Março, mês de luta para as mulheres de todo mundo. Não há nada para ser comemorado: O Banco do Brasil aprofundou a diferenças entre homens e mulheres. E contrariando as falsas justificativas para ausências de mulheres na direção, o lugar da mulher é onde ela quiser e certamente encontraremos mulheres com capacidade técnica, vontade política e disponibilidade para dirigir o Banco, cujo o resultado foi construído por trabalhadoras que a política machista do BB insiste em manter na invisibilidade.
Sob a pretensa proposta de trazer o debate da equidade de gênero diretoria do Banco do Brasil divulga série de noticiais que evidencia a falta de participação das mulheres nos cargos gerencias do empresa. Os dados apresentados demonstram que embora o banco firme compromissos com as trabalhadoras e apareça como signatário de tratados internacionais como HeforShe da ONU, não foram implementadas programas e políticas que permitissem o encarreramento da mulher no BB nos últimos anos.
Não precisamos de novos compromissos necessitamos de uma mudanças na estrutura organizacional da empresa, pois em 2008 após pressão dos trabalhadores e trabalhadoras o Banco do Brasil, assinou acordo pró equidade de gênero. Muito se escreveu sobre a questão, código de ética foi alterado, novos acordos, inclusive internacionais foram assinado pelo Banco reafirmando o compromisso com as trabalhadoras. Passados nove anos, esperava-se encontrar um banco com mais participação das mulheres em todos os seguimentos, inclusive nos cargos diretivos da entidade.
Em 2008, éramos cerca de 85 mil funcionários do BB sendo 62% de homens e 38% de mulheres. Nas funções comissionadas operacionais, 56% eram do sexo masculino e 44% do sexo feminino. Nos cargos gerenciais, 70% eram homens e 30% mulheres. Na direção 90% dos cargos eram ocupados por homens e apenas 10% por mulheres.
Hoje as mulheres correspondem a 41% do quadro total de funcionários e os percentuais de comissionamento nos altos cargos do BB permanece praticamente inalterado, pois as mulheres ocupam apenas 11% deles. O crescimento de 1 ponto percentual poderia, de forma descontextualizada, indicar a ampliação das mulheres na direção do Banco, mas o que aconteceu foi a redução de vice presidências, diretorias e regionais do BB nos últimos anos decorrentes das diversas restruturações. Os percentuais minimizam a crueldade que é a participação das mulheres nos altos cargos do BB: estamos falando de uma, duas, no máximo três mulheres que ocupam cargos equivalentes ao de diretor.
O aprofundamento da desigualdade entre os gêneros no BB fica evidente quando se observa o aumento da quantidade de mulheres que ingressaram no banco. O concurso público, única via de ingresso no BB, não vê o gênero como critério desqualificador, e diferente de outras minorias sociais não possui política de cotas para ingresso. Ou seja, para ingresso no BB são avaliadas apenas as habilidades técnicas e a avaliação aprova mais mulher que homens. Depois do ingresso as concorrências internas habilitam mais homens que mulheres criando a falta de equidade nos processo de seleção e encarreiramento das mulheres.
Argumentos como: “as mulheres optam pela segurança e redução de jornada que o banco proporciona”, “depois da gerência média, as nomeações são políticas, e as mulheres não sabem fazer política e construir relações”, “o espaço corporativo é duro demais para as mulheres, muitas vezes temos que tomar decisões complicadas”, “cargos decisão implicam em disponibilidade de horário, questão incompatível com a realidade da mulher que tem sua família para cuidar” são propagados como mantras e moldam uma cultura institucional que prejudica as mulheres.
No desmonte do Banco do Brasil que vivenciamos hoje, sindicatos de todo o país receberam denúncias de mulheres grávidas que embora bem posicionadas no TAO eram preteridas em entrevistas presencias. Outras mulheres em licença-maternidade receberam ligações informando a perda da comissão em virtude de transferência de carteira ao encerramento da agencia. Foi necessário que o assunto fosse levado a mesa de negociação para que o banco se posicionasse e acabasse com essa política de violência de gênero. É necessário que social e profissionalmente homens e mulheres sejam trados de forma igualitária exercendo inclusive suas diferenças humanas e culturais. É mister que a ampliação da licença paternidade foi um avanço, mas ainda há muito que se construir para consolidar uma licença parental que tira o foco da mãe passando-o para a criança que necessita do cuidado dos pais de forma compartilhada e com equidade entre os gêneros.
É necessário luta, organização e unidade para ampliar direitos e buscar consolidar no BB uma política real de igualdade, que não transforme direitos conquistados em critérios para não comissionamento. Neste dia 8 de Março, não basta apenas publicações com fotos de mulheres sorridentes. Se reconhecer a carência mulheres no quadro diretivo é o primeiro passo, esperamos que o banco negocie com as entidades representativas ações que possibilitem colocar o discurso em prática para construir um banco com equidade de gênero.
Jannayna Lima – Seeb Ceará
Sandra Trajano- Seeb Pernambuco
Silvia Muto – Fetec-SP
Fernanda Lopes – Contraf-CUT
Karin Gonzalez – Seeb ABC
Debora Negrão – Conselho Fiscal da Previ
Elisa Figueiredo – Conselho deliberativo Cassi
Ana Smolka – Porto Alegre
Rita Mota – Conselho Fiscal da PREVI
Luciana Bagno – Seeb BH