Organizadores esperam cerca de 60 mil participantes
Ana Cristina Campos
Agência Brasil
Sob chuva forte e temperatura de 15ºC, os participantes da tradicional marcha que marca a abertura do Fórum Social Mundial caminharam de forma pacífica, na tarde desta terça-feira (24), pelas ruas da região central de Túnis, capital da Tunísia.
Eles foram até o Museu do Bardo, onde ocorreu o atentado terrorista que deixou 22 mortos no dia 18 de março. A reabertura do museu ao público foi celebrada com uma cerimônia que teve a participação da Orquestra Sinfônica tunisiana.
Em torno do slogan “Povos do mundo unidos contra o terrorismo”, o público de cerca de 20 mil pessoas de diversos países, segundo a polícia, carregava faixas contra o extremismo e a violência pedindo justiça social, liberdade e paz.
Muitos gritavam palavras de ordem por uma Tunísia livre e unida contra o terrorismo e vestiam camisas em que estava escrito “Je suis Bardo” (Eu sou Bardo), em alusão ao “Je suis Charlie”, frase que marcou a onda de protestos contra o atentado ao jornal francês Charlie Hebdo em janeiro, em Paris. Também houve atos, bandeiras e faixas defendendo diversas causas, como a libertação da Palestina e a luta feminista, manifestações embaladas por cantos e danças.
A segurança estava reforçada ao longo de toda a caminhada e em frente ao museu com policiais fortemente armados e cercas de arame farpado em torno do prédio.
Abir Ben Arab, de 23 anos, estudante da Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade El Manar, onde ocorre o fórum, disse que participou da marcha para mostrar que a sociedade tunisiana está unida contra o extremismo. “O que aconteceu no Museu [ do Bardo] foi uma catástrofe para nós”.
O desempregado tunisiano Mrassi Oussama, de 33 anos, contou que foi à caminhada para reforçar a mensagem de que é necessário lutar contra o terrorismo. “Não se deve ter medo [do terrorismo]. É preciso lutar para acabar com os problemas sociais e políticos e defender a revolução [o levante popular que levou à derrubada do governo ditatorial de Zine Al Abidine Ben Ali, que estava há 23 anos no poder]”.
A Tunísia é considerada o berço da Primavera Árabe, a série de levantes populares que derrubou governos autoritários na região. A transição do país para um regime democrático é tido como o único caso de sucesso da onda de contestações, já que países como a Síria e o Egito estão assolados por conflitos.
O país promoveu eleições parlamentares e elegeu o presidente no ano passado, o líder do partido laico Nidaa Tounès, Beji Caid Essebsi. Foi a primeira vez desde a independência tunisiana do domínio francês, em 1956, que a população escolheu livremente o presidente do país.
A estudante universitária da Argélia, Lynda Tatou, de 23 anos, destacou que esteve na marcha para enviar uma mensagem contra o que ocorre nos países árabes mergulhados em violência e extremismo. “Vim em solidariedade ao povo tunisiano. Na Argélia, ainda acontecem problemas com grupos terroristas”, disse.
Pela manhã, a Assembleia das Mulheres marcou o início das atividades do Fórum Social Mundial, que vai até dia 28 de março. No anfiteatro lotado da Faculdade de Direito da Universidade El Manar, mulheres e homens se mobilizaram pedindo menos violência e mais igualdade de gênero. A ativista do movimento feminista Aicha Duishi, do Sul do Marrocos, afirmou que veio ao fórum para apoiar a sociedade tunisiana e a luta das mulheres da região do Norte da África.
O Fórum Social Mundial espera reunir cerca de 60 mil pessoas e tem quase 1,1 mil atividades previstas entre 24 e 28 de março. Mais de 4 mil organizações de 118 países estão inscritas para participar do evento, que terá como lema “Dignidade, direitos e liberdade”.