Memória: Serra assinou carta afirmando que PSDB não venderia Banespa

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, assinou carta em 1990 afirmando que seu partido não venderia o Banespa, que acabou sendo privatizado no governo FHC e adquirido pelos espanhóis do Santander.

A promessa, feita durante campanha a deputado federal, está registrada em documento firmado também pelo então candidato a governador Mário Covas e pelo candidato a senador Franco Montoro.

No texto, os políticos lembram que o então Banco do Estado de São Paulo tinha importante papel na história e que sua atuação se revestia de importância ainda maior num momento decisivo para o Brasil.

“Para o PSDB, o Banespa deve prosseguir em sua missão de agente oficial do desenvolvimento. Com força total (.) Os candidatos do PSDB opõem-se a qualquer investida sobre o Banespa movida por interesses alheios a esse desafio.”

“Na nossa administração, o Banespa que permanecerá como o banco público do Estado de São Paulo, ganhará novo impulso, podendo competir em pé de igualdade na área comercial e voltando ao pleno exercício de suas funções sociais.”

A carta indicava ainda que o PSDB valorizaria os funcionários do banco e terminava com a mensagem “Seja tucano de corpo e alma no nosso Banespa.”

À ocasião, Covas e Montoro sairiam derrotados. Quatro anos mais tarde, Serra venceria as eleições para senador, Covas passaria a ser governador de São Paulo e Montoro iria para a Câmara dos Deputados.

Já na primeira gestão de Covas foi montado o Programa Estadual de Desestatização (PED), coordenado pelo vice-governador Geraldo Alckim, que consistiu na venda das empresas públicas paulistas.

No dia 20 de novembro de 2000, há quase dez anos e após muita resistência dos bancários, o Banespa foi vendido por R$ 7 bilhões, valor considerado como um “marco na história do nosso país” pelos governos federal e estadual do PSDB.

Para que se tenha uma ideia, somente em 2009, em meio à crise financeira internacional, o Santander obteve lucro líquido de R$ 5,508 bilhões em suas operações no Brasil. A arrecadação foi de R$ 13,2 bilhões. Como lembrou à época da venda Armínio Fraga, presidente do Banco Central durante o governo Fernando Henrique Cardoso, os espanhóis levaram “a jóia da coroa”.

Naquela época, quando perguntado sobre a venda do Banco do Brasil, Fraga fingiu que não havia ouvido a pergunta e fez uma careta. “A privatização deixa clara a separação entre o negócio privado e uma política pública”, disse, segundo notícia do Portal Terra . Documento revelado este ano pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) mostra que já havia estudo para venda do BB e da Caixa Econômica Federal . Além disso, a ideia era deixar de lado o BNDES como banco de fomento.

O mesmo texto registra ainda a posição do então presidente do Banespa, Eduardo Guimarães, para quem “o Santander acaba de comprar um excelente banco com um corpo de funcionários invejável e que tem todas a condições para despontar como um dos líderes do sistema financeiro”. Hoje, não se tem dúvida disso. A dúvida que importa, por outro lado, é saber: se estava tão bom, por que foi vendido?

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