Valor Econômico
Fabiana Lopes
O aumento dos spreads, a inadimplência mais baixa e o controle de custos são fatores que devem ter ajudado os quatro maiores bancos listados a registrar lucro maior no segundo trimestre, mesmo num ambiente de baixo crescimento do crédito.
A média de sete projeções obtidas pelo Valor aponta lucro líquido ajustado, sem considerar itens extraordinários, de R$ 11,9 bilhões, com alta de 11,9% ante o mesmo período de 2013 e de 0,4% em relação ao último trimestre. O resultado deve ser sustentado principalmente por Bradesco e Itaú Unibanco, enquanto Santander e Banco do Brasil devem mostrar desempenho mais fraco, repetindo o cenário do trimestre anterior.
Para o Bradesco, que divulga seus resultados amanhã, a previsão é de lucro líquido ajustado de R$ 3,561 bilhões, com aumento de 19,6% na comparação anual. O desempenho, segundo as projeções, será sustentado por ganhos com tarifas e, principalmente, por controle de custos. “Os gastos devem ficar sob controle e crescer abaixo da inflação, levando o banco a uma melhor eficiência”, dizem os analistas do Deustche Bank, em relatório.
Do lado do crédito, porém, o tom é mais conservador em relação à expectativa de crescimento da carteira, principalmente após as revisões de estimativas para o PIB. “O banco está mirando a parte de baixo do guidance. O crédito não tem evoluído muito”, diz o analista do Banco do Brasil, Carlos Daltozo. No início do ano, o banco previa que sua carteira cresceria de 10% a 14%.
No caso do Itaú, a perspectiva média aponta para lucro líquido de R$ 4,607 bilhões, soma 27,2% maior na comparação anual. Segundo os analistas, o movimento em torno do crédito é semelhante ao do Bradesco e ainda concentrado em linhas menos rentáveis, mas com menor risco e menor inadimplência.
“O banco deve repetir seu conservadorismo, focando em segmentos de baixo risco como crédito imobiliário e consignado, empurrando o crescimento da carteira de crédito para a base do guidance, enquanto as carteiras de veículos e pequenas empresas continuam a desacelerar”, avaliam os analistas do J. Safra.
A expectativa é que já no segundo trimestre o banco tenha se beneficiado da joint venture com o BMG, anunciada no primeiro trimestre. A parceria deve incrementar a carteira de consignado, que, segundo Daltozo, do BB, é menos exposta à volatilidade macroeconômica e a um cenário de maior desemprego, uma vez que entre 70% a 80% dos empréstimos se destinam a servidores públicos.
Entre os bancos privados, o Santander continua a caminhar com passos mais lentos. A perspectiva é que seu lucro líquido ajustado fique em R$ 1,267 bilhão, o que representaria queda de 10,1% ante o mesmo trimestre do ano passado.
Os analistas esperam um trimestre de baixa expansão do crédito e com linhas como a de pequenas e médias empresas e consignado crescendo menos que a média do mercado, enquanto a qualidade dos ativos tende a mostrar alguma deterioração. Também haverá pressão na margem.
“A margem financeira líquida ainda ficará sob pressão principalmente em função dos planos de otimização de capital do banco”, diz o analista da Ativa, Lenon Borges. Ele prevê impacto negativo de R$ 106 milhões por conta disso, perspectiva também compartilhada pelos analistas do Deustche, que calculam cerca de R$ 100 milhões.
Em setembro do ano passado, o Santander devolveu a seus acionistas R$ 6 bilhões de capital. Esse valor foi posteriormente transformado em títulos de dívida com peso de capital. A despesa financeira com a dívida deve, portanto, pesar no balanço do banco deste trimestre.
Um resultado aquém do esperado também deve ser visto no balanço do Banco do Brasil. O lucro líquido deve atingir R$ 2,480 bilhões, com baixa de 5,8% na comparação anual, apesar da alta de 1,8% ante o primeiro trimestre.
Os analistas ressaltam que, embora o banco apresente uma carteira de crédito mais agressiva em termos de crescimento, a expansão tende a se desacelerar. Além disso, como a instituição começou a elevar os spreads depois dos outros bancos e tem uma carteira de maior duração, sua margem financeira líquida deve continuar pressionada. Por outro lado, o banco deve manter o bom desempenho da BB Seguridade.
“O principal fator positivo do trimestre deve ser novamente os negócios de seguros, para o qual esperamos crescimento de 13% na comparação trimestral”, avaliam os analistas do Credit Suisse.
O bom desempenho do BB nesse segmento reflete uma tendência das instituições financeiras de diversificar a fonte de receitas, em tempos de crédito arrefecido. “Os bancos devem continuar com boas taxas de crescimento nas linhas de serviços e produtos no segundo trimestre”, diz a analista da Concórdia Karina Sanches.
Também pesa positivamente para os bancos um melhor cenário da inadimplência – que, segundo analistas, chegou ao piso neste ano após a estratégia das instituições de investir em carteiras de menor risco. Dessa forma, as margens também ficam menos pressionadas. “Na nossa visão, a margem financeira líquida deve estabilizar neste trimestre, depois de um período de quatro anos de pressão”, dizem os analistas do UBS.
O spread vem mostrando recuperação desde o início do ano. Em janeiro, segundo o Banco Central, o spread médio das operações de crédito era de 11,8 pontos percentuais, enquanto em junho o valor médio chegou a 12,7 pontos percentuais. Em maio, o spread alcançou o seu maior nível desde julho de 2013, 12,8 pontos percentuais.
Nesse contexto, apesar das perspectivas macroeconômicas serem incertas e de haver uma previsão de piora no nível de emprego, a estratégia de cautela dos últimos anos pode, segundo analistas, significar um período de menor crescimento no futuro mas de manutenção da rentabilidade.