Aiana Freitas
Do UOL, em São Paulo
Grandes bancos anunciaram, nas últimas semanas, reduções nos juros que cobram nos cartões de crédito. Mas, apesar do alarde feito pelas instituições, as taxas cobradas por elas ainda superam os juros de bancos em outros países da América Latina.
Na semana passada, o Bradesco anunciou o corte, pela metade, dos juros cobrados no crédito rotativo dos seus cartões de crédito com bandeiras Visa, American Express, Elo e Mastercard. O rotativo é o crédito usado pelo consumidor quando ele não paga o valor integral, rolando o restante da dívida para outros meses.
Segundo o Bradesco, o juro máximo mensal foi reduzido em 54%, caindo de 14,9% para 6,9% ao mês. Ao ano, a taxa ficou em 122,71%.
Para efeito de comparação, no Peru, a taxa média do cartão de crédito é de menos da metade: 3,68% ao mês ou 55% ao ano, segundo estudo feito pela associação de consumidores Proteste.
Na Argentina, é de 3,44% ao mês e 50% anuais. Na Colômbia, de 2,16% ao mês e 29,23% ao ano.
“Mesmo após as reduções, ainda temos uma das taxas mais altas do mundo”, diz o economista Samy Dana, professor da FGV. “Só em lugares em que os bancos têm margens de lucro exorbitantes, como no Brasil, é possível reduzir os juros pela metade e eles permanecerem altos.”
A pesquisa da Proteste foi feita apenas com os países da América Latina porque são eles que costumam cobrar as taxas mais altas. Na maior parte dos países da zona do euro, por exemplo, além de as taxas serem menores, não há financiamento do saldo devedor do cartão.
Bancos públicos também cobram taxas altas
Mesmo nos bancos públicos, as taxas permanecem altas se comparadas àquelas cobradas nos países vizinhos. A taxa dos cartões da Caixa Econômica Federal varia, atualmente, de 4,65% a 5,65% ao mês. Isso representa, ao ano, uma variação de 72,53% a 93,39%.
No Banco do Brasil, as taxas para os cartões Ourocard variam de 2,88% a 5,7% ao mês, ou de 40,6% a 94,49% ao ano.
Neste caso, a taxa mínima até é menor do que a cobrada em alguns países latinos. Só que as menores taxas são destinadas a um grupo restrito de consumidores, geralmente pessoas com longo histórico de relacionamento com o banco e usuárias de vários produtos, como conta corrente, financiamentos e consórcios, por exemplo.
Inadimplência não justifica tamanho dos juros
Para Samy Dana, os argumentos comumente usados pelos bancos para justificar os altos juros, como a inadimplência, não fazem sentido.
“Se a inadimplência está alta, o banco deveria rever seus processos de concessão de crédito, e não cobrar isso do consumidor. A inadimplência é um risco do negócio do banco”, diz Dana.
O economista considera positivo o movimento do governo de pressionar pelo corte de juros nos bancos públicos. Mas, para ele, as taxas só vão cair mesmo quando os consumidores tiverem mais informações sobre elas.
“As pessoas entram num financiamento só porque veem que a parcela cabe no bolso”, afirma o economista.
Para ele, se os consumidores tivessem o hábito de perguntar de quanto são os juros embutidos nas prestações, pensariam duas vezes antes de contratar financiamento. E tenderiam a pesquisar as taxas em outros bancos.
“Quando elas tiverem mais consciência de quanto estão pagando é que haverá, de fato, estímulo à concorrência”, afirma.