No dia 19 de agosto é dia de celebrar o Orgulho Lésbico e em 29 do mesmo mês é o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Mas, para Adilson Barros, militante LGBT e diretor executivo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), não há muito o que comemorar. “No Brasil existem poucos sistemas adequados para monitoramento, registro e notificação de ódio e violência contra as mulheres lésbicas. Os dados oficiais são escassos e irregulares, mas pesquisas independentes mostram que elas são significativas e vem aumentando”, explicou o dirigente.
Segundo Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil de Ano de 2012, produzido pelo Instituto Patrícia Galvão, 37,59% das vítimas de violência homofóbica no país são contra lésbicas. As maiores vítimas são os gays, com 60,44% casos registrados. Travestis são 1,47% dos casos e transexuais 0,49%.
No entanto, na imprensa, a violência contra travestis são as mais divulgadas. De acordo com a pesquisa hemerográfica, em 2012 as travestis foram as mais vitimizadas pela violência homofóbica, sendo 51,68% do total; seguidas por gays (36,79%), lésbicas (9,78%), heterossexuais e bissexuais (1,17% e 0,39%, respectivamente).
“A visibilidade da violência contra lésbicas aumentou. Em 2011, apenas 6,7% dos casos noticiados pela imprensa tinham as lésbicas como vítimas. Mas, se considerarmos que quase 40% dos casos têm elas como vítimas e, na imprensa nem 10% dos casos são contra lésbicas, vemos que é preciso continuarmos denunciando os ataques que elas sofrem”, disse o diretor da Contraf-CUT.
Uma das justificativas da não visibilidade, segundo Adilson, é que as vítimas na maioria das vezes não se sentem seguras e não confiam nas autoridades competentes, mesmo com uma legislação que veio para inibir e punir os agressores.
“Uma vida livre de violência e de discriminações é um direito de todo cidadão brasileiro. Mas, o machismo impregnado em nossa sociedade reproduz relação de poder e vitimam as mulheres”, criticou Adilson.
Estupro coletivo
Entre janeiro de 2013 e 31 de março de 2014, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) monitorou a violência de LGBTI e contabilizou 594 casos de assassinatos, sendo 176 vítimas de ataques graves, embora não letais. Desse total, 55 foram contra mulheres lésbicas ou percebidas como tais. Segundo a OEA, mulheres lésbicas ou identificadas desta forma foram vítimas de “estupro corretivo”, ou com fins de puni-las, com a intenção de mudar sua orientação sexual; de espaçamentos coletivos por causa de manifestação pública de afeto; de ataques com ácidos; e de entrega forçada a centros que oferecem para “converter” sua orientação sexual.
“É preciso ressaltar que o ‘estupro corretivo’ se mostra o mais odioso, porque consiste em uma prática criminosa na qual o agressor acredita que poderá mudar através da violência sexual. Estes agressores chegam a incitar a ‘penetração corretiva’ em grupos de redes sociais”, lamenta o diretor da Contraf-CUT. “A sociedade precisa enxergar as mulheres lésbicas como cidadãs e intervir para evitar estes ataques e denunciar aos órgãos competentes. O disque 100, medida do Governo Federal em 2012, tem este caráter”, afirmou.
Para ele, as mulheres lésbicas têm direito de amar outras mulheres e não devem ser hostilizadas por isso. “A lesbofobia é um câncer para nossa sociedade em todas as esferas, e no mundo do trabalho não é tão diferente”, completou.
Mundo do Trabalho
As empresas tem enxergado no “pink money” (dinheiro rosa) uma oportunidade mercadológica. Trata-se do capital movimentado pelo consumo da comunidade LGBT, que representa mais de três milhões ao redor do mundo. Isto vem interferindo nas relações de trabalho e feito com que o empregador reconheça a potencialidade dos/das trabalhadores(as) independentemente de suas opções sexuais.
“As mulheres lésbicas querem ser reconhecidas pelo seu papel social e sua capacidade na produção, e viver acima de tudo o amor sem medo. Mas, muitas ainda são vítimas do machismo e do feminicídio e em diversos casos por serem mulheres lésbicas”, disse Adilson, lembrando que muitas vezes elas preferem omitir suas opções para fugir do assédio, demissões e verem ceifadas suas possibilidades de crescimento profissional.
“É preciso ressaltar, ainda, que dentro deste arcabouço, as mulheres ainda ganham 23% menos que homens”, completou o dirigente.
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