Juros de crédito pessoal chegam a 1.000% ao ano, aponta Banco Central

O que aparenta ser fácil demais pode, na verdade, se revelar uma grande armadilha. A dica vale, sobretudo, para quem recorre a bancos e financeiras que prometem crédito imediato e descomplicado mesmo para clientes sem histórico de bons pagadores. O que é vendido como facilidade pode custar caro.

Levantamento feito pelo Correio Braziliense com base em dados do Banco Central (BC) mostra que há instituições que chegam a cobrar quase 1.000% de juros ao ano para emprestar dinheiro no crédito pessoal.

Os valores, ainda que elevados, nem sempre são percebidos pelos consumidores que recorrem a essas linhas de empréstimo. Ainda hoje há muita gente que não se atenta ao que está escrito no contrato, nas letrinhas miúdas. Para essas pessoas, o que importa é se a parcela do financiamento vai caber no orçamento do mês, observou o especialista em finanças pessoais Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

Os bancos e as financeiras que praticam os juros mais elevados são justamente aqueles que oferecem mais facilidades na hora de conceder empréstimos. Um exemplo é o Banco Daycoval, que diz oferecer crédito de forma rápida, segura e sem burocracia a clientes. Dados do BC mostram que a taxa cobrada pela instituição no crédito pessoal foi de 988,1% ao ano no levantamento feito entre 28 de março e 3 de abril, com informações prestadas pela própria instituição.

Uma pessoa que pegasse R$ 1 mil a essa taxa pagaria, ao fim do empréstimo de 12 meses, R$ 2.371,86.

Em segundo lugar nessa lista, aparece a financeira Crefisa, cujo slogan publicitário é: dinheiro em até 24 horas para (cliente) negativado. No levantamento, a instituição aparece cobrando juros de 827,9% ao ano no crédito pessoal.

A terceira posição é ocupada pela Bradescard, que oferece cartões de loja para varejistas como Casas Bahia, C&A e o atacadista Makro. As taxas cobradas foram de 370,5% ao ano, de acordo com o BC.

Engano

O que leva os bancos a oferecer crédito a clientes com maior risco de calote, diz o especialista em finanças pessoais Ricardo Rocha, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), é justamente a maior possibilidade de ganho.

A instituição financeira que cobra quase 1.000% de juros ao ano sabe que quem tomar esse empréstimo provavelmente não vai ter condições de honrar o contrato até o fim, observou.

Então, em um contrato de 24 parcelas, se o cliente conseguir quitar seis ou sete, já terá pagado um preço justo, disse. No fundo, os dois estão se enganando porque ambos sabem que contrataram um crédito que não vai ser honrado, assinalou.

Um passo antes de entrar nesse tipo de empréstimos, dizem os especialistas, é buscar recursos mais em conta, como o consignado e, em último caso, o rotativo do cartão de crédito ou o cheque especial. Mas, mesmo quem recorre a essas linhas não vem tendo vida fácil.

Cinco dos seis principais bancos do país cobram taxas que ultrapassam os 100% ao ano nessas operações. A exceção é a Caixa Econômica Federal, que oferece cheque especial a 80,3% ao ano. É quase três vezes menos que o cobrado pelo Santander, o líder desse ranking 236,3% ao ano. Quase empatado está o HSBC, com de 229,1% anuais (veja quadro).

O Correio não conseguiu contatar os bancos e financeiras mencionados na reportagem.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram