Livro foca violência no trabalho e apropriação da saúde dos bancários
A luta contra todas as formas de violência organizacional, que refletem a perversidade no trabalho ganhou um novo instrumento concreto. O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre reuniu grande público na manhã desta quinta-feira, 24, na sala de cinema da entidade, para o lançamento do livro “Teatro de Sombras: Relatório da Violência no Trabalho e Apropriação da Saúde dos Bancários”.
A obra agrega depoimentos de trabalhadores em instituições financeiras, vítimas da pressão exercida pelo cumprimento de metas, do excesso de trabalho e outras formas de gestão que levam ao adoecimento.
A abertura da programação contou com a participação de dirigentes e delegados sindicais, integrantes do Grupo de Ação Solidária (GAS) do SindBancários e especialistas em violência organizacional. O presidente do SindBancários, Mauro Salles Machado, destacou a falta de visibilidade das doenças geradas pelo trabalho e a retração da luta sindical pelo fim do adoecimento.
“Já fomos muito mais combativos na área da saúde do trabalhador. Estamos buscando parceiros para intensificar nossas ações. O mais importante é não perdermos a capacidade de indignação com as situações que tornam o ambiente de trabalho um lugar de adoecimento. Esta luta só vai acabar quando os trabalhadores não forem mais submetidos à violência no trabalho”, afirmou o presidente do SindBancários.
Já a assessora de Saúde do SindBancários e da Fetrafi-RS, Jacéia Netz, ressaltou a parceria estabelecida pelo Sindicato e a UFRGS para conclusão do projeto que possibilitou a organização do livro.
O médico do trabalho, doutor em Engenharia da Produção e professor da UFRGS, Paulo Antonio Barros de Oliveira, salientou o papel de vanguarda do SindBancários na luta pela saúde dos trabalhadores. “Poucas entidades sindicais conseguem manter políticas voltadas para a saúde por um longo tempo como o SindBancários”, elogiou o acadêmico.
Após a abertura, a doutora em Educação e pesquisadora no campo da saúde mental e trabalho, Maria da Graça Jacques, introduziu a discussão sobre violência organizacional no trabalho. Segundo a pesquisadora, que também é mestre em Psicologia Organizacional, o sofrimento e a dor se expressam através dos modos de gestão, com ênfase para a ideia de captação subjetiva, baseada na identificação do trabalhador com a empresa.
A professora observa que as condições de trabalho têm implicações visíveis sobre o corpo dos trabalhadores. “Cerca de 30% dos trabalhadores sofrem de transtornos mentais leves e um percentual entre 5 a 10% tem transtornos graves. Sendo que 90% dos casos são de depressão”, explica Maria da Graça.
Assédio Moral
A pesquisadora também questiona a abrangência do conceito de assédio moral. “Temos que tomar muito cuidado quanto ao uso do termo assédio moral. Está virando um conceito que serve para qualquer coisa e isso é um risco muito grande para os trabalhadores. Há três fatores que caracterizam o assédio: a repetição, a intencionalidade e a durabilidade. Além disso, o assédio se caracteriza como deliberada degradação das condições de trabalho”, esclarece a professora.
Ficção x vida real
Depois do painel inicial de lançamento, o Departamento de Saúde do SindBancários exibiu uma seleção de cenas dos filmes “Amor sem escalas” e “O diabo veste Prada”. O primeiro aborda o impacto inicial da demissão na vida nos trabalhadores, enquanto o segundo caracteriza diversas situações de assédio moral no trabalho e a captação da subjetividade do trabalhador pela empresa.
As atividades de lançamento do livro continuaram ao longo do dia com uma série de mesas temáticas relacionadas à violência organizacional.