O Globo
Gabriela Valente
BRASÍLIA – Os juros do cheque especial bateram recorde em julho e são os mais altos nos últimos 12 anos. A média paga por quem ficou no vermelho chegou a uma taxa de 188% ao ano. Só no mês passado, a alta dessa taxa foi de 3 pontos percentuais, segundo divulgou nesta quarta-feira o Banco Central (BC).
– O juro do cheque especial reflete o perfil do tomador porque tem taxa diferenciada dentro da mesma instituição – diz o chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ao explicar o motivo de uma alta tão grande sendo que a taxa básica de juros subiu apenas 0,25 pontos percentuais no último mês.
Média de alta dos juros foi de 0,2 pontos
A taxa média de juros das operações referenciais de crédito dos bancos brasileiros subiu de 39,5% em junho para 39,7% em julho, segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira. No mês passado, o volume de crédito concedido a clientes inadimplentes também teve um leve aumento.
A elevação foi puxada pelos negócios com empresas, para quem o custo cresceu 0,6 ponto percentual e situou-se em 31,4% ao ano. Para as famílias, a média recuou 0,4 ponto percentual, a 45,7% ao ano.
Taxa média de inadimplência sobe a 5,2% em julho e engloba quase metade do total emprestado por bancos
O volume financeiro dos contratos com pagamentos em atraso há mais de 90 dias, critério usado pelo BC para medir inadimplência, saiu de 5,1% em junho para 5,2% do total de operações referenciais.
Essas operações, cujo saldo chegou ao fim de julho em R$ 978,5 bilhões, representam cerca de metade do total emprestado pelo sistema financeiro e quase a totalidade das aplicações com recursos livres dos bancos (sem destinação obrigatória).
No segmento de pessoas físicas, a inadimplência subiu 0,2 ponto percentual, fechando julho em 6,6% . Nos empréstimos e financiamentos referenciais a empresas, esse indicador de risco de calote ficou estável em 3,8% pelo segundo mês consecutivo.
Alta do spread médio
O spread médio aumentou 0,1 ponto percentual, para 27,4 pontos percentuais nos dois segmentos somados.
Nas operações com pessoas físicas, a diferença entre as taxas de captação e de aplicação, porém, caiu 0,5 ponto, para 33,1 pontos percentuais em julho. Para as empresas, houve aumento de 0,4 ponto, com spread médio de 19,3 pontos percentuais.
Enquanto a inadimplência é medida sobre o estoque, a taxa de juros e o spread são medidos em relação às concessões do mês.
Empréstimos de bancos públicos crescem mais do que privados
Os bancos públicos continuaram à frente dos privados e lideraram o ritmo de expansão dos empréstimos e financiamentos do sistema financeiro em julho, segundos dados divulgados pelo Banco Central.
Juntos, os ativos de crédito da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do BNDES e de outras instituições estatais somaram R$ 779,534 bilhões no fim do mês, 1,4% além do que eram junho.
Já os privados nacionais viram o saldo de suas operaçoes crescer 0,9% no mês, aumento inferior ao dos privados de controle estrangeiro (1,0%).
No acumulado até julho, os bancos públicos também estão na frente com aumento de 9,2%. Em seguida, aparecem os privados nacionais, com crescimento de 8,6%, e os de controle estrangeiro, com 7,7%.
Deliberadamente turbinadas pelo governo federal como reação à crise mundial de liquidez em 2008 e 2009, as operações dos bancos públicos ainda são as mais expressivas em valores nominais, tendo chegado ao fim de julho em R$ 779,534 bilhões, ante R$ 755,593 bilhões das dos bancos privados nacionais e R$ 319,120 bilhões referentes aos bancos privados de controle estrangeiro.
Empréstimos com mais de 6 meses de atraso têm maior alta
O relatório do BC traz também dados sobre a qualidade do crédito em cada segmento, sob o ponto de vista do risco de inadimplência.
Nos bancos públicos, as operações com classificação de AA até C, consideradas de risco normal e com inadimplência máxima de dois meses, subiram 1,7% em julho, enquanto as de risco 1 (notas de D a G) caíram 5,5% no mês. São classificadas no risco 1 aquelas com parcelas em atraso máximo de seis meses.
As de risco 2 ou H, que subiram 2,0%, são as de maior possibilidade de calote, pois referem-se a devedores com mais de seis meses de pagamentos atrasados.
Nos privados nacionais, a evolução do saldo nesses três grandes grupos de classificação de risco foi, respectivamente, de 0,8 %, 1,2% e 3,8% em julho. Nos privados de controle estrangeiro, as mesmas operações avançaram em 1,0% , 1,4% e 0,9%.
O volume de provisões para risco de crédito continua superior ao dos financiamentos e empréstimos com parcelas em atraso há mais de 90 dias, critério usado pelo BC para medir a inadimplência. No conjunto do sistema, o volume da inadimplência encerrou julho em R$ 64,520 bilhões, 61,7% do total de provisões, que atingiram R$ 104,563 bilhões.
Nos públicos, especificamente, consideradas sempre posições do fim de julho, essa proporção é de 45,14%, nos privados nacionais de 64,33% e nos privados de controle estrangeiro, de 85,86%.
Medida em relação ao total de operações, a inadimplência é considerada irrelevante pelo BC, pois é inferior a centésimo de ponto percentual.
A inadimplência que o BC entende como relevante é a das operações referenciais para apuração de taxas de juros, que corresponde a maior parte das operações com recursos livres dos bancos. O crédito direcionado não entra na apuração dos juros nem desse indicador mais relevante de inadimplência.