirma o desligamento de 415 funcionários este mês.