Juro real abaixo das metas acelera mudanças nos fundos de pensão

Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo

Os próximos anos serão de intensas movimentações para os fundos de pensão. Com o juro real na casa dos 5% ao ano, abaixo das metas atuariais (6%) as entidades terão de rever suas políticas de investimentos e realocar boa parte de seus ativos.

Segundo levantamento da consultoria RiskOffice, em até três anos, os investimentos em ações terão de passar de pouco mais de 12% das carteiras para cerca de 35% do patrimônio das fundações (essa estatística não inclui a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, que tem mais de 50% em ações, o que distorceria os dados).

Os fundos também terão de ampliar os investimentos em títulos públicos atrelados à inflação, como as NTNs. O ideal, diz Marcelo Rabbat, diretor da RiskOffice, é subir dos atuais 30% para algo próximo a 50%.

Por outro lado, deverá haver uma grande migração de mais da metade dos ativos, hoje alocados em papéis públicos vinculados ao CDI, para outras modalidades, mantendo apenas um caixa mínimo da ordem de 5% do total, para garantia de liquidez.

“Muitos fundos estão impedidos de aplicar recursos em ativos com retorno menor do que sua meta atuarial, mas os títulos públicos hoje já pagam menos do que 6%. O mais importante é que precisa haver uma mudança de cultura”, afirma Rabbat.

Além da busca por renda variável e por ativos de inflação, as entidades terão de ampliar a participação em títulos de maior risco, como crédito corporativo e fundos de “private equity”. Mas Rabbat alerta que esses mercados ainda apresentam desafios, como os problemas de precificação, de formalização e de gestão de garantias dos ativos de crédito, por exemplo.

Segundo Fernando Lovisotto, diretor da RiskOffice, essa mudança nos investimentos terá de ser feita no curto prazo, pois a alternativa, que seria a redução das metas atuariais é muito cara e mais lenta. Os fundos já fizeram pequenas reduções, já que conseguiram acumular superávit desde 2002 por conta de um excelente desempenho em bolsa. Mas esse cenário positivo para os investimentos dificilmente vai se repetir nos próximos anos.

Desde 2006, a meta foi reduzida, em um cálculo médio ponderado por patrimônio, de 6% para 5,8%. Para isso foram gastos entre R$ 10 e 20 bilhões, estima Lovisotto. Nesse ritmo, o sistema precisaria de algo entre R$ 40 bilhões e R$ 80 bilhões para atingir uma meta atuarial de 5% ao ano.

Apesar desses desafios, neste ano o desempenho das entidades tem sido positivo, aponta Guilherme Benites, gerente da consultoria. De acordo com levantamento da RiskOffice, que acompanha uma amostra de 139 planos de benefícios, até junho o retorno global foi de 8,79%. No primeiro semestre, o Ibovespa marcou 37,06% e o CDI acumulou 5,35%.

Ainda segundo estatísticas da consultoria, em junho, a mediana da rentabilidade global dos planos ficou abaixo das principais metas atuariais e do CDI. A rentabilidade foi de 0,3% no último mês. Apenas 3% dos planos obtiveram retorno real acima de 6% e somente 7% conseguiram ganhos superiores a 5%, já descontada a inflação medida pelo INPC. Pouco mais de 30% tiveram rentabilidade negativa no mês.

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