O Estado de S.Paulo
Fabio Graner
Refletindo o impacto das medidas anunciadas pelo Banco Central em dezembro, o crédito para pessoa física já está bem mais caro, com prazos mais curtos e sendo concedido em volumes significativamente menores.
De acordo com dados divulgados ontem pelo BC, a taxa de juros média nas operações de crédito pessoal, uma das principais modalidades oferecidas às famílias, disparou, atingindo a marca de 49,4% ao ano em janeiro. Em 6 de dezembro do ano passado, primeiro dia de vigência das regras que tinham por objetivo conter o ímpeto do crédito ao consumo, a taxa média praticada estava em 40,3% ao ano.
A média diária de concessões de crédito pessoal caiu quase 20%, para R$ 571 milhões. E o prazo médio, que era de quase cinco anos (cerca de 1.700 dias), despencou para pouco mais de três anos e meio (em torno de 1.300 dias).
Nos financiamentos de veículos, que também tiveram tratamento especial no conjunto de medidas adotado pelo BC, os movimentos foram na mesma direção: juros em alta (especialmente nos bancos não vinculados a montadoras, cuja taxa média subiu quase cinco pontos porcentuais, para 27,7% ao ano), concessões em queda significativa (também com destaque aos bancos tradicionais, que reduziram em 45% os financiamentos concedidos) e prazos encurtados (em torno de 1.050 dias ou quase três anos).
No início de dezembro, a autoridade monetária, visando conter “certos excessos do mercado de crédito”, impôs uma reserva maior de dinheiro pelos bancos quando fizerem operações pessoas físicas com prazo acima de dois anos. No caso de automóveis, essa reserva varia conforme a entrada que o comprador do veículo der. Além disso, o BC elevou o recolhimento compulsório dos bancos, tirando da economia cerca de R$ 65 bilhões.
Complemento. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, que aproveitou a divulgação do boletim regional do Banco Central, em Salvador, para apresentar os dados parciais sobre o crédito em janeiro, afirmou que os números mostram que as medidas macroprudenciais funcionaram “adequadamente”.
“As respostas que a gente vê nos dados foram as esperadas”, comentou.
Apesar disso, Hamilton salientou que tais ações complementam, mas não substituem a alta de juros, por isso o Banco Central já começou a subir a taxa básica (Selic) em janeiro. Ele explicou que a principal diferença entre as medidas macroprudenciais e a “ação convencional” de política monetária é que a primeira atua mais limitadamente, apenas no crédito, enquanto os juros, além de afetarem esse canal, também impactam a economia por meio da substituição de consumo por poupança e por meio das expectativas. “O alcance da ação convencional é mais abrangente”, disse o diretor.
Questionado sobre se a fase de uso de medidas macroprudenciais no esforço de controle da inflação já estava encerrado, Hamilton evitou responder, limitando-se a usar o mantra: “Não comentamos sobre decisões futuras. Só sobre o passado”.
Orçamento. O anúncio de corte de R$ 50 bilhões em despesas do Orçamento de 2011, anunciado anteontem pelo governo, foi bem recebido no Banco Central. “O corte vai contribuir de forma importante para contenção da demanda agregada e, portanto, para que o cenário inflacionário seja mais favorável neste e no próximo ano”, disse Hamilton.