Mantega diz que bancos privados precisam acordar
O Estado de S. Paulo
Fábio Graner e Renata Veríssimo
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o resultado do Banco do Brasil divulgado nesta quinta-feira, 12, e criticou duramente a atuação dos bancos privados. Como resultado da estratégia de ampliação do crédito e redução das taxas de juros, ele afirmou que os bancos públicos conseguiram tomaram o mercado dos bancos privados . “É bom que os bancos privados se acautelem. Se não, vão perder mais mercado”.
Em um ataque direto ao presidente do banco Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que disse nesta semana que a redução de taxas de spread promovida por bancos oficiais “não é sustentável”, ele afirmou: “Setubal se equivocou, pois não viu o resultado do BB. Ele cometeu uma falácia, um erro grave”. O ministro disse ainda que os bancos privados deveriam seguir o exemplo do Banco do Brasil, “senão vão comer poeira”. E provocou: “Os bancos públicos tomaram mercado dos bancos privados. É bom que os bancos privados se acautelem”.
O ministro afirmou que o BB obteve lucro elevando o volume de crédito e baixando as taxas de juros, mesmo em meio à crise internacional. Essa foi a tática, segundo ele, dos bancos públicos brasileiros, que foram mais agressivos na busca de clientes durante a crise e, com isso, foram responsáveis pela recuperação da economia brasileira.
Em direção oposta dos bancos públicos, Mantega disse que nos bancos privados houve redução do crédito e aumento do spread bancário. Ele afirmou que o resultado do Banco do Brasil ocorreu com um nível de inadimplência menor do que a média do sistema financeiro e dentro da responsabilidade. “É uma lição para os bancos privados. É bom que eles acordem, se não vão ter uma fatia menor do mercado”, destacou.
No primeiro semestre do ano, o BB registrou lucro líquido de R$ 4,014 bilhões, alta de 0,55% ante o mesmo período de 2008. Excluindo os efeitos extraordinários, o lucro recorrente atingiu R$ 3,250 bilhões no semestre, montante 7,5% superior ao observado no mesmo intervalo do ano anterior. No segundo trimestre, o lucro do BB totalizou R$ 2,348 bilhões, crescimento de 42,8% sobre o mesmo período de 2008.
As receitas de operações de crédito totalizaram R$ 18,5 bilhões no 1º semestre, alta de 32,7% em relação ao mesmo período de 2008, acompanhando o crescimento da carteira de crédito. O balanço da instituição foi divulgado na madrugada desta quinta-feira, 13.
Varejo
Ele aproveitou para comentar também o resultado do comércio varejista no primeiro semestre de 2009. Segundo ele, o desempenho foi “excelente”. Mantega disse que o setor, excluindo material de construção e automóveis, vendeu 5,6% a mais em junho do que no mesmo mês de 2008, quando a economia estava crescendo fortemente.
Para o ministro, o resultado do setor varejista mostra que o Brasil tem um mercado consumidor robusto e que é este mercado interno que está impulsionando a reativação da economia brasileira. “Com este resultado, podemos dizer que o Brasil está superando a crise e saindo fortalecido e um dos vetores é o mercado consumidor, que está indo bem.”
Mantega contou que na reunião de ontem do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), formado por empresários de vários setores, eles mostraram que está havendo uma recuperação econômica em todos os setores. Ele citou a retomada do setor siderúrgico, que, segundo ele, opera com 70% da capacidade instalada, depois de ter ficado com metade da indústria parada no auge da crise.
Para o ministro, a recuperação da economia mostra que as políticas adotadas pelo governo, com desonerações e recuperação do crédito, foram bem-sucedidas. Ele lembrou que o setor automotivo, por exemplo, registrou vendas 2,4% maiores de janeiro a julho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo ele, já é possível hoje comprar automóvel com prazos mais longos e juros mais baixos. “Estou muito satisfeito com esse resultado e os empresários estão animados”.
O ministro disse que o Brasil está saindo fortalecido desta crise, ao contrário de outros países, como os EUA, que estão saindo da crise enfraquecidos.