MANIFESTO: O BB precisa tornar-se agente de desenvolvimento do governo

Sempre defendemos que o Banco do Brasil tenha papel fundamental na execução de políticas de desenvolvimento nacional e regional, de indutor de políticas de crédito e moderador das taxas de juros do sistema financeiro. A orientação neoliberal de governos passados deslocou o Banco desses papéis.

 

A eleição do governo Lula, em 2002, representou uma nova expectativa para o funcionalismo do banco e para a sociedade que sempre quis o BB como sinônimo de fomento à agricultura, a indústria, às micro e pequenas empresas. A eleição entusiasmou a todos que acreditam no desenvolvimento e se opuseram à sanha privatista dos dois governos tucanos.    

 

A expectativa se renovou em 2006. O tema das privatizações foi determinante na disputa eleitoral e mostrou que a população não aceita a liquidação de empresas-símbolo para o país, pelo papel que desempenham e pela sua eficiência. O povo reafirmou que Banco do Brasil, Caixa, Petrobrás e outras empresas devam permanecer sob o controle do Estado. No debate eleitoral, a candidatura do PSDB/PFL foi levada à defensiva e não conseguiu explicar porque o governo FHC abriu mão de patrimônio público, aprofundou o déficit público e social e não trouxe nenhum benefício à população.

 

Para as entidades sindicais e do funcionalismo que sempre resistimos ao esvaziamento do papel público e social do BB e à sua privatização, a reeleição de Lula acendeu novamente a esperança de que o Banco retomasse o papel histórico de agente financeiro articulado ao esforço governamental para inserir milhões de brasileiros na estrutura produtiva e incentivar a geração de emprego e renda. Renovamos a esperança de ver mudanças efetivas na direção da empresa e alinhar o banco a políticas públicas prioritárias. 

 

O BB pode se transformar em agente de políticas de crédito, de fomento e de moderador das taxas de juros sem abrir mão das melhores práticas de governança e de sua participação no mercado. Pode garantir retorno adequado aos acionistas sem abrir mão de ações e programas que contribuam para o desenvolvimento nacional, uma das diretrizes da sua missão institucional.

 

O Banco precisa incentivar o crédito como fator de inclusão social, voltando-se para a atividade produtiva, o microcrédito urbano, a inclusão econômica e o apoio à agricultura familiar. Deve priorizar ações integradoras de cadeias e arranjos produtivos locais e o desenvolvimento regional sustentável. Deve fortalecer e expandir seu apoio ao comércio exterior e às empresas brasileiras que se internacionalizam. Deve apoiar setores voltados para o desenvolvimento de novas tecnologias.

 

A agropecuária é fundamental para o país. O Banco, mesmo sendo forte alavanca dos agronegócios, continua a dever ações que dinamizem e fortaleçam os pequenos e micro-produtores rurais e contribuam para manter o homem no campo. Nestes quatro anos, o BB foi um fraco parceiro do governo Lula e só incentivou a agricultura familiar e as pequenas propriedades quando instado pelo governo. Mas continuou canalizando a maioria das linhas de crédito para o agronegócio e as grandes propriedades, colaborando com a concentração de renda e propriedade.

 

A estratégia do DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável) poderia se contrapor a esse modelo concentrador de renda. Mas não contou com o apoio da maioria da direção do Banco e foi tratada como uma grife a ser apresentada nos relatórios de responsabilidade sócio-ambiental da empresa. É preciso ampliar os programas do DRS, fazendo desta uma política de primeira grandeza do banco.

 

Pela sua capilaridade, seu histórico de envolvimento e seu relacionamento com as comunidades locais e pela multiplicidade de linhas de crédito que oferece, o BB pode ser o grande estimulador de negócios em setores com potencialidade criativa, associativa e empreendedora, que têm aumentado sua importância social e são cada vez mais reconhecidos na economia mundial. Para isso, seria necessário firmar convênios com cooperativas e associações de pequenos empreendedores, o que não acontece pelo conservadorismo dos atuais dirigentes do banco. Em vez de incentivar o cooperativismo, o banco só vê os produtores cooperados como potenciais consumidores de produtos de seguridade.

 

Nos negócios internacionais reside, talvez, o maior desalinhamento entre o Banco e as prioridades do governo. Lula fortaleceu as relações do Brasil com seus vizinhos da América do Sul, com os países emergentes da África, Oriente e Ásia. O Banco não acompanhou a aproximação brasileira com estes países nem a internacionalização de empresas brasileiras. Na América Latina, por exemplo, enquanto bancos espanhóis avançam, o BB reduz o número de agências e de escritórios, caminhando em direção oposta à do governo.

 

Eleito, Lula inaugurou seu segundo mandato lançando o Programa de Aceleração do Crescimento, para incentivar um novo ciclo de desenvolvimento no país, com distribuição de renda e justiça social.  Para viabilizar este ambicioso programa de investimentos em infra-estrutura, o governo terá de contar com o envolvimento decisivo da iniciativa privada e das empresas públicas. O Banco do Brasil não pode passar ao largo deste esforço: precisa colaborar na medida do seu tamanho, da competência de seus funcionários e dos recursos materiais que dispõe. Este é o momento do Banco recuperar sua grandeza e reatar seus compromissos históricos de agente do fomento.  

 

Para cumprir a missão de ser o banco de integração nacional, é imprescindível inverter a lógica que preside hoje a tomada de decisões. Que prioriza tão somente a maximização do lucro; que estimula e fortalece a concorrência e a competição entre as áreas internas do próprio banco, ao invés de unir o funcionalismo para superar desafios e aproveitar melhor as oportunidades. Queremos ver os “vários bancos existentes dentro do Banco” integrados em um só Banco do Brasil, parceiro dos demais bancos públicos federais e alinhado às políticas de governo.  

 

Ao BB não basta ser só o melhor banco do Brasil. Ele tem de ser o melhor banco para os brasileiros. Este foi o recado das urnas, quando a população se manifestou pelo fortalecimento do caráter público do Estado e das empresas que controla. O banco só conseguirá trilhar este caminho quando redefinir seu posicionamento estratégico. E tais mudanças dependem de alterações substanciais em seu corpo dirigente, pois a maioria dos que hoje o comandam ainda defende e implementa as políticas derrotadas pela população em outubro de 2006.

 

Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro

Sindicato dos Bancários de Brasília

Sindicato dos Bancários de São Paulo Osasco e Região

Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil

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