Convocado pelos petroleiros, ato teve concentração na Cinelândia
CUT Nacional
Isaías Dalle
O ato realizado no centro da cidade do Rio de Janeiro em defesa do pré-sal e da Petrobrás, que terminou pouco depois das 14h desta segunda-feira 15, em frente ao edifício sede da empresa, reuniu leque variado de movimentos sociais e de partidos.
Convocado pela FUP (Federação Única dos Petroleiros), teve participação de delegações das centrais sindicais CUT, CTB, UGT, CSB e de sindicatos a elas filiados, do MST, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), do movimento negro, de entidades de luta dos trabalhadores com deficiência, lideranças jovens da UNE, do Levante Popular, do movimento feminista e de trabalhadores do campo, entre outros grupos organizados. Refletindo a conjuntura político-eleitoral, o ato teve presença também de lideranças nacionais e estaduais do PT, do PC do B e do PDT.
A concentração para o ato, que já se desenhava desde antes das 9h, em pouco tempo tomou por completo a praça defronte à Câmara Municipal do Rio, na popular Cinelândia. Os portais de notícias, por volta das 13h, falavam vagamente em “centenas” de manifestantes. Um deles se arriscou a citar, com falsa precisão, a presença de 500 pessoas.
Era muito mais que isso, seguramente. Bastava observar a caminhada que se iniciou por volta das 11h, cortando a avenida 13 de Maio e enchendo as janelas de simpatizantes desde o Teatro Municipal até os prédios comerciais ao longo da avenida República do Chile, onde a passarela que liga os prédios do Banco Central e da Petrobrás serviu de palanque para o principal ato do dia, com a presença do ex-presidente Lula.
Respeito ao pré-sal
Embaixo e ao redor da passarela, novas cores. Muitos uniformes de trabalhadores da Petrobrás e de empresas que atuam na cadeia do petróleo na região. “O ato é para mostrar que nós queremos respeito ao pré-sal. Tem candidato que demonstra não entender o que significa isso, diz que não vai valorizar. Não só eu, mas têm muitos que dependem disso”, explicou Luciano Marinho, metalúrgico de Niterói que trabalha numa fornecedora da estatal.
E foi esse mesmo o tom da manifestação. O presidente da CUT-RJ, Darby Igayara, disparou do caminhão de som: “Existem apenas dois projetos em disputa nessas eleições, não nos enganemos. Não existe terceira via. De um lado, os trabalhadores e aqueles que defendem um projeto de desenvolvimento nacional que aproveite as potencialidades do Brasil. Do outro, os outros”.
O petroleiro Roni Barbosa, presidente do Instituto Observatório Social, ao comentar as constantes denúncias contra a Petrobrás e o desdém de parte da imprensa para com o potencial do pré-sal, atribuiu-as a “aves de rapina”.
João Pedro Stédile, do MST, afirmou que o petróleo e, portanto, o pré-sal, é um bem maior que a própria Petrobrás. “Não pertence sequer à empresa, nem ao governo. Segundo nossos preceitos constitucionais, pertence ao povo brasileiro e, portanto, tem de ser usado em favor do povo brasileiro”. Stédile defendeu o fim dos leilões e o fortalecimento da Petrobrás como empresa pública. “Nenhum candidato a presidente têm o direito de criticar o pré-sal, porque ele é do povo”, disse.
Petróleo, sempre na mira
Ex-presidente da Petrobrás, onde hoje é diretor corporativo, José Eduardo Dutra participou do ato. Fez um breve retrospecto da história de 61 anos da empresa – fundada em 3 de outubro de 1953 – e lembrou que, desde então, a Petrobrás é alvo de ataques concentrados dos setores conservadores e alinhados ao capital internacional, sempre com acusações de corrupção.
“Sabem quem foi o presidente da CPI da Petrobrás em 1964?”, indagou. A CPI a que ele se refere foi instaurada em novembro de 1963 e serviu como uma das ferramentas para o golpe do ano seguinte. Dutra respondeu: “Antonio Carlos Magalhães, que era da UDN”.
Outra tentativa de desestabilização da companhia aconteceu em 1995, quando o governo FHC iniciava preparativos para sua privatização. Quem lembrou foi José Maria Rangel, coordenador da FUP: “Fizemos uma longa greve para denunciar e impedir o desmonte da empresa, e o governo jogou pesado contra nós. Mas eles não contavam com um detalhe fundamental: a solidariedade de classe”.
Naquele ano, diversas categorias se uniram à luta dos petroleiros, inclusive com levantamento de fundos, para dar suporte a uma greve que durou 32 dias.
Outra fonte de ameaça à Petrobrás, segundo os dirigentes, é a proposta de não se priorizar a exploração do pré-sal. “Hoje, 25% da gasolina e do óleo diesel que usamos no país vêm dessa fonte. O que querem, nos deixar a pé?”, provocou o secretário de Relações Internacionais da FUP, João Antonio de Moraes.
O ex-presidente Lula lembrou que os ataques à Petrobrás e às tentativas de impedir que o Brasil explore as riquezas proporcionadas pelo petróleo às vezes se dão de forma mais sutil que a convocação de CPIs. “Em 2002, quando eu era candidato, argumentei que nós deveríamos construir navios e plataformas aqui, e não no exterior. Fui atacado pelo governo e pelo ex-presidente da Petrobrás, que disse que não tínhamos tecnologia suficiente para isso. A realidade mostrou que nós tínhamos sim”.
Destacou que o atual governo projeta como meta produzir 4 mil barris diários com o pré-sal até 2020. “Se os lucros dessa produção vão ser aplicados em educação e saúde, quem não quer que isso aconteça?”, disse Lula.