Os brasileiros continuam a ser atormentados por juros abusivos em diversas modalidades de financiamento. As taxas médias do cartão de crédito rotativo chegaram a 480,3% ao ano em setembro — a maior registrada pelo Banco Central (BC) desde o início da série histórica, em março de 2011. No caso do cheque especial, o custo dos empréstimos atingiu 324,9% ao ano no mês passado, um recorde desde que a autoridade monetária começou a fazer esse cálculo, em julho de 1994.
Para piorar a situação, a inadimplência não tem dado sinais de arrefecimento. As dívidas dos consumidores em atraso por mais de 90 dias se mantêm em 6,2% desde junho. No caso das empresas, o indicador está em 5,5% desde agosto.
Nas contas do economista Rodrigo Tolentino, do Itaú Unibanco, a inadimplência do crédito com recursos livres, ajustada sazonalmente, aumentou 0,1 ponto percentual para as empresas e teve leve recuo de 0,03 ponto percentual para as famílias, atingindo 5,5% e 6,1%, respectivamente.
Além disso, os spreads bancários — a diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada pelas instituições financeiras — registraram aumento de 60,8 pontos percentuais, o maior da série histórica para empréstimos a pessoas físicas.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, explicou que a diferença no custo dos financiamentos se deve ao risco que as instituições financeiras assumem com as operações, sobretudo com cartão de crédito e cheque especial. “É importante que o cidadão tenha conhecimento de quanto paga no rotativo do cartão de crédito, por exemplo, e use a modalidade de forma cautelosa e por curto espaço de tempo”, destacou.
Maciel ainda lembrou que, em setembro, diante da greve dos bancários, que durou 31 dias, as concessões de crédito desabaram de forma geral, com efeitos maiores sobre as operações direcionadas às famílias. No mês passado, as concessões de financiamento habitacional e de consignados caíram 24% e de veículos, 8,5% na comparação com agosto.
Os dados do BC ainda indicaram que o saldo total das operações de crédito do sistema financeiro ficou em R$ 3,110 trilhões, queda de 0,2%, no mês, e de 1,7%, em 12 meses. O estoque de crédito às famílias diminuiu 0,3%, para R$ 801 bilhões. Os recursos livres às empresas somaram R$ 746 bilhões, com retração de 0,1%.
Os destaques negativos foram os empréstimos de capital de giro (-1,2%) e os adiantamentos sobre contratos de câmbio (-4,8%). “O crédito no mês foi notadamente influenciado por esse fator, não obstante já vir mostrando uma tendência ao longo do ano de desaceleração”, disse Maciel.