A 6ª Conferência Mundial da UNI Mulheres, que antecedeu o 6º Congresso da UNI Global Union, que acontece na Filadélfia até esta quarta-feira (30), nos Estados Unidos, promoveu debates de temas atuais no mundo, que abordam a questão de gênero tanto no mercado de trabalho como na sociedade em geral. A pauta, sempre voltada à mulher, tratou da presença nos sindicatos, saúde e segurança, combate à violência e ao assédio, trabalho digno em ambiente sustentável e atenção à juventude.
No evento, encerrado no sábado (26) e que reuniu 582 participantes, que representaram 202 sindicatos, de 73 países diferentes, a irlandesa Carol Scheffer foi eleita nova presidenta da UNI Mulheres. As brasileiras no evento apresentaram a conjuntura política, econômica e social do Brasil e elogiaram a possibilidade de troca de experiência com companheiras de outros países.
Basta!
A secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, em sua participação, deu destaque à violência contra as mulheres e apresentou o projeto “Basta! Não irão nos calar!” Fernanda destacou a importância de “compartilhar com muitos sindicatos do mundo nossa experiência com o Projeto Basta, que atende mulheres vítimas de violência e conta hoje com 12 canais funcionando nas cinco regiões do país”.
A secretária ressaltou que, no Brasil, “mulheres vítimas de violência não têm amparo jurídico, infelizmente mulheres vítimas de violência não têm atendimento, e pelo Basta!, fazemos esse atendimento. Então, temos muito orgulho dessa experiência que fortalece o sindicato cidadão, porque são vidas que estamos salvando”. Fernanda comentou que “infelizmente todos os países trazem relatos semelhantes de violência contra as mulheres, mas juntas estamos trocando experiências exitosas e buscando transformar o mundo num lugar mais seguro para todas nós”.
Jovens
A secretária de Juventude da Contraf-CUT, Bianca Garbelini, abordou as barreiras às jovens mulheres na sua formação e seus impactos na participação feminina no ramo financeiro. “Os empregos que mais crescem atualmente no nosso ramo são os da área da tecnologia, já que a pandemia acelerou a digitalização nos bancos, área na qual infelizmente as mulheres são minoria. Historicamente, somos desincentivadas de estudar ciências exatas. Somos direcionadas para a área de cuidados, para atividades tidas como femininas”, relatou Bianca.
Para Bianca, “os sindicatos devem abraçar a tarefa de contribuir com a formação das jovens trabalhadoras para o emprego do futuro, que na realidade já é o emprego do presente, e garantir espaços de participação política para essas jovens. Jovens mulheres, especialmente no sul global, precisam de acesso ao estudo e ao trabalho decente, precisam de perspectiva de futuro, de um planeta vivo”. A secretária também observou que “as consequências da crise climática são sofridas por nós, mas não somos nós que causamos as alterações no clima, tampouco usufruímos do dinheiro e coisas cuja produção impactam o meio ambiente”.
Em todos os países
A presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP), Neiva Ribeiro, observou que “os depoimentos das delegadas foram incríveis e mostraram como são parecidos os problemas enfrentados em todos os países, mas como cada lugar tem sua forma de se organizar para conquistar trabalho decente para mulheres e homens, como lutar para que a digitalização do trabalho não precarize mais os empregos, uma vez que empregos precarizados normalmente são impostos às mulheres, com menores salários; por um mundo com sindicatos fortes, para que organizem os trabalhadores no enfrentamento ao neoliberalismo; com mais participação das mulheres dentro dos sindicatos e na política; que as mulheres tenham parceria dos homens, com eles se responsabilizando em igual medida por tarefas domésticas e cuidados com a família, de forma que mudemos a realidade da dupla jornada feminina e possamos ter condições plenas para a nossa participação sindical e política”.
Adoecimento e violência
Em sua intervenção, a secretária de Organização e Suporte Administrativo do Seeb-SP, Ana Beatriz Garbelini, falou sobre fatores que levam ao adoecimento das mulheres, como a dupla jornada de trabalho. “As mulheres são as grandes cuidadoras da sociedade, mas quem cuida das mulheres? No Brasil, tivemos um grande retrocesso nas políticas públicas para mulheres no último governo. Agora vivemos um momento de reconstrução, mas temos muito que avançar. As mulheres adoecem mentalmente por conta da sobrecarga de trabalho, fora de casa e dentro de casa, o cuidado com os filhos, com as pessoas doentes, e muitas vezes sofremos caladas”, disse.
A dirigente ainda reforçou que “a violência de gênero também contribui para esse adoecimento e, infelizmente, dentro dos sindicatos isso não é diferente. No nosso sindicato, conseguimos romper essa barreira, mas a luta é diária. E não é a realidade de outros sindicatos em nosso país e, pelo que temos visto aqui, no mundo de forma geral. Ainda vemos muito machismo impondo barreiras para a participação das mulheres. Nossa luta é para que os sindicatos sejam lugares de acolhimento, escuta, afeto, e que a participação das mulheres seja cada vez mais facilitada e bem-vinda, para que assim nos levantemos fortalecidas e sejamos capazes de levantar outras mulheres”, enfatizou.