Lançado livro da oficina do Sindicato de Porto Alegre sobre ditadura

Escritores da oficina literária do livro “50 anos do Golpe de 1964”

Sob os jacarandás e por entre as bancas de livros da Praça da Alfândega, um grupo de 14 escritores, sindicalistas, militantes e políticos produziram uma reflexão tão necessária quanto emotiva na tarde da segunda-feira (10), na Feira do Livro de Porto Alegre.

Resultado de um ano de trabalho da Oficina Literária do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, o livro “50 anos do Golpe de 1964 – 50 años del Golpe de 1964” teve debate e sessão de autógrafos. A passagem dos 50 anos da ditadura militar foi revivida com manifestações de quem contribui para que esta história jamais seja esquecida e que nunca mais ocorra.

A sessão de debates lotou os 84 lugares do Salão Oeste do Santander Cultural e faltou espaço. Houve fila no primeiro andar do prédio à porta do local do lançamento. Não menos concorrida foi a sessão de autógrafos no térreo do Memorial do Rio Grande do Sul duas horas depois da mesa que dialogou sobre o livro. E não por acaso. Entre os participantes da conversa estavam a deputada federal reeleita e ex-ministra da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Emoções

Coube a ela, chamada pelo orientador da oficina, o escritor Alcy Cheuiche, contar sua experiência histórica na luta por liberdade e à frente da Comissão da Verdade e da Justiça como ministra. Rosário estava emocionada. E não por acaso. O conto do oficineiro Gilmar Grossini, “Feliz Ano Velho, Maria”, lido pelo autor, era uma homenagem à história de lutas da deputada.

A leitura precedeu à fala da deputada. Ao lado da homenageada, as palavras, a sequência de sentenças e a história que ele leu eram a memória de um encontro pouco antes de a Comissão da Verdade, a qual Rosário coordena, existir.

O conto de Gilmar remete ao encontro entre o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado carioca Rubens Paiva, morto pela ditadura, nos anos 1970, e a deputada. O título faz menção a um livro de sucesso de Marcelo Rubens Paiva “Feliz Ano Velho” e o prenome da homenageada. Rosário havia contado esta história durante a entrevista que os oficineiros fizeram com ela em agosto durante a fase de coleta de material para os contos.

“Fiquei com dificuldade de falar. Fiquei emocionada. O que me emociona é que vocês fazem este trabalho literário e realizam uma reconstituição daquilo que nós somos como país”, enumerou Maria do Rosário, anunciando que exatamente no dia 10 de dezembro, um mês depois, a Comissão da Verdade irá apresentar relatório sobre as investigações que realizou em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília, à presidenta Dilma Rousseff. A oficineira Naiara Machado da Silva também leu o conto “Memórias reveladas”.

Ex-presidente do SindBancários e um dos idealizadores da Oficina Literária, Mauro Salles ressaltou a importância do papel de provocar a cultura que um Sindicato precisa desempenhar. Mauro também anunciou o projeto literário do ano que vem. O tema será “A mídia e a construção da história do Brasil”.

“A liberdade é a essência da luta. O nosso Sindicato, com um livro e um lançamento como este, mostra que, além da preocupação com a sua categoria, está em permanente trabalho de formação política. Precisamos enfrentar esse tema, ainda mais quando há uma parcela da população que quer a volta da Ditadura”, assinalou Mauro.

Alcy Cheuiche deu um conselho aos escritores novos que queiram se lançar na aventura de escrever. Ele, durante o debate no Santander Cultural, declamou poesia, leu trechos do livro e exaltou a importância da formação política para a escrita. E também das epígrafes.

“Costumo dizer aos meus alunos que coloquem nos seus livros uma epígrafe. A epígrafe costuma dizer exatamente o que a gente quer dizer”, explicou. Desde 2008, Alcy ministra oficinas no SindBancários. O livro “50 anos do Golpe de 1964” é o sétimo lançamento sob sua orientação.

O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, contou sua experiência de leitura com o livro. Ele disse que leu na íntegra todos os sete livros das oficinas. Cada um trouxe-lhe uma experiência diferente. O “50 anos do Golpe de 1964” foi devorado no fim de semana.

“Um livro quando é muito bom, a gente começa a ler e não consegue parar. Foi o que aconteceu comigo. Li no fim de semana. Algumas vezes, fiquei emocionado. Meu filho de 10 anos notou e chegou a comentar que eu não estava conseguindo esconder a minha emoção. Como bancário, como trabalhador e como agente da política, os relatos que estão aqui fazem parte da minha formação e da minha vida”, revelou o presidente.

Participaram também do debate e da sessão de autógrafos, autoridades políticas, como o deputado Raul Carrion, o vereador de Porto Alegre, Pedro Ruas, e o ex-governador, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro e ex-presidente do SindBancários, Olívio Dutra.

O perfil dos escritores

Basta conversar com um dos autores dos 42 contos do livro para compreender o envolvimento da turma. São 14 oficineiros. De março a outubro, a sala de reuniões da Casa dos Bancários foi o laboratório. Ao todo, foram quatro entrevistas realizadas pelos autores. Metodologia para levantar dados e reconstruir cenários. São contos, é certo, mas contos que procuram traduzir um tempo que aconteceu de fato.

Cada um dos 14 autores contribui com três contos. O livro tem versão em espanhol de Andrea Barrios. A maior parte dos oficineiros é de bancários. São oito. Mas há também motorista, jornalista, brigadiano e professora.

“Temos uma participação bastante importante dos bancários. Vejo que há muito interesse em exercitar a escrita. Isso é muito bom, pois os bancários são a categoria representada pelo Sindicato. A cada ano que passa, temos mais pessoas de outras profissões também assim como bancários. Isso é muito interessante porque podemos explorar diversidade de visões de mundo”, explicou Alcy Cheuiche.

Os autores e suas profissões

Almeri Espíndola de Souza – Bancária aposentada da Caixa
Bolívar Gomes de Almeida – Livreiro
Carlos Odone Dahlheimer Viale – Bancário do Banco do Brasil
Eneida Ferrari – Bancária aposentada do Banco do Brasil
Fernando Nussbaumer – Analista de sistemas do Banrisul
Gilmar Grossini – Motorista
Irineu Roque Zolin – Bancário aposentado do Banco do Brasil
Marcos Messerschimidt – Bancário do Banco do Brasil
Maria Gessi Bento – Professora
Naiara Machado da Silva – Bancária da Caixa
Nara Roxo – Jornalista
Paulo Franquilin – Oficial da Brigada Militar
Tania Mendonça – Bancária da Caixa
Vera Carrion – Engenheira

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